“Eleitor deu a Emanuel voto desconfiado; agora vemos o impacto”

Há dois anos na Câmara de Vereadores de Cuiabá, Michelly Alencar (União) acompanhou de perto a atuação da Prefeitura no segundo mandato de Emanuel Pinheiro (MDB) e fez inúmeras denúncias, principalmente em relação ao caos que se instaurou na Saúde Municipal. 

 

Em entrevista ao MidiaNews, a vereadora avaliou a atuação do gestor da Capital e lembrou da votação acirrada que Emanuel enfrentou para conseguir se reeleger. Segundo ela, os cuiabanos depositaram um voto desconfiado, tentando apostar em uma melhora, mas saíram decepcionados.

 

Lá atrás, esse voto da reeleição já foi muito dividido, não mostra a opinião de toda Cuiabá. Foi extremamente disputado, estava insegura e acabou dando um voto de ‘vamos ver se você vai me honrar’, um voto desconfiado. E a gente está vendo nessa gestão todos os impactos disso”, disse.

 

Michelly também falou sobre o seu futuro na política e o que espera para a próxima eleição municipal. Integrante do grupo do União Brasil, a vereadora acredita que o partido tem os nomes mais fortes e qualificados para assumir a Prefeitura de Cuiabá.

 

O grupo do nosso partido é muito forte, com excelentes nomes, inclusive o meu, porque a gente não tem um nome feminino ali. Vai ser eu? Não sei, mas existem nomes que estão na frente dessa fila, como eu disse, tudo tem o seu tempo”, afirmou.

 

Confira trechos da entrevista:

 

MidiaNews – Como avalia esses quase dois anos de mandato? Era o que a senhora esperava?

 

Michelly Alencar – Desses dois anos de tudo que a gente vem lutando e se mobilizando, acredito que não só as minhas expectativas, mas também do eleitor que confiou o mandato em mim, estão sendo atendidas.

 

Eu tenho esse compromisso diário, inclusive até faço das redes sociais essa prestação de contas para mostrar tudo que a gente tem feito, de que forma temos nos posicionado, como temos lutado, quais ações desenvolvemos.

 

Então, iniciei o mandato e todo mundo tinha um pé atrás, questionando se eu iria dar conta do recado, por causa da inexperiência. De fato, não tinha nenhuma experiência, a única convicção que eu tinha ao entrar era que queria trabalhar pela população e que iria me esforçar ao máximo.

 

Todo dia é uma superação, um esforço diário para a gente estar enfrentando o sistema. Porque no primeiro mandato, inexperiente, ser oposição de um prefeito que está há tantos anos na política e já tem um modus operandi que é muito diferente do meu, foi um desafio.

 

MidiaNews – Tem pretensão de tentar outros cargos no futuro? Trabalha pela reeleição?

 

Michelly Alencar – Inicialmente, o primeiro plano é finalizar esses quatro anos com um balanço que vá me surpreender e aqueles que confiaram esse mandato a mim. Lá atrás já não tinha expectativa e hoje já se gera uma expectativa. Então, meu primeiro objetivo mesmo é que esse mandato seja finalizado com saldo positivo ao ponto das pessoas pedirem para eu continuar na política.

 

Acredito que o representante politico não tem que estar nesse lugar porque quer fazer carreira, mas sim porque a população deseja a presença dele como representante. Eu sempre tive isso como uma premissa, que as pessoas queiram ter a mim como representante.

 

O segundo plano é para reeleição e os próximos passos vão depender de como eu tenho entregado.

 

MidiaNews – O seu colega de oposição Diego Guimarães conseguiu se eleger deputado com 25 mil votos. A senhora se arrepende de não ter disputa o pleito? Acha que teria chances de eleição?

