Superintendente em MT nega viés político e ideológico na PRF

Em meio aos protestos bolsonaristas que bloquearam rodovias e chamaram atenção nacional para Mato Grosso, o superintendente da Polícia Rodoviária Federal do Estado (PRF), Francisco Elcio Lucena, rebateu as críticas de que a corporação teria atuado de forma branda contra os bloqueios.

 

Os atos tiveram início na noite do dia 30 de outubro, após o resultado do segundo turno das eleições presidenciais, que concretizou vitória de Lula (PT).

 

Desde então, a PRF vem recebendo acusações de que estaria sendo conivente com os atos por ser apoiadora do presidente Jair Bolsonaro (PL). No entanto, Lucena garantiu que não e reforçou compromisso com o Estado.

 

“Reafirmo nosso compromisso, nossos princípios: transparência, profissionalismo e impessoalidade. Nós vamos agir dessa forma impessoal, as pessoas gostando ou não”, afirmou ao MidiaNews.

 

“Não é um partido, não são as convicções ideológicas, mas sim nós trabalhamos para o Brasil”, completou.

 

O superintendente ainda comentou sobre os atos de vandalismo que ganharam as manchetes nas últimas semanas em Mato Grosso. Além de chamar as ações de terrorismo, Lucena confirmou que a PRF já identificou os líderes que coordenaram os ataques.

  

Confira os melhores trechos da entrevista:

 

MidiaNews – Mato Grosso virou manchete nacional devido aos bloqueios que ocorreram em diversas rodovias do Estado. Qual foi a grande dificuldade encontrada pela PRF para desbloquear essas estradas?

 

Francisco Elcio Lucena – Nós tivemos dois momentos. O primeiro momento foi uma grande aglomeração que tomou conta das rodovias federais. Nós tivemos as rodovias federais em 44 pontos de bloqueio mais de 40 mil pessoas. Então, era um volume expressivo de pessoas, crianças, adolescentes, populares que, nesse processo, a tática foi negociar e nós tivemos êxito.

 

Em 72 horas, tivemos uma redução significativa dos bloqueios, as manifestações se concentraram em apenas oito pontos de perímetros urbanos, das cidades, e ali ficaram até no dia 17, que teve um engrandecimento, uma escalada de violência.

 

As polícias reagiram de forma integrada, coibindo o colapsamento da ponte do Rio Vermelho em Rondonópolis, onde a PRF, a PF, a Polícia Civil, os Bombeiros e a PM atuaram rapidamente.

A polícia teve capacidade de enfrentar mesmo sendo criticada, se manteve firme, com foco, sempre com objetivo de reestabelecer a ordem e garantir o direito de ir e vir

 

Tentaram também queimar duas pontes ali na 158. Também as policiais rodoviárias agiram de forma bastante consistente e também impediram o colapsamento dessa ponte. Tentaram dinamitar uma rodovia que liga Comodoro a Vilhena. A polícia impediu as bombas e fez a retirada desses artefatos antes que ocorresse dano maior não só na infraestrutura como também a ferimento de pessoas, fez uma ação rápida.

 

Em Sinop nós tivemos um problema muito forte com as manifestações em atos terroristas que acabaram atirando, jogando pedras, etc, e isso trouxe um trabalho enorme para as forças de segurança, mas nós obstruímos.

 

No domingo ocorreu uma ação incisiva em Sorriso, foram presas seis pessoas que tinham algum vinculo com as manifestação diante dessa escalada de violência. Na segunda-feira foram presas três pessoas que haviam também participado dos atos terroristas, ou seja, tacando fogo, furtando pneus. Na terça-feira tivemos uma ação mais estruturada, atuamos em todos os pontos. Na quarta-feira, nós tínhamos todas as rodovias desobstruídas.

