Sádico homicídio de rapaz de 29 anos posto em forma de cruz chocou MT

 

O sádico e brutal homicídio de Roger André Soares da Silva, de 29 anos, mexeu com o imaginário da população cuiabana em 2022, em especial, pelo cenário de filme de terror montado pelo assassino.

Os desdobramentos e a própria confissão de Juberlândio Diniz Alvarenga, de 36 anos, condenado e investigado por outros homicídios, não ficaram para trás. Segundo o delegado Olímpio da Cunha Fernandes Jr., o criminoso tinha perfil de “serial killer” e poderia fazer novas vítimas.

Roger foi assassinado com mais de 30 facadas em uma edícula do Bairro Parque Cuiabá, durante a madrugada de 22 de abril. Seu corpo foi posto em forma de cruz, com os braços afastados do corpo e os pés esticados. Na parede o assassino ainda pintou com o sangue da vítima três cruzes.

O perito Daniel Soares, habituado com cenas de crime, revelou nunca ter visto nada parecido com aquilo. “Essa posição não é algo comum de se encontrar, foi a primeira vez em 11 anos como perito criminal. Eu nunca tinha encontrado algo semelhante”, disse.

Havia grande quantidade de sangue no quarto – onde Roger foi encontrado – e na garagem. Os golpes atingiram o tronco da vítima, sendo a maioria na região do pescoço e peito, e algumas no abdômen.

O rapaz vestia apenas um par de meias e um short.

Prisão e vida pregressa

A prisão de Juberlândio aconteceu um mês depois, no dia 25 de maio, no Município de Urupês (SP). Ele residia em uma pousada conhecida por hospedar trabalhadores da região e trabalhava, desde que se mudou para lá, na lavoura de limões.

Conforme o delegado Olímpio, os passos do suspeito vinham sendo monitorados desde que o crime aconteceu, e os investigadores mantiveram contato com policiais de São Paulo para realizar a captura, feita por meio de cerco na pousada.

A Polícia desconfia que ele já estivesse de olho em sua quarta vítima, isso porque havia se desentendido com outro hóspede, após fazer comentários sobre a namorada dele. A hipótese se reforçou após uma faca furtada da pousa ter sido encontrada em seu quarto.

Juberlândio já havia sido condenado a 15 anos de prisão por um assassinato similar ao do rapaz, que aconteceu em Itaporanga (PB). À época ele confessou o crime a um familiar e ainda disse que “se sentia bem quando matava”.

Na época a vítima também foi morta por um objeto cortante e a cena apresentava grande quantidade de sangue. De acordo com o delegado Olímpio da Cunha Fernandes Jr., responsável pelo inquérito, Roger poderia ser a terceira vítima do homicida.

“Um fato que corrobora com isso e chamou a atenção na investigação da DHPP foi que o suspeito teria desenhado três cruzes na parede da residência, com sangue, indicando possivelmente que esta seria sua terceira vítima, ou outra simbologia que ainda não está devidamente esclarecida”, pontuou.

Hannibal e Jason

Duas tatuagens estampadas no corpo do suspeito chamaram a atenção. Uma delas é do personagem Hannibal Lecter, o canibal do filme “Silêncio dos Inocentes”, e a outra de Jason Voorhees, da série de filmes slasher “Sexta-Feira 13”.

Esses personagens fictícios, da literatura e cinema, ficaram marcados na história pela brutalidade de seus crimes.

Perfil serial Killer

Segundo o delegado Olímpio, a investigação e as próprias tatuagens estampadas no corpo de Juberlândio são ilustrativos de sua personalidade.

Além do incomum posicionamento do corpo, as três cruzes desenhadas com o sangue do rapaz, segundo a Polícia, indicam que elas podem significar os três homicídios cometidos por Juberlândio até hoje.

Em Cuiabá, além de ter assassinado Roger de forma brutal, Juberlândio tentou matar, de forma similar, um colega com quem trabalhava em um frigorífico. De forma agressiva, ele surpreendeu a vítima pelas costas e desferiu cinco facadas.

Reprodução

Juberlândio Diniz Alvarenga

Tatuagens de Juberlândio Diniz Alvarenga

“O modo como ele agia, de maneira repentina, os motivos… parece que havia assinalado que pretendia ficar conhecido por esses fatos, o que indica que ele era um serial killer, mas que graças a Deus foi impedido antes de fazer uma lista grande de vítimas”, afirmou Olímpio.