A política é um caminho que me encontrei, não imaginava que estar nessa posição iria me satisfazer tanto. Quando eu consigo aprovar um projeto, ajudar alguém, ver o fruto do nosso trabalho, é uma satisfação muito grande

 

Michelly Alencar – Eu faço tudo porque acredito e porque alguma convicção me move. Para cada passo que dou preciso acreditar muito no que estou fazendo, por isso não me arrependo em nenhum momento de não ter saído candidata a deputada estadual, por mais que onde eu estivesse todo mundo me questionasse.

 

Então, assim, eu entendo que tudo é o momento e tive a experiência fantástica, nunca tinha vivido uma campanha de deputado estadual, federal, senador, governador, presidente, nesta posição. Sempre aquela eleitora, e por ser jornalista, sem se envolver, sem ser partidária.

 

Foi minha primeira campanha de fato e eu acreditei muito nos candidatos que defendi. Acredito que a minha contribuição inicial foi participar dessa campanha dando suporte e a minha hora vai chegar. Acho que futuramente eu realmente pense na Assembleia Legislativa, mas acredito que para qualquer construção a base tem que ser sólida.

 

MidiaNews – Teria disposição para voltar ao jornalismo ou prefere estar na política no futuro?

 

Michelly Alencar – Acho que os dois. A política é um caminho que me encontrei, não imaginava que estar nessa posição iria me satisfazer tanto. Quando eu consigo aprovar um projeto, ajudar alguém, ver o fruto do nosso trabalho, é uma satisfação muito grande.

 

Eu sempre ajudei as pessoas, mas de uma forma mais limitada. Estar aqui você consegue impactar a vida de muitas pessoas, por isso quero continuar na política. No entanto, assim como temos políticos advogados, empresários, eu quero voltar para o jornalismo. Claro, em um formato que não interfira no meu resultado.

  

MidiaNews – O governador Mauro Mendes tem vários aliados, como Fábio Garcia, Gilberto Figueiredo e Eduardo Botelho, que estariam dispostos a disputar a Prefeitura em 2024. Qual a preferência da senhora?

 

Michelly Alencar – O grupo do nosso partido é muito forte, com excelentes nomes, inclusive o meu, porque a gente não tem um nome feminino ali. Vai ser eu? Não sei, mas existem nomes que estão na frente dessa fila, como eu disse, tudo tem o seu tempo.

 

Acho que acima de tudo é um grupo que faz a política que eu tenho a tranquilidade de defender. Tem Fábio Garcia e Gilberto Figueiredo, que são excelentes nomes, então, acredito que para assumir a Prefeitura em 2024 tem que ser um excelente administrador, porque a Prefeitura será entregue muito sucateada para a nova gestão.

 

Vai precisar de um administrador no perfil do Mauro Mendes, que pegou o Governo nesta situação no primeiro ano, com estado de calamidade econômica decretada e hoje a gente tem um Estado extremamente pujante, economicamente ativo, avançando.

 

Por isso, acredito que o melhor grupo para assumir Cuiabá, com certeza, é o grupo do governador, que eu tenho a honra de fazer parte.

 

MidiaNews – Acha que diante dessa segunda gestão apática, sem grandes obras, e cheio de escândalos de corrupção, o prefeito Emanuel Pinheiro terá força para lançar um candidato competitivo em 2024?

 

Michelly Alencar – A gente tem visto o [José Roberto] Stopa se mobilizando, acho que é o perfil do Emanuel, apesar de não ser o que a cidade queira e precisa. Lá atrás, esse voto da reeleição já foi muito dividido, não mostra a opinião de toda Cuiabá.

 

Foi extremamente disputado, estava insegura e acabou dando um voto de “vamos ver se você vai me honrar”, um voto desconfiado. E a gente está vendo nessa gestão todos os impactos disso.

 

Obviamente acompanhando a Saúde de Cuiabá, Infraestrutura, Educação, não tem como apostar em um sucessor diante disso que vem acontecendo, porque o que vem acontecendo é um tamanho descaso com a população.

