Gerente e instrutores suspeitos de torturar policial em curso são afastados
Governo de MT/Divulgação
Um gerente e quatro instrutores do Grupo de Intervenção Rápida (GIR), suspeitos de torturarem uma policial penal em um curso da corporação, em Cuiabá, foram afastados do cargo nesta sexta-feira (10). A vítima contou que foi torturada após ter denunciado um caso de importunação sexual por parte de um colega de trabalho.
A Secretaria Estadual de Segurança Pública (Sesp-MT) informou, por meio de nota, que determinou a suspensão imediata do curso no momento em que o boletim de ocorrência foi lavrado, afastou os policiais penais denunciados e abriu inquéritos para apurar a denúncia. Sobre o caso de importunação sexual, informou que também abriu um procedimento administrativo para apurar a denúncia.
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Em entrevista à TV Centro América, a agente contou que as sessões de tortura aconteceram no dia 3 de março, durante o Curso de Intervenção em Recinto Carcerário (CIRC), aplicado pelo GIR.
“Me torturaram o tempo todo. Jogaram gás no meu rosto, espuma, mais de dois vidros, no meu corpo inteiro. Queimaram meu rosto e a minha boca”, disse a vítima.
Segundo a policial penal, o suspeito que cometeu importunação sexual teria passado a mão no corpo dela e também a espionado tomando banho na Penitenciária Central do Estado (PCE). Em outro momento, ela contou que o suspeito abriu a janela para olhar seis mulheres que trocavam de roupa. Depois disso, elas teriam sido coagidas a não comentar os episódios de importunação.
A Justiça determinou o afastamento dos integrantes do GIR, além do policial penal suspeito de importunação sexual contra a vítima. Após a denúncia, os suspeitos foram presos em flagrante, liberados no mesmo dia e tiveram os celulares apreendidos. Eles respondem ao inquérito por lesão corporal, coação no curso do processo, cárcere privado e tortura.
As agressões
Segundo a policial penal, a denúncia do crime de importunação sexual, ocorrido em novembro do ano passado, motivou a tortura no curso. Ela contou que foi vendada e levada a uma sala escura, onde ocorreram as agressões.
“Se alguém der uma pancada nas minhas costas, não sou capaz de identificar quem é. Nessa sala, ele me perguntou se eu estava querendo ver o meu coleguinha de farda preso”, disse.
Conforme a vítima, dentro da sala, os envolvidos teriam a questionado sobre o motivo dela ter feito a denúncia. Ela se defendeu dizendo que o policial penal estava observando ela sem roupa pela janela do alojamento. Mesmo assim, os colegas não aceitaram a resposta e a acusaram de deixar a janela aberta propositalmente, segundo a vítima.
“A intenção era saber sobre o meu depoimento do boletim de ocorrência, que é sigiloso. Não disse, me calei. Contaminaram os meus olhos com um produto que causa irritação, fecha involuntariamente as pálpebras e causa uma dor tremenda”, relatou.
Segundo a agente, os suspeitos faziam de tudo para que ela desistisse do curso.
“Puxaram meu braço para bater o sino. Depois, me colocaram em uma viatura e falaram que iam me levar para um determinado local. Eu falei que não queria. Eles falaram que era a ordem do coordenador do curso me levar para esse local”, disse.
A policial contou que ela abriu a porta da viatura, saiu com os olhos vendados e pediu socorro.
“Uma senhora abriu a porta da casa dela e me escondeu debaixo de uma cama. Eles chegaram pedindo para ela abrir a porta, dizendo que eu estava em surto psicótico, que não estava em minhas condições mentais e eu pedia para ela não abrir”, contou.
Outros episódios
A vítima contou ainda que, durante exercícios de flexão no curso, teve as mãos pisadas e diziam que ali não era lugar para ela, que deveria estar “na cozinha, lavando vasilha”. Além disso, a policial penal teve gás lacrimogêneo jogado diretamente nos olhos e na boca.
Ela também relatou que jogaram anilhas do gás dentro de uma barraca onde ela trocava de roupa e que, quando tentava sair para respirar, os instrutores falavam para ela: “Bate o sino e sai do curso. Seu lugar não é aqui. E vai lavar vasilha”, consta no boletim de ocorrência.
Quando a policial errava os comandos, os instrutores a faziam correr em volta da turma e a chamavam de “burra”. Tal punição, conforme a denúncia, não acontecia com outros alunos.