Ele também aparece em diversos boletins de ocorrência como autor de ameaças com arma branca e uma tentativa de homicídio em Cuiabá.

O padrão identificado pela polícia, até o momento, está na forma violenta de agir, nas armas utilizadas nos crimes – perfuro-cortante – e nas motivações torpes. Quanto ao perfil das vítimas, não há, até o momento, elementos suficientes que as liguem entre si.

No caso do homicídio de Roger, Juberlândio assumiu a autoria, mas alegou se tratar de um crime cometido em legítima defesa, versão que de acordo com Olímpio não convenceu a Polícia.

Juberlândio foi indiciado pelo homicídio com três qualificadoras: motivo fútil, meio cruel e impossibilidade de defesa da vítima. A oitiva foi realizada na unidade prisional, por meio de carta precatória, e conduzida pelo delegado de Urupês, Sérgio Augusto Ugatti Durão.

Vaidade

De acordo com o delegado Ugatti, que conduziu o interrogatório, Juberlândio não se entende como um serial killer, mas durante o depoimento demonstrou “vaidade” e “naturalidade” ao falar de seus crimes.

Quando questionado sobre a quantidade de homicídios ele perguntou se os crimes cometidos na adolescência também contavam na soma. Nessa idade ele disse ter tentado matar outras duas pessoas.

“A gente verifica que ele tem o perfil de matar, até pelos tipos de tatuagens que cultua, pois a tatuagem é um culto, ninguém vai esculpir no corpo aquilo que não gosta”, afirmou Ugatti.

Apesar de não ter se declarado como um serial killer para a Polícia, no inquérito sobre um dos homicídios atribuídos, consta que ele se autointitulou como tal em uma postagem de rede social.

Punição por homossexualidade

Em depoimento à Polícia, Juberlândio confessou o crime, mas tentou justificar o homicídio alegando legítima defesa depois de ter sido encurralado pelo rapaz. A versão, no entanto, foi considerada incoerente pela polícia.

“A mola propulsora, o fator determinante na discussão entre eles foi o fato da vítima ter se oferecido para praticar sexo oral nele”, explicou Ugatti sobre a versão apresentada.

Juberlândio afirmou que o rapaz lhe ofereceu uma carona após se conhecerem naquela mesma noite. Os dois continuaram bebendo, quando supostamente Roger fez o convite sexual, que “o deixou revoltado”. Ele teria empurrado o rapaz, que teria sacado um canivete.

De acordo com Ugatti, o indiciado negou ter posicionado o corpo da vítima em forma de cruz e atribuiu a uma suposta crença religiosa os desenhos feitos na parede com o sangue.

“Ele nega, diz que a vítima do jeito que caiu ficou, o que não condiz com o inquérito da DHPP de Cuiabá, onde ficou demonstrado que ele ornamentou a posição dos braços e pés, que Roger foi realmente colocado em uma cruz”, afirmou.

Conforme o depoimento de Juberlândio, as três cruzes desenhadas com sangue não estavam ligadas às mortes a ele atribuídas – ao todo ele confessou a autoria de três homicídios, dois deles na Paraíba e um em Cuiabá.

“Ele disse que fez aquilo pelo fato da vítima ser homossexual. Entendia, na visão dele, que se diz uma pessoa religiosa, que estava repreendendo, punindo a vítima e por isso desenhou as cruzes”.

Família destruída

A doméstica Jucimar Catarina André Soares da Silva, de 45 anos, mãe de Roger, descreveu o filho como um “trabalhador cheio de sonhos”, e cobrou por justiça.

“Se meu filho fosse um cara ‘mala’ era mais fácil suportar a dor que sinto. Mas era um trabalhador, tinha sonhos, só queria ser feliz. Aí, vem uma pessoa e tira vida dele dessa forma”, disse Jucimar emocionada.

“Meu filho me amava, mostrou isso todos os dias da vida dele. Enquanto meu filho foi vivo, ele cuidou de mim”, acrescentou.

Jucimar ficou aliviada com a prisão, mas disse que esse alívio não diminui a dor de ter perdido o filho: “Nada vai trazer ele de volta”.

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