Suspeito de ocultar corpo de mulher que sumiu após ritual morre em GO
Do G1 GO
Líder do Instituto Céu do Patriarca e Matriarca em Goiânia, o policial militar aposentado Cláudio Pereira Leite, indiciado por ocultar o corpo da auxiliar de enfermagem Deise Faria Ferreira, 41 anos, que sumiu após um ritual da seita, morreu na segunda-feira (2) em um hospital da capital. O outro envolvido no crime, o engenheiro Antônio David dos Santos Filho, de 40 anos, foi morto na cadeia, em março de 2016.
Cláudio tinha 42 anos e estava internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital São Francisco. De acordo com o advogado dele, Cláudio Albuquerque, o PM aposentado morreu por causa do agravamento da diabetes, que levou à falência do pâncreas. O corpo dele foi enterrado no mesmo dia no Cemitério Park, em Anápolis, a 55 Km de Goiânia.
O PM aposentado respondia ao crime em liberdade desde 17 de março do ano passado, quando deixou o Presídio Militar. De acordo com o alvará de soltura assinado pelo juiz da 1ª Vara Criminal, Jesseir Coelho de Alcântara, não havia motivos para mantê-lo detido.
Com a morte de Cláudio, a ação contra ele deve ser arquivada. “Extingue-se a punibilidade. Para qualquer procedimento, eu juntarei o atestado de óbito e o processo será arquivado”, explicou o advogado.
Desaparecimento
A auxiliar de enfermagem sumiu no dia 11 de julho de 2015, após ir até uma chácara, na capital, para participar de um ritual. A família dela só foi comunicada do desaparecimento quase 24 horas depois de ela ter sido vista pela última vez, quando Antônio, que também participava do ritual, foi devolver o carro da vítima na casa dela.
Segundo a Polícia Civil, a mulher frequentava a seita Daime cerca de três meses antes do desaparecimento e teria bebido diversas vezes o chá da ayahuasca – usado nos rituais religiosos e conhecido por possuir efeitos alucinógenos. Segundo os policiais, à família foi dito que ela desapareceu após ingerir o chá, durante um ritual.
O Corpo de Bombeiros realizou as buscas por Deise na região em que ela desapareceu por quase uma semana, mas nada foi encontrado. Parentes também participaram das ações, que foram em vão.
Durante as buscas foram encontradas peças de roupa com manchas próximas à chácara em que ela foi vista pela última vez. A Polícia Civil realizou testes e concluiu que a substância não era sangue, mas não soube precisar o que teria gerado a mancha.
Investigação
O delegado Thiago Damasceno, que cuidou do inquérito disse, na época, que Antônio também tentou simular o desaparecimento de Deise ao jogar roupas da vítima em uma fazenda vizinha ao local onde ocorria o ritual. As peças tinham sido usadas pela vítima durante o ritual. Entretanto, a auxiliar de enfermagem trocou de roupas antes de desaparecer.
“Nosso primeiro questionamento foi: se a Deise não estava usando as roupas encontradas na fazenda quando deixou a chácara, o que ela vestia? Foi aí que uma testemunha nos relatou quais eram as roupas quando ela passou pelo portão e sumiu”, contou o delegado.
Ainda segundo o investigador, a blusa descrita por essa mesma testemunha foi encontrada dentro do veículo de Deise. “Ao sair da chácara na noite que ela desapareceu, ele [Antônio] encontrou com ela. A principio ele narrou que teria saído da chácara e não mais visto a Deise. Mas isso foi desconstruído no momento em que provamos que uma das peças de roupa que ela usava retornou dentro do veículo”, concluiu o delegado.
O corpo de Deise nunca foi encontrado. Antônio e Cláudio haviam sido presos em janeiro de 2016.
A Polícia Civil indiciou o engenheiro por homicídio e ocultação de cadáver. Já Cláudio por ocultação de cadáver.
Morte de Antônio
O engenheiro agrônomo foi morto em 9 de março do mesmo ano, em uma cela da Central de Triagem do Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia. Segundo a a Superintendência Executiva de Administração Penitenciária (Seap), dois presos assumiram o crime. Após a confissão, eles foram levados à Polícia Civil para serem autuados pelo homicídio.
De acordo com o perito criminal Ricardo Matos, que esteve no presídio logo após a morte, o engenheiro agrônomo foi vítima de espancamento. “Ele estava completamente amarrado, inclusive os membros superiores e inferiores, totalmente imobilizado”, contou.
Ele afirmou que os detentos se revoltaram pelo crime do qual Antônio é apontado como autor, que é o assassinato de Deise.