Filho de deputado planejou o assassinato da ex, diz delegado

Mak Lucia | MT Mais

O duplo homicídio que chocou a capital no fim da tarde desta quarta-feira (19) foi uma execução premeditada. A declaração foi dada pelo delegado da Polícia Judiciária Civil, Marcel Oliveira, durante uma coletiva realizada na manhã desta quinta-feira (19), na sede da Delegacia Especializada de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), em Cuiabá.

O casal, Thays Machado e William César Moreno, juntos há poucos dias, foi executado a tiros por Carlos Alberto Gomes Bezerra, filho do deputado federal Carlos Bezerra (MDB). O atirador, preso em Campo Verde, confessou a autoria do crime e foi detido com a arma usada na execução. Carlos atirou treze vezes e tanto Thays quanto Willian teriam sido alvejados por cerca de três disparos.

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“Em dias anteriores, ele (Carlos) já vinha rondando a casa da [mãe] vítima (Thays). A gente (Polícia Civil) têm as imagens que no dia anterior à execução, ele já estava rondando o prédio da vítima. Então, você constata que foi algo pensado. A pessoa que realiza rondas na casa da vítima, de porte de uma arma de fogo, de forma irregular, algo você já poderia esperar, algo premeditado”, disse Marcel.

CIÚMES MORTAL

Anteontem, na madrugada da terça-feira (17), Carlos abordou Thays e William na saída do Aeroporto Internacional de Cuiabá Marechal Rondon, em Várzea Grande. Segundo o delegado, ao abordar os dois, Carlos saiu do carro, mostrando que estava armado. Thays, que havia ido no local buscar o namorado, conseguiu escapar e mandou áudio para familiares, muito assustada com o que havia acabado de acontecer.

O delegado explicou que a Polícia está verificando se a vítima registrou a denúncia de forma on-line ou se buscou a Delegacia Especializada de Defesa da Mulher para registar boletim de ocorrência.

Thays, que era professora de direito e dava aulas em universidades da capital, já relatava há bastante tempo que se sentia desconfortável com a presença de Carlos. Segundo o delegado, o suspeito era uma pessoa extremamente possessiva e já chegou a ameaçar um colega de Thays, nas dependências do Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJMT).

“Não por acaso, ela tomava as medidas. Ela procurou as unidades para estar registrando e sempre comunicava e afirmava, mas é aquela história, às vezes jamais se imagina que também chegará em um ponto extremo, né?! Ponto extremo esse que foi aquela cena que vocês ali puderam visualizar na tarde de ontem”, declarou o delegado.

Marcel ainda relembrou que Thays conhecia a lei e que as ameaça de Carlos não passaram sem que houvesse um registro.

Questionado, o delegado não explicou o motivo de não terem sido tomadas medidas contra Carlos já nos primeiros boletins registrados.

Carlos e Thays foram casados durante anos e a vítima chegou a registrar um boletim contra ele em 2020, poucos dias após o término. Nas palavras do delegado, o relacionamento tinha “idas e vindas”. O último término teria sido há 45 dias, duas semanas antes de a mulher conhecer William.

Momentos finais

Thays e William foram assassinados na porta do edifício Solar Monet, no bairro Consil. A mulher havia ido ao prédio para deixar o carro usado para buscar William no aeroporto. O veículo pertencia à mãe dela e após deixá-lo, o casal estava esperando um motorista de aplicativo. Enquanto aguardava o transporte, Carlos surgiu e os executou.

As imagens, registradas por câmeras de segurança do prédio, mostraram os últimos momentos do casal com vida. As cenas gravadas mostram os dois caminhando para fora do estacionamento e posteriormente indo para portaria.

As imagens das câmeras foram cruciais para as investigações e para localizar o veículo de Carlos.

Culpando a doença

Em depoimento à PJC, Carlos explicou que a motivação do crime, partiu de uma reação hormonal criada pela diabetes. O delegado afirmou que tal versão só poderá ser sustentada quando uma autoridade médica for ouvida e explicar se existe ou não formas de a doença causar esse tipo de reação.

“Eu vou oficiar à Politec, através da medicina legal, pra falar quais são as consequências disso (a diabete) na vida psicológica de uma pessoa” explicou o delegado.

Os próximos passos

Carlos está atualmente preso em Campo Verde e o destino dele não está mais nas mãos da Polícia e sim nas mãos do Poder Judiciário de Mato Grosso. Não há previsão, contudo, de Carlos ser transferido para Cuiabá.

Nas palavras do delegado, o advogado de Carlos está buscando uma forma de trazer Carlos diretamente ao Centro de Custódia da Capital (CCC). Carlos tem nível superior, mas não foi informado em qual área.

Ainda segundo o delegado, a família Bezerra, não foi informada pela vítima das ameaças que ela estava sofrendo de Carlos. Ainda na data de ontem, o deputado Carlos Bezerra, afirmou que seu filho iria se entregar à delegacia, contudo o homem foi preso por policiais em uma fazenda da família.

Thays deixa uma filha de 12 anos, que não é do relacionamento com o suspeito.

O suspeito passará por audiência de custódia às 15h30 desta tarde de quinta-feira, 19. A audiência será conduzida pela juíza Caroline Schneider Guanaes Simões, da 3ª Vara de Campo Verde.

Estadão Mato Grosso