O lugar de Mato Grosso
No correr do ano eleitoral de 2022, manifestações políticas públicas em Mato Grosso acabaram por resultar numa votação pro-Bolsonaro superior a 65 por cento.
Havia um certo frisson no ar, ainda que o oponente Lula, tivesse 36 por cento no final. Mesmo com o favoritismo de Bolsonaro, havia tensão permanente no ar.
No dia seguinte ao segundo turno da eleição, as rodovias amanheceram interrompidas pelos caminhoneiros e grande parcela da população na frente dos quartéis em Mato Grosso.
Como no restante do país. Sob forte pressão federal os caminheiros cessaram o movimento, mas os civis não. A grande questão a ser considerada, é que a maior força desses dois movimentos começou e permaneceu em Mato Grosso. O fato do Estado ser uma potência na agropecuária e ostentar grande riqueza, de um lado favoreceu Bolsonaro, e de outro mobilizou os movimentos.
Os indicadores são de que ao longo do tempo a resistência em Mato Grosso com o resultado das eleições e contra o presidente eleito será grande. No mínimo permanecerá desse tamanho, pra não imaginar que crescerá. Já é uma força representativa.
O que isso significará na prática? No mínimo cabem duas leituras: 1 – Mato Grosso incorpora-se forte ao movimento nacional para o nascimento de uma real direita no país. Bom lembrar que o Brasil vem sem ter uma direita desde o fim do regime militar em 1985. 2- pelo nível da resistência demonstrada até agora e pela força financeira desse apoio, Mato Grosso sai da periferia política no país, para uma posição de liderança dentro dessa nova formulação nacional.
Mas tem algo mais grave. Isso não se fará em paz. O sistema de manifestações populares, de máquinas e de caminhões não acabou. Ao contrário. Está mobilizado permanente. Isso significa qualquer governo que esteja no poder, principalmente se for o do presidente Lula, seguramente tratará Mato Grosso com energia das forças política e militar. O futuro ministro da Justiça já avisou sobre isso. É guerra certa! Briga de cachorro grande, diria a sabedoria popular.
Na prática, traduzindo esse sequência de movimento, Mato Grosso será epicentro da resistência, seja pelos caminhões e máquinas, seja pelo povo na rua, seja por forte oposição ao governo central.
Qual o risco disso? Algo parecido com uma guerra armada. De um lado as forças militares federais contra a resistência pública. Claro que o resultado não será bom pra ninguém.
A questão seria o governo eleito saber lidar com a oposição de uma direita nascendo dentro do ambiente conservador agropecuário. A dualidade direita e esquerda não fará mal nenhum. Afinal, 96 milhões de pessoas não votaram em Lula. Só 60 milhões. Votaram em Bolsonaro 58 milhões e 38 milhões não votaram na eleição. De saída já existe um clima de resistência ou de indiferença.
Poderemos ter nos cenários futuros, Mato Grosso como o epicentro da resistência política à possível repressão política ou militar do governo federal.
Se isso acontecer, o agronegócio poderá reagir movimentando-se na produção gigantesca de hoje e até reduzindo a produção. Aí, sairemos da política partidária para um movimento de geopolítica e de economia que custará muito caro ao Estado, ao país e aos produtores. O cristal terá rachado para sempre.
Enxergo falta de serenidade nesse ambiente cada dia mais nublado.
Onofre Ribeiro é jornalista em Mato Grosso.