197 devem morrer nesta semana com o horário de verão, diz pesquisa

Artigo publicado na Revista Economics Letters pelo professor da Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat) Weily Toro Machado afirma que existem fortes evidências de que o horário de verão, iniciado desde a meia-noite de hoje (18), aumenta em 8,5% o número de mortes por infarto nas primeiras semanas. São coautores do artigo os professores Robson Tigre e Breno Sampaio.

O primeiro capítulo da tese de Weily, com o título ‘Daylight Saving Time and incidence of Myocardial Infarction: Evidence from a regression discontinuity design’ (Horário de verão e a incidência de Infarto do Miocárdio: Evidências de um projeto de descontinuidade de regressão) aponta ainda que a incidência de morte por infarto é maior entre as pessoas com mais de 60 anos de idade. “Num período de sete dias haveria 197 mortes a mais, no Brasil, nos estados do Sul, Sudeste e Centro-Oeste”, afirma Weily.

Segundo o autor do artigo, a explicação estaria na mudança imposta pelo horário de verão quando as pessoas passam a dormir uma hora a menos nas primeiras semanas. Isso provoca uma alteração no ‘relógio biológico’ dos indivíduos. “Usando dados diários para o Brasil analisamos os efeitos da privação do sono sobre a incidência das mortes provocadas pelo Infarto Agudo do Miocárdio”, sustenta o professor.

Nesse sentido, Weily explica que foi encontradas evidências robustas de que aumentam essas mortes nos estados que adotam a política do horário de verão, “e nenhuma significância estatística entre os estados que não praticam”, explicouo autor do artigo que considerou em sua pesquisa os horários de verão entre os anos de 2007 e 2012 em todos os estados das três regiões brasileiras que o adotam.

Como forma de checar a robustez do resultado, a pesquisa constatou que o mesmo fenômeno não ocorre ao final do Horário de Verão e nem em semanas que antecedem seu início.

A área de estudo Econometria proposta pelo doutorado da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) aborda, entre outras questões, as influências de políticas públicas na economia. “O Método Econométrico utilizado permitiu comparar duas semana antes e após o início do horário de verão, demonstrando o efeito causal da política”, explica Weily.

Segundo ele, o horário de verão é um bom experimento natural para analisar impactos no cotidiano das pessoas, pelo caráter exógeno que tem em nossas vidas. “No caso especifico do infarto, utilizamos o método Regression Discontinuity Design, mais preciso e adequado para este tipo pesquisa, especialmente por levar em conta tendências temporais e variações da taxa de infarto entre os dias da semana” afirma o professor Breno Sampaio.

Foram coletados dados diários de mortes provocadas por infarto para cada estado, no Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM) do departamento de informática do Sistema Único de Saúde do Brasil, SIM/DATASUS.

Segundo o pesquisador Robson Tigre mais de 70 países utilizam o horário de verão com o intuito de redução de consumo de energia elétrica, afetando mais de 1,5 bilhão de pessoas. “Esta pesquisa é inédita para o Brasil e a primeira a usar essa metodologia que permite identificar a causalidade”, afirma Robson.

Com o horário de verão, o governo deve deixar de gastar R$ 7 bilhões, devido à distribuição dos picos de energia, entre 18h e 21h. Dessa forma, não existe economia na conta do consumidor.

A pretensão do professor Weily com a divulgação de seu trabalho é contribuir para as discussões do tema que é muito controverso e debatido no Brasil e no mundo. “O custo social desse aumento pode representar em um período de 10 anos algo em torno de R$ 7,9 bilhões a R$ 19,6 bilhões de dólares”, citou o pesquisador referindo-se ao valor que estes indivíduos gerariam de renda ao longo de sua estimativa de vida.

Revista

A Revista Economics Letters é considerada uma das 50 revistas mais importantes de economia no mundo pelo site americano Ideas e classificada no Qualis/Capes como A1 nas áreas de Administração, Ciências Contábeis e Turismo. Criada em 1978, a Economics Letters já publicou artigos de mais de 10 prêmios Nobel de Economia.

O resultado da pesquisa também foi publicado no jornal britâncio Mail Online News . (Com Assessoria)