 

Então, nós temos dois momentos: momento pacífico após o dia 30 de outubro, que a gente conseguiu desobstruir até na quarta-feira. Passado um período de dez dias, teve um fato que a população se revoltou e começou a fazer ações inaceitáveis e que as forças agiram e continuam agindo. Vamos prender quem cometer algum tipo de ato terrorista ou algum atentado.

 

MidiaNews – Então, para o senhor essas atitudes de extrema violência, chegando a ameaçar a população, e até mesmo as forças de segurança, são táticas terroristas?

 

Francisco Elcio Lucena – É uma tática terrorista, inaceitável. Ninguém está acima da lei. A manifestação é legítima desde que esteja dentro da legalidade, todo mundo tem opinião, todo mundo pode manifestar, mas ela tem que ser ordeira e dentro da legalidade.

 

A partir do momento que extrapola a legalidade, ela passa a ser crime e esses crimes as polícias agirão com muito vigor.

 

Todas as informações foram passadas para os canais competentes como as Polícias Civil e Polícia Federal, encaminhada ao Ministério Público. Foram informadas as prefeituras para que todos pudessem agir de forma coordenada para que pudessem fazer frente a essa escalada de violência e terrorismo que é inaceitável.

 

Somos uma polícia de Estado, atendemos nossos princípios de transparência, profissionalismo e impessoalidade, doa a quem doer, nós agiremos.

 

MidiaNews – O senhor chegou a temer pela integridade física da equipe da PRF nessas operações depois dessa escalada na violência?

 

Francisco Elcio Lucena – A PRF recebe treinamento, tudo há risco, mas nós estamos prontos para fazer o enfrentamento desses momentos sensíveis. Existem as capacitações, o treinamento para que possamos enfrentar.

 

A Polícia realmente precisa cumprir seu papel, agir onde deve agir, de forma dura, mas dentro da legalidade.

 

MidiaNews – Uma das críticas que tem sido feitas é de que a PRF teria sido muito branda, até mesmo convivente com os manifestantes. Qual a opinião do senhor sobre essas falas?

 

Francisco Elcio Lucena – Infelizmente, ela não está lastreada com a verdade. Nós soubemos das primeiras movimentações às 9 horas, às 9h30 já tínhamos designado equipes, 9h40 nós tínhamos instaurado o gabinete e informamos o Governo do Estado e seu secretário também, entramos em contato com vários comandantes das regiões onde houve bloqueio.

 

Às 3h da manhã emitimos uma ordem de missão onde fortalecemos e reforçamos todos os pontos. Na primeira noite tínhamos oito bloqueios, já no início da manhã foi para 16 e chegamos a 44 pontos. Porém, no final do terceiro dia já estávamos reduzindo para quase zeros os bloqueios nas rodovias.

 

Robson Alex/ MT Agora

Bloqueios em Lucas

Manifestantes bloquearam rodovias com pneus queimados em Mato Grosso

Assim ficou por oito dias sem nenhum tipo de bloqueio, apenas pessoas se manifestando na área urbana, na área em que a PRF não tem competência. Aí nos dias 16 e 17, teve essa mudança de comportamento e a Polícia agiu – e vai agir sempre com quem cometer algum tipo de abuso ou excesso da lei. Ninguém está acima da lei.

 

MidiaNews – Outra crítica que se faz é que a PRF é bolsonarista. Inclusive há uma ação pedindo o afastamento do diretor geral Silvinei Vasques, entre outros motivos por alinhamento ao presidente Jair Bolsonaro. Acha que essa crítica é injusta?

 

Francisco Elcio Lucena – Eu trabalho na Polícia há 28 anos. Sempre trabalhei em prol da sociedade, fiz um juramento assim quando vesti essa farda. Tenho a Constituição que também baliza minhas ações. Tenho um conjunto de leis que baliza as ações da polícia.

 

Qualquer agente público que agir fora desses balizamentos legais incorre de uma responsabilização, independente de quem for, seja um policial, seja um diretor. Todos eles responderão pelos seus atos impessoais.

