Seis índios são eleitos vereadores em Mato Grosso

Folhamax

Pelo menos seis indígenas foram eleitos vereadores em Mato Grosso, onde vivem cerca de 35 mil pessoas de 43 etnias.

Entre os eleitos está a estudante Érika Negorotê (PRB), de apenas 18 anos, escolhida pelos eleitores de Comodoro, na fronteira com a Bolívia.

Candidata da coligação PRB/DEM/PT, a nambiquara teve 264 votos, assegurando a 9ª de 11 cadeiras na Câmara Municipal.

“Não sei descrever o tamanho da gratidão e felicidade que estou sentindo”, disse ela, ao saber da vitória.
“Política não se faz com grande discurso, nem bonito, se faz trabalhando. Honrarei cada voto que levei!” – comentou no Facebook.

No caso dela, além de indígena, pertence a outro grupo minoritário na política: é mulher.
Também foi eleito, na região norte, o indígena Mutua Mehinaku, do povo Kuikuro, em Gaúcha do Norte, pelo partido Solidariedade (SD).

O professor Mutua, de 36 anos, ganhou a eleição prometendo representar os povos de 38 aldeias do Alto Xingu, que cobram principalmente a melhoria de estradas entre as reservas e a cidade e também atendimento básico de saúde.
“Aqui estamos em festa”, diz ele, que é casado, nos moldes da cultura Kuikuro, e tem cinco filhos.

“Moro na aldeia mas ano que vem família vai morar na cidade, onde tem trabalho agora, depois de ser eleito”, comentou com o GD por telefone.

A região do Araguaia fez quatro vereadores, sendo três xavantes: Leonardo (PV), em Santo Antônio do Leste, Vanderlei (PSDB), em Bom Jesus, e Libércio (PV), em Campinápolis, além de Cláudio Karajá, em Luciara (SD).
A Federação dos Povos Indígenas de Mato Grosso está agendando uma reunião com todos os eleitos para alinhar as pautas.

O indigenista Marcio Carlos Vieira Barros, da Fundação Nacional do Índio (Funai) há 30 anos, diz que a política do governo federal é de incentivo à participação social.

“É bom que participem de conselhos, movimentos de classe e também saiam candidatos”, comenta o indigenista. “O indígena é um brasileiro como outro qualquer, um cidadão, com direitos e deveres”.

Segundo ele, a luta pela terra e a saúde são as bandeiras principais em comum entre os indígenas locais.
Ainda de acordo com ele, há alguns pontos de tensão entre indígenas e não-indígenas em Mato Grosso, mas também há muitos outros pontos onde são bem aceitos socialmente e há integração.

Ele não descarta porém o racismo e a aversão aos povos indígenas – uma das pautas que devem ser trabalhadas pelos vereadores eleitos.