Tráfico de drogas sintéticas aumenta e já está preocupando polícias e os médicos
Francis Amorim/RDNews
Fáceis de transportar, voltadas a um público de poder aquisitivo maior e sem relação com os altos índices de violência atribuídas a cocaína e a maconha, aos poucos as chamadas drogas sintéticas, fabricadas em laboratórios, ganham mercado na região de Barra do Garças. Registros de apreensões já feitos e a diversificação do tráfico está preocupando as autoridades policiais.
Nos últimos 12 meses, a Polícia Militar tem realizado apreensões frequentes desse tipo de droga que até então eram raras na região, conhecida como uma das rotas para o tráfico de cocaína, pasta-base e maconha para o centro-sul do país. Em 2017, foram dois registros e neste ano, três ocorrências do gênero, o que tem chamado à atenção.
Segundo o comandante do 2º Batalhão de Polícia Militar (2º BPM), major Flávio Pereira Diniz, o uso de uma nova rota a partir de Chapadão do Sul, na divisa de Mato Grosso do Sul e Goiás, passando por Cassilândia (MS), Serranópolis e Jataí (GO), tem ‘facilitado’ a chegada desse tipo de droga em Barra do Garças. A droga vem do Paraguai e entra por essa rota.
“Comandos de Divisas foram instalados pela PM de Goiás em vários pontos do Estado, mesmo assim alguns carregamentos passam, pois, como são drogas pequenas (em cartelas), se tornam fáceis para o transporte, como foi o caso das últimas apreensões que foram realizadas pela Polícia Militar em Barra do Garças. E outro agravante: os traficantes tem usados menores para esse tipo de tráfico”, enfatiza o oficial.
Ele aponta que a PM tem atuado diariamente na repressão do tráfico de drogas em Barra do Garças e Pontal do Araguaia, e conta com o auxílio do Serviço de Inteligência do Comando Regional 5 para ‘frear’ o tráfico. “Esse trabalho tem colaborado para o êxito alcançado”.
Somente em 2018, a PM já apreendeu 150 comprimidos de ecstasy e 34 porções de LSD, duas drogas sintéticas de alto poder devastador no ser humano. A maior quantia, 130 comprimidos de ecstasy, ou ‘bala’, como são conhecidos, foi apreendida com um menor de 17 anos.
Festas Rave
Direcionadas ao público jovem e na maior parte, de classes média alta, as drogas sintéticas são conhecidas por circularem nas famosas festas rave, baladas onde “rola muita droga”, define a polícia. Em Barra do Garças, esse tipo de festa não é tradição, porém, a cidade é uma das campeãs no Estado em promover eventos “open bar”, com a bebida liberada, porta de entrada para esse tipo de droga.
“A Polícia Civil está investigando a origem dessas drogas sintéticas. Quem compra, quem traz e qual o público alvo. As festas open bar serão fiscalizadas para que a juventude não seja contaminada com esse tipo de droga”, alerta o delegado regional de Barra do Garças, Adilson Gonçalves. Segundo ele, as apreensões realizadas pela Polícia Militar que envolvem maiores já foram transformadas em peças de inquéritos.
De acordo com o delegado, por ser uma região de fronteira, formada por três cidades, com aproximadamente 100 mil habitantes, a procura por esse tipo de droga tem aumentado, principalmente, entre a classe estudantil, público das festas “open bar”.
Além das Polícias Civil e Militar, a Polícia Federal, também tem atuado na repressão a esse tipo de droga. A apreensão de 34 porções de LSD, realizada em Pontal do Araguaia, contou com a colaboração de quatro agentes federais que monitoraram a chegada do carregamento.
Efeito
O médico Paulo Sérgio da Silva afirma que o ecstasy age diretamente no cérebro da pessoa, promovendo alterações que vão da euforia a depressão. “Sua ação dura entre três e quatro horas e as consequências são devastadoras, que podem levar a morte diante da forma agressiva que age.”
Considerada uma das drogas sintéticas mais potentes já produzida, o efeito do LSD não difere do Ecstasy. Segundo o médico, uma dose de LSD injetada no sangue desencadeia uma onda de mudanças no cérebro da pessoa. “Os efeitos são diversos, como aumento dos batimentos cardíacos, da pressão arterial, dilatação das pupilas, insônia, além de provocar sensações de euforia”.
Os registros de apreensões dessas drogas em Barra do Garças preocupa o médico. Paulo Sérgio relata que todos os entorpecentes são nocivos à saúde humana, mas as chamadas drogas sintéticas, que não recebem a mesma atenção da cocaína e da maconha, acaba por induzir jovens ao consumo sem o conhecimento do que elas são capazes.
Valores
As polícias optaram pela não divulgação de valores relativos às drogas para não despertar para o comércio.