 

A Polícia é muito maior que as pessoas, é uma instituição do Estado, que realmente serve a sociedade, vem servindo, nos grandes eventos, nas greves de 2018 e agora nesse momento.

 

A polícia teve capacidade de enfrentar mesmo sendo criticada, se manteve firme, com foco, sempre com objetivo de reestabelecer a ordem e garantir o direito de ir e vir.

 

Agiremos de forma operacional, com inteligência, com técnica, aceitando todos os ditames legais do nosso país. Aquele policial, aquele servidor que agir fora disso, será responsabilizado, ele arcará com seus atos.

 

Reafirmo nosso compromisso, nossos princípios: transparência, profissionalismo e impessoalidade.

 

Nós vamos agir dessa forma impessoal, gostando ou não as pessoas. Não é um partido, não são as convicções ideológicas, mas sim nós trabalhamos para o Brasil. O Estado é capaz de enfrentar qualquer tipo de obstáculo, de perturbação, que é contra a democracia e a legislação brasileira.

 

MidiaNews – Todos os vândalos que colocaram vidas em risco foram identificados?

 

Francisco Elcio Lucena – Sim. Nós fizemos 19 prisões, foram todos encaminhados às autoridades competentes, fizemos identificação de mais de 70 líderes, que são aquelas pessoas que ficavam nos bloqueios de forma permanente, que davam a palavra de ordem.

 

Todas as pessoas que nós identificamos e encaminhamos para o Ministério Estadual, para o Ministério Federal, para as polícias judiciárias, para a Sesp (Secretaria do Estado de Segurança Pública) para que tomem as providências.

 

Tudo que está no alcance da Polícia, a Polícia está fazendo, agindo de forma operacional, de mapeamento e fazendo a manutenção das rodovias federais.

É uma tática terrorista, inaceitável, ninguém está acima da lei. A manifestação é legítima desde que esteja dentro da legalidade, todo mundo tem opinião, todo mundo pode manifestar, mas ela tem que ser ordeira e dentro da legalidade

 

MidiaNews – Qual é o efetivo da PRF hoje em dia?

 

Francisco Elcio Lucena – Nós recebemos agora um reforço de efetivo mês passado, 119 policiais. Isso fez com que o efetivo de Mato Grosso chegasse a 530 PRFs. Diante das manifestações, em um segundo momento, nós recebemos mais 114 PRFs. Então nós temos um efetivo bem considerável do que nos últimos quatro anos, que nós tínhamos 324 policiais.

 

Então, nós tivemos um aumento bem significativo, mais de 70% do efetivo. Comparando 2018 e 2022, então nós hoje chegamos a 530 PRFs que estão à disposição para Mato Grosso, para patrulhar 5.011 quilômetros em cinco rodovias federais.

 

MidiaNews – Para o senhor, esse número de efetivo é suficiente para patrulhar as rodovias aqui do Estado?

 

Francisco Elcio Lucena – Acho que o crescimento tem que vir de forma estruturada, acho que é um investimento bastante expressivo, mas os desafios serão cada vez maiores, além do desafio de logística. Nós temos aí quatro corredores logísticos, da 159, 364, 174, 070, nós também temos outros desafios que é o fluxo cada vez mais intenso de drogas. Aqui em Mato Grosso se circula muita droga buscando os portos e os grandes centros.

 

A PRF mostrou esse número. Nos últimos quatro anos, hoje nós estamos próximos de 22 toneladas de apreensão de drogas só esse ano, ou seja, um crescimento de 44% em relação ao ano passado. E madeira também. Como nós estamos próximos também da Amazônia Legal, a gente precisa também fazer o enfrentamento.

 

Nesse sentido, a polícia vai precisar sim, em um futuro bem próximo, de mais policiais para ocupar todas as regiões. Nós atuamos hoje em três regiões, a região Sul, Sudoeste e Nordeste, falta atuar ainda na região Noroeste do Estado como Juína, Castanheira, Coniza, da 174. Naquela região a PRF não atua ainda.

