Dois PMs são presos suspeitos de matar jovem e fraudar troca de tiros em Aragarças
G1 GO
Dois policiais militares foram presos nesta terça-feira (26) suspeitos de matar o vendedor Jefferson Alves Martins, de 23 anos, e fraudar um confronto, em Aragarças, na região oeste de Goiás. Áudios enviados pelo jovem a parentes indicam que ele já estava preso quando foi baleado (ouça abaixo).
“A análise preliminar dos celulares indica que os áudios são verdadeiros. Eles reforçam que não teve confronto, mas sim um homicídio”, disse ao G1 o promotor de Justiça Leandro Murata, coordenador do Grupo Especial de Controle Externo da Atividade Policial (Gceap) do Ministério Público de Goiás.
A reportagem pediu um posicionamento à PM sobre as prisões, mas não obteve retorno até a publicação desta reportagem.
Jefferson foi morto em 9 de fevereiro. Na ocasião, os policiais relataram que foram recebidos a tiros pelo rapaz antes mesmo de o abordarem, em uma estrada de terra.
Na madrugada do dia seguinte, sete ônibus escolares, um carro do IML e uma ambulância foram queimados no pátio da prefeitura. A Polícia Civil apurou que o incêndio foi cometido em protesto à morte do vendedor e cinco pessoas foram presas.
Os áudios que questionam a versão dos policiais começaram a circular em redes sociais no mesmo dia em que Jefferson morreu. No dia 13, parentes da vítima levaram as gravações para a Polícia Civil e o MP-GO.
As prisões temporárias dos policiais foram determinadas pelo Poder Judiciário após pedido do MP-GO. Murata explicou que, além das gravações, ameaças também justificaram a solicitação.
“Duas testemunhas e três parentes estavam recebendo ameaças de morte. Uma delas disse que foi abordada diretamente pelos dois policiais. As outras não puderam afirmar porque receberam ‘recados’ indiretamente”, explicou o promotor.
Conforme o MP-GO, foi oferecido o Serviço de Proteção à Testemunha às pessoas que denunciaram as ameaças. No entanto, cabe a elas aceitar.
De acordo com Murata, por enquanto, não há indícios da participação de outros PMs no crime. A investigação continua. “Aguardamos a perícia dos celulares, vamos requisitar a reconstituição dos fatos, temos mais testemunhas para serem ouvidas e o interrogatório dos suspeitos”, enumerou.
A Polícia Civil também investiga a suposta fraude na cena do crime. O G1 tentou contato com o delegado Ricardo Galvão, responsável pelo caso, para saber sobre o andamento do inquérito e aguarda retorno.
Confira transcrição dos áudios
Para a mãe:
Oi, mãe. Estava em casa quando um colega meu me ligou. Para ajudar ele com um carro que tinha estragado no rumo da fazenda, mas ele tinha era roubado a fazenda. Aí o povo foi e me pegou aqui, a polícia está comigo aqui. O PM Tadeu, entendeu? Aí estão correndo atrás do cara.
Não sei se vou ficar preso, mas pelo jeito eu vou. A senhora já conecta a advogada. Eu estou aqui para frente do Córrego das Mouras. Na fazendo do Júnior.
Para a namorada:
Oi, amor. Vim aqui ajudar um amigo meu perto do Córrego Grande, achei que o menino estava só com o carro estragado e o menino tinha era roubado uma fazenda. A polícia me pegou aqui. Estão correndo atrás para ver se acham o menino. Já sabem quem foi que roubou, entendeu.
Não sei se eu vou sair ou se estou preso. Estou te avisando que é por isso que eu sumi. Estava dormindo, eram 5h30 quando o menino me ligou, falou que o carro dele estava estragado, peguei a ‘motinha’ do meu pai e fui.