Cresce índice de menor no crime e delegado é contra maioridade penal
É cada vez maior o número de menores envolvidos com o tráfico e consumo de drogas em Barra do Garças. Os casos têm sido frequentes e já preocupam a Delegacia Especializada da Criança e do Adolescente (Deca) do município. Além de usuários, os menores tem sido também recrutados para servir pontos de venda de entorpecentes, as chamadas bocas de fumo.
De acordo com a Deca, em 2016 foram registrados 44 procedimentos por tráfico envolvendo menores e 107 por uso de drogas. Neste ano, a média diária de casos aumentou, tendo em vista que de cinco procedimentos instaurados por dia, a maioria se relaciona ao entorpecente e envolve faixa etária entre 15 e 17 anos.
Localizada em uma região de fronteira com o Estado de Goiás, o fator geográfico, conforme a Polícia Civil, colabora para que os adolescentes caiam no submundo das drogas. “Além disso, Barra é uma cidade turística e junto com Aragarças (GO), reúne um grande número de usuários. Isso acaba influenciando os menores”, ressalta o delegado titular da Deca, Delson Rodrigues de Moura Lopes.
A maior preocupação, segundo o delegado, é justamente o envolvimento direto com o tráfico, uma vez que alguns menores já praticam a comercialização do entorpecente. Conforme ele, existe um trabalho conjunto com a Promotoria da Infância e Juventude, inclusive, com casos de internações de menores envolvidos com o tráfico, mas isso por si só não basta. Por isso, defende o combate na raiz por meio de um conjunto de medidas.
“Em média, atendemos entre cinco a seis casos aqui na delegacia, nem todos envolvem diretamente as drogas, contudo, estão atrelados, como são os casos de pequenos furtos voltados para abastecer as bocas de fumo, ou seja, os objetos furtados são trocados por substâncias entorpecentes”, explica.
Recrutamento
De acordo com o delegado, houve aumento no recrutamento de menores para o transporte de drogas, principalmente, nas bocas de fumo em Barra e em Aragarças, Goiás. Adolescentes estão sendo usados para buscar entorpecentes no Estado vizinho para abastecer os pontos.
Em Barra do Garças, somente em janeiro a Polícia Militar registrou dois casos em que menores estavam a serviço do tráfico. O primeiro foi registrado no setor Novo Horizonte, onde quatro adolescentes trabalhavam no monitoramento de uma boca de fumo com o uso de binóculos para visualizar a aproximação da polícia. O segundo foi no bairro Sena Marques, onde um homem de 62 anos, com as iniciais A.M.M., cooptava menores para o comércio de drogas na boca que ele comandava.
Maioridade penal
A redução da maioridade penal como forma de responsabilizar os adolescentes pelos crimes praticados, na opinião de Delson, não é a solução. Segundo ele, é preciso que a sociedade participe de iniciativas que possam reinserir os jovens em programas sociais e, assim, tirá-los do mundo do crime.
“A sociedade civil organizada, as organizações, seja governamentais ou não, devem trabalhar em parceria com polícia e o Ministério Público justamente no sentido dos jovens que estejam iniciando no mundo das drogas, se envolvam em projetos educativos no esporte ou em escola de período integral. É preciso unir a família com a escola, a segurança e os meios de saúde, pois só assim vamos conseguir fazer algo eficaz e não apenas paliativo”, pondera.
O delegado acredita também que, com a redução da maioridade, a tendência é aumentar ainda mais a superlotação nos presídios. “Com todo esse inchaço populacional no sistema penitenciário, vai é aumentar ainda mais a população carcerária, dificultando os julgamentos pelo Poder Judiciário. Vai aumentar muito os processos que serão encaminhados para as varas criminais e dificultar cada vez mais as ações do governo para reduzir essa participação dos adolescentes em delitos”, conclui. (FA/RDNews)