 

A população não é essa marionete que a política velha sempre apostou. Hoje estamos gerando uma consciência maior no voto, que é ideológico, de quem realmente está disposto a acompanhar os resultados disso. Então, uma gestão que virou as costas para a população com certeza já vem extremamente enfraquecida. Não só temos a corrupção, como temos secretários afastados, uma gestão de escândalos, de descaso. Essa continuidade não tem como permanecer.

 

MidiaNews – O vice José Roberto Stopa tem condições de ser um nome forte?

 

Michelly Alencar – Não acredito que é um nome forte, acredito que é um nome. Existe, está ali tentando se viabilizar, mas hoje está muito atrelado a imagem do Emanuel.

 

Por mais que a maioria das pessoas que acompanham o trabalho dele acreditem que ele é um cara trabalhador, esforçado, mas a imagem dele está muito atrelada.

 

Ele, inclusive, fez questão de dizer quando o Emanuel foi afastado sofrendo todas as sanções das corrupções que vinham acontecendo na gestão, que ia dar continuidade ao trabalho do Emanuel. Ali ficou claro que o perfil dele estava atrelado ao perfil administrativo do prefeito.

 

É até importante a gente sempre relembrar que temos um prefeito que faz a gestão pendurada em uma liminar, isso precisa ser claro para a população, porque envia mensagens subliminares. Qual é a confiabilidade que eu tenho nessa gestão?

Se ele se viabilizar como opção, será uma continuidade. Acho que não é isso que Cuiabá quer e nem o que precisa.

 

MidiaNews – Acha que o hoje o Abílio teria mais chances de vitória contra Emanuel em uma eventual disputa?

 

Michelly Alencar – Acredito que só vamos ter essa resposta na hora que ele assumir e começar a se viabilizar politicamente como um protagonista do mandato dele, porque hoje ele ainda está nesta transição. Antes, estava nesse limbo entre a ultima eleição e agora essa, mas nunca deixou de ser ativo no meio político, dando opiniões, fiscalizando.

 

Enfim, acho que tem várias opções e ele é um dos nomes. Uma opinião muito minha é que ele ainda está com essa eleição entalada.

 

MidiaNews – Na próxima semana, o STJ julga o mérito de uma liminar sobre o afastamento do prefeito no caso do cabidão da Saúde. Qual a expectativa da senhora para essa votação?

 

Michelly Alencar – É até importante a gente sempre relembrar que temos um prefeito que faz a gestão pendurada em uma liminar, isso precisa ser claro para a população, porque envia mensagens subliminares. Qual é a confiabilidade que eu tenho nessa gestão? O que levou o prefeito a estar administrando a Capital pendurado em uma liminar?

 

A expectativa é que a justiça seja feita, que todos os fatos sejam analisados e que a gente volte a ter uma confiança de que o Judiciário faz um trabalho sério.

 

MidiaNews – Quais os benefícios para a Capital de uma saída do prefeito do cargo? Acha que seria o melhor caminho?

 

Michelly Alencar – Quando você tem uma visão clara do problema, uma experiência administrativa e consegue traçar um plano de enfrentamento para isso e tem o recurso administrado com responsabilidade, o resultado vem.

 

Porque hoje temos atenção básica extremamente abandonada. Os postinhos de saúde, aquele primeiro atendimento que a população recebe, que são os médicos da família, se isso funcionasse muita gente não precisaria chegar a atenção secundária e terciária. É ali onde falta o medicamento, o profissional pediátrica, o exame ginecológico.

 

MidiaNews – Nos próximos dias a Câmara de Cuiabá vai votar dois projetos polêmicos, a revisão da planta genérica do município e a criação da taxa do lixo. Conhecendo a Câmara, a gente sabe que os projetos devem ser aprovados. Que tipo de alteração a oposição está negociando para reduzir o impacto no bolso do contribuinte?

