Delegado usa o próprio dinheiro para alimentar presos em MT

Desde o fechamento da Cadeia Pública de Vila Rica, em 2013, os presos estão ficando provisoriamente na delegacia do município. O delegado Gutemberg Almeida diz que está tirando dinheiro do próprio bolso para custear a alimentação deles. Revoltado, ele denunciou a situação precária.

O preso, que deveria ser encaminhado para um presídio em poucos dias, acaba ficando na delegacia por meses à espera de transferência. Segundo o delegado, as condições de higiene são precárias e não há veículo para transporte ou recursos para alimentação. Ele disse que gasta, em média, R$ 200 por mês com as refeições dos presos.

Atualmente, seis pessoas estão na delegacia, sendo três mulheres e três homens. Uma das detidas está grávida de oito meses. Os presos ocupam duas celas separadas que teriam capacidade para, no máximo, cinco pessoas. No entanto, o local já chegou a abrigar 17 pessoas, como no final de 2015.

A Secretaria de Justiça e Direitos Humanos do Estado (Sejduh) informou que irá se pronunciar sobre o caso nesta sexta-feira (22). “Na cadeia, havia um sistema para o transporte e a alimentação dos presos. Na delegacia, isso não existe. A alimentação deles é feita por nós e pela família de cada um. Eu também tiro no meu bolso, faço comida em casa e trago para eles. Hoje por exemplo vou ter que trazer [a refeição] de casa de novo”, afirmou.

“Os presos da delegacia ficam praticamente sem ver o sol, porque não temos como fazer o banho de sol. As celas não tem colchão, eles dormem no chão. As condições de higiene são precárias. Apenas a cela das mulheres tem uma ducha, mas a dos homens não. Eles tomam banho de mangueira. Passamos a mangueira por dentro da delegacia”, declarou.

Gutemberg também se diz preocupado com as condições inseguras para transferência dos detidos. “Todo preso fica na delegacia até que seja removido para a cadeia de Água Boa, que fica a 500 km daqui. Com a interdição [da cadeia], eles ficam sob a custódia da Polícia Civil. O transporte é feito nas nossas viaturas e não tem segurança nenhuma. O preso vai sentado no banco de trás”, explicou.“Às vezes dois [policiais] se deslocam em condições de risco com até três presos na viatura. Vai mais preso do que policial”, ironizou Gutemberg.

De acordo com o delegado, policiais civis da delegacia estão fazendo o trabalho que seria de competência da Sejudh.

Ele diz que enviou ofícios e já comunicou a situação à Sejudh e a própria Polícia Civil. No entanto, sem respostas práticas, viu-se obrigado a “se virar” para dar comida aos presos. As refeições às vezes são obtidas por meio de doações de comerciantes e donos de restaurantes.

Para o delegado, a situação atrapalha as investigações dos policiais e a solução dos crimes que ocorrem na cidade. “Essa situação nos atrapalha, e nosso trabalho fica prejudicado. No dia que tem transporte de preso, por exemplo, a delegacia não trabalha. Temos uma detenta que está na delegacia desde novembro, porque a unidade feminina de Água Boa fechou”, lembrou. (Folhamax)