Com doença grave no fígado, mulher recebe órgão de namorado
Quando Suellen da Silva Tito, de 38 anos, moradora de Cuiabá, descobriu que tinha um grave problema no fígado, chegou a ouvir dos médicos que, sem um transplante, teria pouco tempo de vida. Era 2011 e Suellen foi abandonada pelo ex-marido por conta da doença. Quatro anos depois conheceu o atual namorado, que decidiu doar o fígado para ela.
Suellen contou que, desde o início do relacionamento, o vaqueiro Antônio Ribeiro de Almeida, de 37 anos, se dispôs a acompanhar o tratamento dela de perto.
Suellen fazia o tratamento no Hospital Albert Einstein, também na capital paulista, por meio do SUS, já que aguardava na fila para um transplante de órgãos. No entanto, a unidade não realiza procedimento entre paciente e doador vivo.
Ela conseguiu um encaminhamento para o Hospital das Clínicas, onde o tipo de transplante poderia ser feito. A médica responsável explicou que Suellen deveria ter um doador compatível no prazo de 30 dias.
Por questões de saúde de seus familiares e da irmã, na época, estar separada e com dois filhos com menos de cinco anos, ela não conseguiu dar a resposta para a médica no período estabelecido.
Foi neste dia, cerca de quatro meses após conhecer Antônio, que ele se ofereceu para doar o próprio fígado para Suellen.
“Conheci o Antônio no final de 2015 e o transplante foi realizado em 6 de abril de 2016. Não falo que foi o destino, mas, sim, uma providência de Deus. Ele costuma contar que já tínhamos nos falado por telefone, porque sou muito amiga da madrasta dele. Nos conhecemos quando morei na casa dela por um tempo, quando estava sozinha e muito debilitada”.
Apesar do vaqueiro ter se oferecido para ser o doador de Suellen, ela contou que não foi fácil aceitar o ato do namorado.
Às vésperas do procedimento, ela pensou em desistir por medo de colocar a vida de Antônio em risco.
“No dia do transplante eu estava muito abalada, já tinha passado por muita coisa desde 2011, quando descobri a doença. Não queria colocar a vida dele em risco, me bateu um desespero, não queria internar porque temia pela vida dele. Ele conversou comigo bastante, me acalmei, fui internada no dia 5 de abril de 2016 e operamos no dia seguinte”.
Luta pela vida
Quando descobriu que estava doente, em 2011, Suellen levava uma vida normal, trabalhava como representante de vendas e estava casada há um mês. Tudo começou quando ela passou a sentir fortes dores no estômago e procurou um gastroenterologista.
“Ele [o médico] falou que poderia ser algo relacionado ao fígado. Fiz vários exames e descobri que estava com cirrose por hepatite autoimune. Sentia dores abdominais, cansaço, falta de ar e minha pele, que é negra, começou a ficar com uma cor meio esverdeada, também tinha muitas dores nas articulações. Não tinha mais qualidade de vida, ficava mais no hospital do que em casa”.
O quadro de Suellen se agravou ainda mais quando ela teve um sangramento nas varizes do esôfago, fator que levou ela pela UTI pela primeira vez, em 2012.
“Fiquei desacreditada, tive gastrite, quase tive infecção generalizada, usaram todo tipo de antibiótico. Os médicos me deram três dias de vida, disseram que dariam remédios e que se eu não reagisse nesse prazo, não teriam mais o que fazer. O médico disse que eu poderia sangrar pela boca, pelo nariz ou orelha a qualquer momento”.
O alerta do médico infelizmente acabou acontecendo. Um dia após chegar do trabalho com mal-estar, Suellen comeu e deitou para dormir por volta das 17h.
Ela se lembra de ter acordado às 2h com gosto de sangue na boca.
“Fui no banheiro e vomitei coágulos de sangue. Meu esposo, que na época estava me abandonando, correu comigo para o hospital. Fui direto para a UTI, tamparam as varizes do esôfago que estouraram e precisei ficar 38 dias na UTI. Quando saí da UTI, um médico hepatologista, que tinha acabado de fazer residência no Hospital Albert Einstein e sabia do trâmite do transplante de órgãos, conversou comigo sobre o procedimento. Ele disse que iria me encaminhar para São Paulo para dar continuidade no tratamento. Ele deixou claro que meu caso não era simples”.
Desde a conversa que teve com o médico hepatologista, naquele dia de 2011 até o transplante com o fígado doado por Antônio, em abril de 2016, Suellen contou que lutou muito pela vida e para superar os traumas do abandono.
Acabou entrando em um estado de depressão profunda. Hoje, ela agradece por não ter desistido de tentar ser feliz ao lado do companheiro.
“Precisei realmente me dar a oportunidade de ser amada. Ele sabe que, no começo, eu não queria me envolver em um relacionamento, estava para jogar a minha felicidade no ‘beleléu’. Eu estava numa fase muito complicada da minha vida. O Antônio me surpreendeu pelo amor e pelo cuidado. Não tem outra palavra, é amor”.
Novo transplante de fígado
Quando passou pelo transplante do fígado doado por Antônio, Suellen chegou a pensar que todo o drama havia acabado na mesa de cirurgia. Mas, o organismo dela rejeitou o novo órgão, que acabou entrando em falência.
Ela precisaria ficar apenas sete dias internada após o procedimento, mas acabou tendo que ficar 21.
Apesar da nova dificuldade, em 21 de abril de 2016, ela acabou conseguindo um novo órgão de um doador que já havia falecido.
“Ele me salvou, se não fosse por ele, eu não teria tido tempo de esperar essa doação. Quando perdi a parte que ele me doou fui para o topo da fila, porque fiquei como prioridade. A atitude dele foi muito nobre. Hoje tenho qualidade de vida, mas ainda preciso ir para São Paulo de três em três meses para as consultas”.
Sonho
Por conta de tantos tratamentos e cirurgias, Suellen não consegue mais trabalhar. Por vezes o casal recebe ajuda da assistência social, por meio de doação de cestas básicas. Como ainda precisa ir com frequência para São Paulo, ela explicou que ainda tem muitos gastos destinados a sua saúde.
No entanto, Suellen e Antônio têm o sonho de se casar.
“Vamos vivendo como podemos, não falta nada, mas cada viagem é um gasto. Com isso vamos adiando e deixando sonhos para trás por conta das perdas financeiras que sempre tivemos que enfrentar”.
Fonte: Midia News. Por Bruna Barbosa