 

Michelly Alencar – O nosso plano não é como negociar isso posterior. Nosso plano é que esses projetos não sejam aprovados. É essa a nossa principal mobilização. E para gente entender esse projeto, por que ele chegou desta forma para esta Casa, começamos várias discussões.

Acho que esse sentimento de desconfiança, de não credibilizar a imagem desta Casa foi construída por muitos anos. Então, desconstruir essa imagem também vai levar alguns anos

 

Inclusive, realizamos uma audiência pública para tratar desses dois projetos, que são os que mais estão tirando o sono da população, está todo mundo preocupado, porque o projeto da cobrança da taxa do lixo não estabelece o quanto vai ser. Pode ser que seja R$ 10, R$ 20, R$ 50 ou até R$ 100, porque o reajuste da taxa do esgoto foi de 90% para todos, mesmo aqueles que não têm esgoto, chega na conta de água.

 

Então, como a gente vai cobrar uma taxa de lixo sem que tenha nenhuma previsão?

 

A justificativa é que existe uma lei federal do marco de Saneamento Legal e que eles estariam cumprindo isso, mas essa lei é para resolver todo o problema de saneamento básico, esgoto, água tratada e resíduos sólidos dos municípios. Então, é uma cadeia que precisa ser pensada e aqui a gente não vê nenhuma perspectiva desse planejamento.

 

O IPTU é a mesma coisa, atualização de 11 anos porque está defasado, mas vai atualizar em uma pancada só? E esse impacto de 500% quem vai pagar vai ser o cidadão, que já não está conseguindo pagar o seu IPTU. 

 

Na audiência, o objetivo era ouvir a prefeitura, algo mais técnico, que eles explicassem os critérios adotados, mas ninguém da prefeitura veio. Mais uma vez assuntos importantes, impactantes estão sendo desconsiderados.

 

MidiaNews – A Mesa da Câmara passou pelo comando do Juca do Guaraná, que comandou a casa alinhado com as pautas do prefeito Emanuel Pinheiro. Agora, a casa está sob a alçada de Chico 2000. O que espera dos próximos anos da Casa de Leis cuiabana?

 

Michelly Alencar – Eu espero que de alguma maneira a gente tenha avanços. O vereador Chico 2000, por mais que também seja da base do Emanuel Pinheiro, é um vereador preparado, já tem cinco mandatos nessa Casa, conhece todo o processo. Ele sabe ter um diálogo bem coerente com todos os vereadores.

  

Eu não conheço o Chico como presidente. Ele falou que quer se despedir da vereança sendo presidente, tem compromisso em dar espaço, porque hoje a oposição não tem espaço nenhum nessa Casa. Então, acredito que a gente possa ser tratado de forma um pouco mais igualitária e justa aqui dentro.

 

MidiaNews – Por que acha que a Câmara tem uma imagem tão ruim perante a sociedade?

 

Michelly Alencar – Acho que esse sentimento de desconfiança, de não credibilizar a imagem desta Casa foi construída por muitos anos. Então, desconstruir essa imagem também vai levar alguns anos e só vai acontecer se realmente tivermos uma mudança do perfil dos vereadores.

 

O que levou essa Casa a não ter credibilidade, inclusive sendo tachada de “Casa dos horrores” foi ter vereadores que fechavam os olhos para aquilo que era de impacto social, para a vida do povo. Simplesmente faziam o que era dito pelo Executivo sem discussão, sem entender a relevância daquilo.

 

Eu, particularmente, não acredito que essa seja ainda a Casa dos Horrores, porque se eu estiver dizendo isso faço parte dela e confio no trabalho que venho fazendo e de fato ele tem compromisso com quem me trouxe aqui.

 

Porém, sei que vai levar um tempo para mudar e só vai mudar se outras pessoas pensarem dessa forma e trabalharem com esse compromisso, de não simplesmente honrarem os seus interesses políticos, mas quem de fato importa, que é o povo.



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