Idosa mordida por onça ao salvar cachorro disse que só foi socorrida 6h depois, em Bom Jardim

G1 GO

Após ter sido mordida por uma onça parda, Delfina Maria dos Santos, 76 anos, está de volta na casa onde vive há 60 anos com o marido Benedito Gregório dos Passos, de 90, às margens do Rio Piranha, na zona rural de Bom Jardim de Goiás, no sudoeste do Estado. Junto deles está o “Bobinho”, o cão de estimação que a idosa lutou contra a onça para salvá-lo. A idosa, que arriscou a própria vida, foi socorrida seis horas depois do ataque, quando um fazendeiro apareceu no local. O marido dela não sabe usar o celular.

Foi o marido que alertou a idosa sobre a presença da onça atacando o galinheiro no quintal da casa deles. “Aí eu gritei; não encosta na tela não, meu bem. É uma onça, eu achei que era um cachorro, mas depois eu vi que era uma onça mesmo”, disse o idoso.

Já Delfina pensou inicialmente se tratar de outro animal silvestre. “Eu falei ‘não é jaguatirica não’, é onça”, contou ela.

Só que antes da idosa tentar afastar a onça, o “Bobinho” avançou no animal, segundo ela, e foi abocanhado pelo felino. A idosa correu e pegou um facão para espantar o bicho.

“Aí eu comecei a golpear a onça para salvar o Bobinho. Eu enfiei a mão assim (na tela) para furar ela com o facão, para furar ela, que estava agarrada no cachorrinho lá, aí ela soltou e veio na minha mão. Aí eu comecei a puxar ela agarrada na minha mão. Salvou né. Salvei o meu cachorrinho”, contou Delfina.

Luta pela vida
Enfrentar a onça não foi o único desafio da idosa no dia do acidente. Ela teve que lutar pela própria vida depois de perder muito sangue. Segundo contou, o ataque foi por volta das 9h da quinta-feira (6), mas ela só foi socorrida por volta das 15h por uma equipe do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) de Piranhas, cidade vizinha que fica a mais 50 km do local onde estava a vítima.

Ela estava sozinha com o marido e os dois são analfabetos. Dos dois, apenas a idosa sabe mexer no celular. Mas, como estava desacordada após perder muito sangue, ela só foi socorrida após a chegada, por acaso, de um fazendeiro que mora na região.

Segundo a filha do casal, Deusilene Maria dos Passos, a mãe foi salva por um milagre.

“Veio um fazendeiro aqui, ele mora bem longe, muito tempo que não aparecia por aqui. Ele chegou por volta de 13h. Disse que Deus tocou no coração dele pra vir. Quando chegou, me ligou desesperado dizendo: ‘acho que sua mãe vai morrer’. Nossa, eu fiquei desesperada”, contou.

O desespero foi maior ainda porque, segundo ela, estava a 500 km dos pais.

“Estava longe. Lá em Goiânia. Na mesma hora liguei para minha irmã que mora em Piranhas. Tentei ajudar de todas as formas. E como já fiz curso de enfermagem, liguei de novo para esse fazendeiro e disse: ‘pega uma corda, um pano, qualquer coisa, e estanca a ferida dela. Conta no relógio 15 minutos, e depois solta. Repita isso por mais vezes até o Samu chegar’. Ele ajudou muito”, relatou a filha.

Socorro
O resgate dela foi feito inicialmente pelo Samu para o Hospital Municipal Santa Clara, em Bom Jardim de Goiás. De lá, a idosa foi transferida para o Hospital Cristo Redentor, onde foi atendida pelo médico Elias Gabriel de Almeida Júnior.

A idosa, que tinha feito aniversário um dia antes do ataque, precisou levar 14 pontos internos e externos na mão.

Trabalhando como médico há sete anos e há 4 meses na unidade de Piranhas, o médico disse nunca ter atendido um caso como esse antes. “Já ouvi falar de ataque que a pessoa morreu. Ela teve sorte porque o ataque não foi no pescoço”, afirmou.