Mãe se revolta com pena a motorista que matou seus filhos
Revoltada com a sentença do homem que atropelou e matou seus filhos, Rosinéia Guimarães, de 52 anos, não se conteve e gritou a plenos pulmões no tribunal: “Então pode matar no trânsito que fica por isso mesmo? Pode matar, dr.?”, disse ela ao juiz.
Rosinéia esperou 15 anos para ver a justiça sendo feita por Katherine Louise e Diego Bittencourt, de 19 e 14 anos, mas ela não veio.
O pecuarista Celzair Ferreira de Santana, autor do crime, foi condenado a apenas sete anos e dez meses de prisão em regime semiaberto, com direito a recorrer da pena em liberdade.
“Estou revoltada e até agora sem entender o que aconteceu. Do jeito que a Promotoria apresentou o caso, as provas, ficou claro para os jurados, por mais de uma vez, que tinha que ser dolo eventual. Ele assumiu o risco de matar”, afirmou.
Além de classificar como “inadmissível” a sentença, outro aspecto doloroso para Rosinéia foi a postura do pecuarista, que, segundo ela, não demonstrou nenhum remorso.
“Eu fiquei firme, aguentando, mas quando saiu a sentença não consegui mais me conter. Ver aquele réu que não chorou, não mostrou emoção, arrependimento, nada. Ele se mostrou frio, frio, frio… Como pode uma sentença dessa?”, questiona.
Arquivo pessoal
Katherine e Diego Bittencourt eram muito próximos
Segundo ela, a defesa do acusado tentou, a todo o momento, desqualificar as vítimas, atribuindo a elas a culpa de terem sido atropeladas e mortas.
“Como ficar de braços fechados e ver todo o nosso Judiciário, a Segurança Pública de Mato Grosso, tudo sendo jogado no lixo. Esse homem deve ser Deus, não é possível”.
Os peritos e agentes de segurança pública não ficaram de fora e teriam sido, segundo ela, alvos de insinuações a respeito dos procedimentos.
“Minha revolta é que matam a Katherine e o Diego e transformam todos os que trabalharam no caso como se fossem corruptos, desonestos. A única explicação para essa pena é que os jurados tenham acreditado nisso”.
Esperava mais, muito mais
Dois anos depois do crime, Rosinéia começou a cursar Direito, tanto para entender o “juridiquês”, quanto pra ter acesso ao processo. À época, era impedida no Fórum de Poconé de ver a documentação, sob a suposta orientação de contratar um advogado.
“Eu abandonei tudo, minha casa, minha loja. Não tinha dinheiro para pagar um advogado. Hoje eu sei que eu poderia ter visto a documentação, porque como mãe deles eu sou parte do processo. Mas na época eu não sabia e eles não deixavam ver”.
Com o conhecimento que agora tem e levando em conta as agravantes do caso, Rosinéia esperava uma pena de pelo menos 20 anos de prisão em regime fechado.
“Tinha certeza absoluta que ele teria uma condenação maior. Ele não prestou socorro, não houve frenagem, ele piscou luz para a Katherine e o Diego saírem da frente, tinham provas disso”, explicou.
“Como puderam descaracterizar o caso desse jeito? É uma coisa inadmissível. Eu achava que seria de 20 anos pra cima, foram duas vidas perdidas”.
Os agravantes da tragédia
Era uma tarde de domingo, no dia 18 de novembro de 2007, quando Katherine e Diego foram atropelados pela caminhonete Hilux conduzida por Celzair.
Reprodução
O pecuarista Celzair Ferreira de Santana
Os irmãos voltavam de um almoço com o pai na casa do avô, e estavam próximo ao meio fio, já estacionando o veículo, quando foram atingidos por trás.
Conforme a perícia, o pecuarista estava a cerca de 137 km por hora, muito acima do permitido, e a via não apresentava marcas de frenagem .
Testemunhas chegaram a ver o motorista piscando as luzes do farol para que quem estivesse passando saísse da sua frente.
Celzair não prestou socorro às vítimas, e só parou quando atingiu um poste de iluminação elétrica em cheio. Rosinéia, que estava sentada na área de casa, presenciou tudo, e viu os filhos sendo atingidos.
Dois pesos e duas medidas
Além de perder os filhos de forma trágica, Rosinéia foi proibida a pregar cartazes em protesto pela morte deles e, até, de usar a camiseta estampando seus rostos.
Enquanto isso, ela destacou quão contraditório era ver Celzair acompanhado da família.
“Esse homem não tem sensibilidade. Matou meus filhos e vem no júri com os dele. Cadê os meus? Porque ele podia estar com os filhos dele lá, e eu não podia nem entrar com a foto dos meus? Fui proibida”.
Uma dor sem fim
Dia após dia Rosinéia tem que lidar com a saudade dos filhos, e conta que a sensação é como se tivessem tirado os seus membros.
“Eles eram tudo na minha vida, é como se estivessem tirado minhas pernas, meus braços”.
A ligação entre os três era tão próxima, que muito amigos e familiares pensaram que ela “não fosse aguentar” à perda.
“Além de filhos eram meus amigos, meus conselheiros, meu suporte”.
“O amor por eles é que me faz aguentar essa luta. Quando os encontrar, do outro lado da vida, eles vão poder se orgulhar de mim e me darem um abraço. É isso que me move. Eles me viam como uma pessoa corajosa, vitoriosa”.