 

No entanto, o crescimento é bem acentuado e precede de outras infraestruturas, não é só de pessoas, é de espaços, de unidades operacionais e viaturas, nós estamos instalando uma base aérea da PRF em Mato Grosso que já conta com helicóptero, já está vindo nos próximos meses, próximo ano, uma asa fixa. Esse é o conjunto de ações que serão tomada de médio a longo prazo e acredito que o Mato Grosso vai estar bem servido, mas ainda não é o ideal. Eu acredito que nós estamos no caminho.

 

MidiaNews – Volta e meia a PRF faz apreensões de drogas nas rodovias de Mato Grosso. Mas a impressão que a gente tem é que apenas uma fração pequena é apreendida. O que a PRF tem feito para fechar o cerco a esses traficantes?

 

Francisco Elcio Lucena – É bom lembrar que a PRF atua cinco mil quilômetros de rodovias federais, mas existem 36 mil quilômetros de rodovias estaduai. Então a possibilidade de rotas de fugas é muito grande.

 

Somos uma polícia de Estado, atendemos nossos princípios de transparência, profissionalismo e impessoalidade, doa a quem doer, nós agiremos.

O que nós estamos trabalhando? Integrando o Estado, partilhando banco de informações, integrando nosso sistema, cooperando com as agências de inteligência de ambos os órgãos, tanto a nível estadual e federal, participamos de força-tarefa onde está inclusa a Polícia Federal, a PRF, os outros órgãos, a Polícia Militar, a Polícia Civil. Ou seja, o futuro é a integração, é investir em tecnologia, questão de monitoramento.

 

Existe aí por parte do estado investimento na ordem de 16 mil câmeras e com isso vai dar mais efetividade. Acho que nós estamos no caminho. Existe aí um processo longo ainda. Precisamos vencer a dimensão territorial, vencer essa capilaridade excessiva que o Estado tem. Nem todas as rodovias são asfaltadas, mas eu acredito que esse é o caminho. Integração, tecnologia, aumento do efetivo fará com que cada ano que passa tenha resultados mais positivos.

 

MidiaNews – Por que é tão difícil impedir que veículos roubados no Brasil sejam levados para a Bolívia?

 

Francisco Elcio Lucena – Olha, eu acho o seguinte, como nós temos hoje o processo de investimento em tecnologia, em câmeras em todas as cidades… Esse é o propósito do governador [Mauro Mendes] fazer o investimento e o cercamento, para que a Polícia Rodoviária também tenha sistemas que possam contribuir.

 

Estamos fazendo um combate bastante incisivo. O crime hoje de furtar um veículo, de levar para fronteira quase não compensa, porque as fronteiras estão recebendo investimentos massivos.

 

É um processo contínuo. Oossivelmente o crime, como ele é organizado, vai se reestruturar, mas aí a ideia nossa é fazer um combater mais efetivo com integração, tecnologia e maior quantidade de policiais e capacitação.

 

MidiaNews – Existe alguma previsão de concurso para médio e longo prazo?

 

Francisco Elcio Lucena – O nosso efetivo máximo é 13 mil policiais. Então nesse processo precisa ter uma alteração na legislação para que a gente possa utilizar um cadastro de reserva.

 

Nós temos quase mil e quinhentos policiais que já foram classificados no concurso anterior, mas para que eles possam fazer o curso de formação, tem que ter uma alteração na legislação.

 

Neste momento, estamos impedidos pelos instrumentos legais de ter novos concursos, até porque o que fizemos um tempo atrás ainda está valendo. Temos 1,5 mil candidatos que foram classificados que estão na reserva. Se tiver uma flexibilização na lei, permitindo ampliação do quadro, esses candidatos poderão ser chamados para fazer o curso de formação.

 



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