Grupo denuncia massacre de mulheres em MT e entrega carta de reivindicações
Luana Soutos | Adufmat
O Dia Internacional das Mulheres tem sido cada vez mais forte no Brasil e no mundo. Isso porque a história é prova de que somente a organização é capaz de transformar realidades. Assim, depois de dois dias de acampamento pedagógico, mulheres de Mato Grosso apresentarão uma série de reivindicações que serão entregues a autoridades, instituições e representantes públicos do estado. A entrega simbólica será por meio de coletiva de imprensa, na quarta-feira, 08/03, às 11h, no prédio da FUNAI, ao final do ato público do Dia Internacional das Mulheres.
“Em 2022, uma companheira tombou por dia, vítima do feminicídio; foram notificadas 38 violências contra a mulher por hora na Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos e 93 estupros por dia. Nesta máquina de moer mulheres, as negras e trans são as mais violadas: 67% dos feminicídio foi contra mulheres negras; 26% contra mulheres brancas e 1% indígenas; e 38% das violências contra pessoas trans no mundo aconteceram no Brasil”, apontam em documento elaborado já no primeiro dia de acampamento, demonstrando a realidade que querem mudar.
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A lista de demandas foi construída nesses dias de imersão, com a contribuição de mulheres que vivem nas cidades e no campo, indígenas, quilombolas, trans, fartas de tanta insegurança e privação. Entre as ações reivindicadas estão: o assentamento imediato de 680 famílias já acampadas há quase 20 anos – direito garantido pela constituição; políticas públicas para as famílias já assentadas, que garantam produção e comercialização de alimentos saudáveis, acesso a direitos básicos relacionados a saúde e assistência social; implementação das delegacias especializadas das mulheres nas cidades do interior onde não tem e efetivação daquelas que já existem, mas estão precarizadas; melhor preparo da Polícia para tratar casos de violência contra as mulheres; atuação política para revogação das contrarreformas Trabalhista, da Previdência, e da Lei de Tetos de Gastos; políticas de equiparação salarial.
No ato há mulheres que vivem em Cuiabá e também em outros municípios do estado, como Novo Mundo, Nova Guarita, Jaciara, Nova Olímpia, Cáceres, Mirassol d’Oeste, entre outras.
Confira, abaixo, a íntegra do texto construído no primeiro dia de acampamento das mulheres trabalhadoras de Mato Grosso:
Seguiremos em Marcha até que todas sejamos livres!
Em 2018 nossas vozes ecoaram pelo mundo gritando “Ele não”, mas não nos ouviram. A partir de então, um governo fascista assume o poder disseminando ódio contra indígenas, negros e negras, quilombolas, LGBTQIA+ e mulheres, atacando intensamente a classe trabalhadora enquanto provocava devastação ambiental sem precedentes. Todas essas violências estão ligadas: é o exercício do poder racista e patriarcal do homem branco burguês que, dentro da sua petulância, se coloca acima de tudo e de todos, sem se preocupar com as consequências humanas e ambientais que denotam esgotamento.
Diante de governos misóginos, tanto o governo Federal na figura de Jair Bolsonaro, quanto o governo estadual de Mauro Mendes aniquilaram os direitos da classe trabalhadora, sobremaneira, a desconstrução das parcas Políticas Públicas para Mulheres.
Apesar de parte da população tratar dos ataques dos nossos corpos como piada e parte da esquerda denominar esses ataques como “cortina de fumaça”, a verdade é que essa postura castigou nossos corpos: o Brasil que sempre foi campeão de feminicídio, sendo o quinto país que mais mata mulheres no mundo, em 2022 conseguiu piorar suas marcas.
Chegamos a mais um 8 de março sem motivos pra celebrar, mas muitos para lutar: em 2022 uma companheira nossa tombou por dia, vítima do feminicídio; foram notificadas 38 violências contra a mulher por hora na Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos e 93 estupros por dia.
Nesta máquina de moer mulheres, as negras e trans são as mais violadas: 67% dos feminicídio foi contra mulheres negras; 26% contra mulheres brancas e 1% indígenas; e 38% das violências contra pessoas trans no mundo aconteceram no Brasil.
Mesmo dilaceradas, seguimos em marcha e derrotamos o fascismo nas urnas, inaugurando tempos de recomeço: é hora de reconstruir o Brasil! Com a eleição do governo Lula, de caráter democrático-popular, nós, mulheres de Mato Grosso, entendemos que é hora de reunirmos as mulheres do campo e da cidade; negras, indígenas e quilombolas; mulheres LBTs e de axé; todas juntas para levantarmos nossas necessidades e reivindicarmos uma democracia que não seja o livre exercício do poder do macho sobre nossos corpos, mas o livre exercício de nossos direitos em pé de igualdade numa democracia em que caiba nossas necessidades e sonhos!
Se o financiamento dos atos anti-democráticos indica que em Mato Grosso está o ninho das serpentes fascistas, seremos nós a ponta de lança de resistência e fundação de um mundo novo com a Amazônia, Pantanal, Cerrado e demais biomas preservados; com a multiplicidade de culturas entendidas como a nossa potência; com a socialização do acesso à terra e ao alimento; com a economia voltada a dar dignidade ao nosso povo.
Nos dias 06 e 07 estivemos em plenária para definir nossas urgências e ao dia 08 de março, junto com as mulheres do mundo todo na greve internacional das mulheres, bradaremos a sociedade mato-grossense as nossas pautas pelas quais seguiremos em marcha, em unidade. Para tanto, marcharemos no dia 8 de março com concentração na praça Ulisses Guimarães às 8 horas e chamamos a imprensa para una coletiva às 11 horas na FUNAI.