Grupo teme delação de ex-comandante da PM-MT; coronel diz ser “arquivo vivo”

Folhamax

O grupo que faria parte de uma suposta organização criminosa que estaria por trás das interceptações telefônicas ilegais em Mato Grosso preso na última quarta-feira (27) por determinação do desembargador Orlando Perri durante a deflagração da “Operação Esdras” teme um acordo de colaboração premiada do ex-comandante da Polícia Militar, Zaqueu Barbosa, preso desde o dia 23 de maio. Zaqueu Barbosa foi denunciado pelo Ministério Público como o líder do grupo que realizou interceptações clandestinas no Estado.

A revelação é do tenente-coronel José Henrique Costa Soares, escrivão do Inquérito Policial Militar e foi repassada durante o depoimento à Polícia Civil nos inquéritos que apuram a atuação da suposta organização criminosa. “Perguntavam sobre vários aspectos do processo. Se ia ter delação ou não do Zaque. Se ia haver mais indiciamento. Se o Siqueira corria risco de ser preso”, disse numa referência ao secretário afastado de Justiça e Direitos Humanos, Airton Benedito Siqueira.

O tenente-coronel chegou a ser cooptado pelo grupo, que pretendia levantar a suspeição do desembargador Orlando Perri, relator do caso no Tribunal de Justiça de Mato Grosso. Soares admitiu que chegou a realizar gravações em áudio do magistrado.

Porém, foi exigido que fizesse uma gravação áudio visual, por meio de uma câmera que seria acoplada em sua farda. Em troca, receberia uma promoção na carreira militar.

Após resolver colaborar com as investigações, Soares pediu para ser incluído no programa de testemunhas. O pedido ainda está sendo analisado pelo Judiciário.

ARQUIVO VIVO

Soares e sua família chegaram a ser ameaçados por um membro da quadrilha. Ele afirma que teme pela sua vida. “Sou um arquivo vivo que para eles tem que estar morto”, assinalou em depoimento aos delegados Ana Cristina Feldner e Flávio Sntringuetta.

Na decisão que deflagrou a “Operação Esdras”, Orlando Perri relatou uma ameaça explícita do coronel Evandro Lesco a Soares. A ameaça ocorreu após o tenente-coronel chegar a “furtar” o celular do ex-secretário da Casa Militar e da esposa dele, a personal Helen Crysti Lesco.

O episódio também teve a participação da ex-primeira-dama e advogada Samira Martins. “O Lesco liga para mim e fala: olha, não sei se você pegou meu celular porque só pode ter sido você, os dois celulares daqui sumiram, eu não sei se foi você, mas só pode ter sido você, porque só você esteve aqui. Eu não sei se você pegou por má-fé ou se você pegou por distração. Eu só quero saber o seguinte, devolva, porque seu filho está correndo risco de vida”, confidenciou.

A Polícia Judiciária Civil (PJC) deflagrou na última quarta-feira a operação “Esdras” que cumpriu 8 mandados de prisão preventiva, um de coercitiva e 15 de busca e apreensão contra uma suposta organização criminosa que seria responsável por interceptações telefônicas ilegais realizadas no Estado. Foram presos a personal trainer Helen Christy Lesco, o secretário de Justiça e Direitos Humanos, coronel Airton Benedito Siqueira Junior, o coronel Evandro Lesco, o sargento João Ricardo Soler, o secretário de Estado de Segurança Pública (Sesp-MT), Rogers Jarbas, e o ex-secretário da Casa Civil, Paulo César Zamar Taques.

Entre as acusações que pesam contra o grupo esta a suposta tentativa de afastar o desembargador Orlando Perri da relatoria da ação no TJ-MT por meio de gravações que pudessem comprometer a “imparcialidade” do magistrado na condução do processo. Os grampos se tornaram públicos após duas reportagens do Fantástico que descortinaram uma central clandestina de inteligência da polícia militar que quebrou o sigilo telefônico de advogados, jornalistas, de uma deputada estadual e até mesmo de membros do Ministério Público Estadual (MP-MT).