Em depoimento à Polícia, vítima de cobradores omitiu chicotadas

Em depoimento prestado em maio do ano passado, o empresário L.J.E.S. deu à Polícia Civil sua versão sobre o episódio em que foi agredido, sequestrado e ameaçado por integrantes do grupo conhecido como “cobradores do chicote”. Ele, porém, não contou toda a verdade, segundo os investigadores, por medo de represália.

O crime em tela, a forma de execução e agressões físicas suportadas pela vítima foram gravadas em vídeo

 

O grupo foi alvo da Operação Piraim, deflagrada na quarta-feira (20) pela Polícia Civil em Cuiabá. Na ação foram presos os empresários Rafael Geon e Bruno Rossi, supostos mandantes da ação. Quatro cobradores estão foragidos. 

 

Algo que chamou a atenção dos investigadores é que, em momento algum do depoimento, a vítima relatou as chicotadas que recebeu em um terreno na Avenida Miguel Sutil em plena luz do dia. Essa informação só veio à tona três meses depois, quando o vídeo da agressão viralizou. 

 

“Ocorre que (…) o crime em tela, a forma de execução e agressões físicas suportadas pela vítima foram gravadas em vídeo pelos próprios criminosos, sendo que as imagens foram expostas na internet no dia 15/08/2023 e tomou proporção a nível nacional, tanto pela audácia dos criminosos em registrá-las, quanto ao uso de chicotes para agredir a vítima”, escreveu o delegado Guilherme Bertoli no documento em que pede a prisão dos suspeitos.

 

“E ainda, está nítido que a vítima, receosa pela sua integridade física, dos seus familiares e sua própria vida, isentou os criminosos no dia da condução para a delegacia de polícia”.

 

No depoimento, L.J.E.S. incrimina uma pessoa chamada Gabriel, que, segundo ele, teria sido o mandante da agressão. Para a Polícia, ao citar Gabriel a vítima tentou isentar Rafael e Bruno das acusações. O delegado Bertoli informou ao MidiaNews que, a princípio, não há indícios do envolvimento de Gabriel na sessão de tortura, tanto que ele não foi alvo da operação.  

 

O depoimento de L.J.E.S. foi prestado no dia 4 de maio deste ano às 19h45. A oitiva dele só ocorreu porque seu pai acionou a Polícia Civil ao tomar conhecimento que o filho estava em poder de cobradores. Por isso todos foram levados para a Delegacia e ouvidos. 

 

Segundo o depoimento do empresário, ele tinha se dirigido a um posto de gasolina na saída para a Chapada dos Guimarães, às 14h daquele dia, para um encontro que tinha marcado com Bruno Rossi, para quem devia dinheiro. Chegando ao local, disse, se deparou também com Rafael Geon, a quem ele também devia.

 

Na conveniência do posto, o empresário conta que foi cobrado pela dívida e ameaçado por ambos de agressão caso ele não quitasse o valor, que somava R$ 147 mil.

 

Ainda conforme o depoimento, após um tempo de conversa em que L.J.E.S. tentava negociar novos prazos com seus credores, chegaram mais três pessoas, segundo ele e mando de Gabriel, para também lhe fazer ameaças. Um dos homens pegou um pedaço de borracha que estava no chão e começou a agredi-lo, acertando-o nos braços e no rosto, causando hematomas.

 

Em determinado momento, relata L.J.E.S., os credores e cobradores quiseram sair do local por medo de a polícia chegar. O devedor e seu motorista se dirigiram, no veículo do amigo, até outro posto no Bairro Santa Rosa e foram seguidos por dois cobradores que também estavam no primeiro posto.

 

Lá, o empresário diz que ele e seu motorista foram obrigados a entrar na caminhonete dos cobradores, onde permaneceram por cerca de duas horas sofrendo ameaças psicológicas e de agressão, além de ameaças de prolongamento do sequestro até a dívida ser paga.

 

Durante o cárcere, L.J.E.S. recebeu uma ligação do pai, que foi atendida por um dos cobradores. Nela, o pai informou que policiais estavam em uma escola que pertence à família, esperando a soltura das vítimas.

 

Ainda conforme a versão da vítima, após a ligação, os cobradores se dirigiram até a região da escola e soltaram o empresário e o motorista em uma rua próximo ao local, no Bairro Verdão.

  

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