2023 deve ser o mais violento dos últimos anos em MT, prevê especialista
Pixabay
Ainda na primeira metade do mês de março, a população mato-grossense tem assistido perplexa ao show de horrores que tomou conta do estado, com o alto número de crimes violentos em 2023. Assassinatos brutais foram registrados por todo o Mato Grosso, da Baixada Cuiabana ao Nortão, passando pelo Araguaia, região oeste e municípios fronteiriços com outros estados e Bolívia.
As causas por trás de tantos episódios de barbárie vão de desavenças no crime organizado a rixas entre pessoas sem envolvimento com o mundo do crime e que, até então, levavam uma vida dentro da legalidade. A sequência de crimes se torna um desafio ainda maior à Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp-MT).
– FIQUE ATUALIZADO: Entre em nosso grupo do WhatsApp e receba informações em tempo real (clique aqui)
– FIQUE ATUALIZADO: Participe do nosso grupo no Telegram e fique sempre informado (clique aqui)
Gilberto Leite | Estadão Mato Grosso
Para o professor Naldson Ferreira, bandidos podem aproveitar aumento de armas nas ruas para roubar cidadãos e, assim, reforçar seu poder bélico
Para Naldson Ramos, professor da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e especialista em segurança pública do Núcleo Interinstitucional de Estudos da Violência e Cidadania (NIEVCi), 2023 será um dos anos mais violentos para o estado de Mato Grosso.
“Armas em circulação, a região Norte onde crime organizado está tomando conta… esses são dois fatores que com certeza influencia na previsão. Além do crime de feminicídio e o confronto entre os criminosos e a polícia”, exemplificou o especialista ao Estadão Mato Grosso.
A previsão do professor caminha no mesmo sentido de dados consolidados pela Superintendência do Observatório de Segurança Pública, órgão vinculado à Sesp-MT. No ano passado, foram 923 homicídios dolosos praticados em todo o estado. Além de ser alto por si só, o número escancara um crescimento absurdo após um curto período de reduções. A última vez em que o número de execuções esteve neste patamar, foi em 2017, quando Mato Grosso contabilizou 985 homicídios dolosos.
No ano seguinte, o estado registrou 916, apresentando queda nos anos subsequentes: 2019 (843), 2020 (810) e 2021 (749). O crescimento entre este último e o ano de 2022 é superior a 20%.
Na análise do professor, o aumento de armas legais em circulação deve contribuir também para o aumento de armas em posse de criminosos. Isso porque, ao encontrar uma arma na casa de alguma vítima de roubo, o bandido pode se sentir motivado a cometer o mesmo crime mais vezes.
“Quando o bandido entra na sua casa, ele está em busca de objetos de valor. Relógio, telefones, televisões, mas o interesse dele maior é por armas. Quando o bandido invade a residência, ele pergunta: “tem armas? Se você mentir, você vai morrer. Eu vou procurar, se eu achar você vai morrer”” comentou.
A flexibilização na política de aquisição das armas foi uma das bandeiras do ex-presidente Jair Bolsonaro durante sua campanha eleitoral, ainda em 2018. Uma vez eleito, ele cumpriu a promessa de desburocratizar o acesso de civis às armas, o que causou uma “explosão” de vendas no setor.
Conforme dados do Exército Brasileiro, os estados de Mato Grosso e Mato Grosso do sul registraram 33.079 novas armas, que estão nas mãos dos Colecionadores, Atiradores e Caçadores (CACs). Os dados são de 2022 e, para o professor, representam um aumenta do risco de crimes violentos.
Na contramão do último presidente, o novo governo é contrário ao armamento civil por entender que mais armas nas ruas pode gerar mais violência. Logo no começo de seu novo mandato, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) determinou o recadastramento de todas as armas compradas até maio de 2019. O prazo se encerra no dia 3 abril e o projeto tem como objetivo reduzir a circulação de armas no Brasil.
“Foram cadastradas até agora, parece que 290 mil armas desse decreto para cá. Eles acreditam que o registro total das armas compradas não vai chegar a 50%”, asseverou o especialista.
ARMAMENTO CIVIL
Não é de hoje que a população brasileira discute sobre a posse e o porte de armas por cidadãos comuns. Em outubro de 2005, quando Lula estava em seu primeiro mandato como presidente, o Brasil foi às urnas para votar um plebiscito sobre a proibição, ou não, do comércio de armas no país. Na ocasião, 59 milhões de brasileiros optaram por não proibir a prática.
A votação resultou na exclusão do artigo 35 do Estatuto do Desarmamento (Lei nº 10.826/2003), que previa justamente essa proibição de venda de armas no país. Mesmo assim, o Governo se dedicou à campanha de desarmamento, motivando a população a entregar suas armas às forças policiais.
Um dos principais argumentos dos opositores ao armamento é que a Segurança Pública é dever do Estado, aumentando o policiamento preventivo e realizando um serviço em conjunto com as forças de segurança para desmontar o crime organizado no estado. Esta também é uma das defesas do professor Naldson Ramos.