Diretor da JBS inclui 12 políticos de MT na lista de “propina disfarçada” de doações em 2014

Folhamax

O diretor do grupo J&F Ricardo Saud, que controla a JBS, revelou os nomes dos políticos do Estado que receberam ajuda financeira da empresa nas eleições de 2014. Em relatório entregue ao Ministério Público Federal (MPF), o delator Ricardo Saud detalhou os montantes pagos a mato-grossenses e a outros 1.819 candidatos de todo o Brasil.

Segundo ele, os pagamentos eram propinas disfarçadas de doações legalizadas. Ricardo Saud entregou ao MPF uma lista com os nomes de todos os políticos que teriam recebido doações da JBS.

Entre eles estão um senador, seis deputados federais, três deputados estaduais, um secretário de Estado e um candidato ao governo do Estado. De acordo com a lista de Saud, o deputado federal Carlos Bezerra (PMDB) teria recebido R$ 1 milhão em benefício próprio, que seriam utilizados para sua campanha em 2014.

Ele recebeu R$ 500 mil diretamente da JBS e outros R$ 500 mil por intermédio do diretório nacional do PMDB. Além disso, conforme dados do Sistema de Prestação de Contas Eleitorais (SPCE), do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Bezerra também teria, por meio de doações da JBS, entregado dinheiro a membros da coligação do PMDB em 2014.

Ele teria dado R$ 77 mil ao deputado estadual Allan Kardec (PT), que não é mencionado na lista da JBS. Na bancada federal de Mato Grosso, também receberam doação da empresa: os deputados Ságuas Moraes (PT), que teria conseguido R$ 150 mil, por meio do diretório estadual do partido; Victório Galli (PSC), que teria obtido R$ 30 mil, também pelo diretório estadual da sigla; Valtenir Pereira (PMDB), que teria conseguido R$ 50 mil por meio do diretório nacional do PROS, ao qual pertencia durante as eleições e Fábio Garcia e Adilton Sachetti, ambos do PSB, que teriam obtido, respectivamente, R$ 150 mil e R$ 50 mil, por meio do diretório estadual do partido.

O secretário de Trabalho e Assistência Social (Setas), Max Russi, que pertence ao PSB, também teria se beneficiado com dinheiro da JBS em 2014, quando foi eleito deputado estadual. Conforme o relatório, ele recebeu R$ 50 mil. O valor teria sido obtido por meio do diretório estadual da legenda.
Entre os deputados estaduais, o relatório aponta que os beneficiados com montantes repassados pela JBS foi o parlamentar Mauro Savi (PR), que teria recebido dois pagamentos do deputado Federal Carlos Bezerra, sendo o primeiro de R$ 5,4 mil e o outro de R$ 1.337,50 mil. Já o presidente da Assembleia Legislativa do Estado, Eduardo Botelho, teria conseguido o maior valor entre os parlamentares estaduais. Ele recebeu R$ 350 mil do frigorífico.

O senador Wellington Fagundes (PR) também é mencionado na lista do delator. Conforme levantamento no SPCE, Fagundes teria sido o parlamentar que recebeu o maior volume de dinheiro da JBS entre os políticos do Estado. Ele teria recebido R$ 1,4 milhão em três parcelas, sendo todas recebidas por meio do diretório do PR.

A primeira delas teria sido em 17 de julho de 2014, de R$ 500 mil. Em 17 de setembro do mesmo ano, outra doação de R$ 400 mil foi feita à sua campanha. No dia 2 de outubro, três dias antes da eleição, foi feito o último aporte, desta vez de R$ 500 mil, na conta de campanha do republicano.

Dos valores que recebeu do frigorífico, Fagundes teria entregue cerca de R$ 34 mil para o então candidato ao governo do Estado, o ex-vereador Lúdio Cabral (PT). O petista também teria recebido R$ 475 mil da JBS para a campanha de 2014, por meio do diretório nacional do partido.

Todos os pagamentos que foram feitos aos parlamentares do Estado e que foram mencionados pelo delator foram declarados à Justiça Eleitoral.

PROPINAS DISFARÇADAS

Durante depoimento ao MPF, Ricardo Saud contou que a JBS pagava tanta gente, sem direcionar a partido A ou B, sem preocupações ideológicas. Ele disse que a política da empresa era fazer “reservatório de boa vontade”, ou seja, doações mesmo sem contrapartida prévia. Saud relatou que os valores entregues aos políticos tinham o objetivo de que a empresa conseguisse benefícios futuros em todo o País.

O delator ainda detalhou que muitos pagamentos eram dissimulados. Segundo ele, dos mais de R$ 500 milhões doados a políticos pela empresa, apenas de R$ 10 a R$ 15 milhões não eram propinas. Saud explicou que os montantes eram repassados em contas no exterior, em espécie, e as quantias eram levadas em malas e bolsas.

De acordo com o delator, as propinas eram disfarçadas de doações oficiais ou por meio de dinheiro entregue legalmente por empresas ligadas aos políticos.