MidiaNews | Meu pirão primeiro
A frase, tida como capitalista, é a que melhor expressa a antiga prática dos oportunistas de ocasião. Hábito esse, que voltou a estar em pleno vigor desde o dia 01/01/2023. Talvez até antes disso, a considerar o que acontece descaradamente nas altas cúpulas dos três poderes da República.
Só não vê quem tapa os olhos com uma viseira relacionada a outro dito, qual seja, “o que é que eu vou ganhar com isso”, muito popular nos três níveis de governança e nas empresas de comunicação onde até a notícia é paga. Para quem não entendeu a questão da governança, trata-se da maneira de gerir instituições, nesse caso as públicas e de economia mista.
Pirão, no jargão político, é o que se ganha na arte de negociar o que não é seu, o que para muitos também é entendido como a astúcia de tirar proveito da coisa alheia, principalmente em se tratando do erário público. Já em relação à culinária, pirão é o resultado da inserção de farinha para engrossar um caldo. Creio que essa singela explicação basta para fazer entender a analogia com o que está acima colocado.
Então, a abstinência dessa apreciada iguaria política deixou muita gente desesperada a ponto de o desconforto cegá-las quanto às consequências de seus atos. Adicionando essa somatização aos costumes da gastança desenfreada, das alianças inconsequentes e dos compromissos impagáveis teremos como resultado a negociação da dignidade, se é que um dia ela existiu em quem só se satisfaz se tiver desse pirão no seu cardápio.
A muito custo essa costumeira prática na arte de fazer política chegou a ser reduzida no passado recente na vã tentativa de moralizar a escrachada, ridicularizada, desacreditada, depreciada, desconceituada e desabonada leva de parlamentares que, eleição após eleição, vem sendo conduzida às duas Casas do Congresso Nacional, em grande parte graças aos votos de legenda e procedimentos nada republicanos de compra de votos.
Seria o caso de dizer inacreditavelmente, mas não dá porque efetivamente a maioria dos processos de cassação (quando existem) de candidatos desonestos não termina, melhor dizendo, termina em nada.
A justiça, seja ela comutativa, geral ou legal e distributiva, cuja simbólica estátua a apresenta como impossibilitada de ver, portanto, de ser manipulada pelos pesos colocados em sua balança, mostra não ser ela totalmente cega quando se deixa levar por subterfúgios habilmente plantados nas entrelinhas do livro das leis, seu Vade Mecum, para ser burlada em sua essência.
De acordo com o site etmologia.com.br, a ideia de justiça tem uma abordagem dupla, pois de um lado expressa a qualidade de ser justa e equilibrada na tomada de decisões e, paralelamente, faz referência a um sistema legal. Então, é nesse paralelismo com “O SISTEMA” que tudo pode acontecer como de fato acontece, infelizmente.
Marcelo Augusto Portocarrero é engenheiro civil.