“Não há nada de opressor e ideológico nas escolas militares”, diz secretário

 

O secretário estadual de Educação Alan Porto defendeu o Projeto de Lei que visa implementar mais escolas militares em Mato Grosso. Para ele, o sistema de ensino não é “ideológico e nem opressor”.

O projeto, de autoria do Governo do Estado, já foi aprovado em primeira votação pela Assembleia Legislativa. Agora, segue para segunda votação, que deve ocorrer apenas no ano que vem.

“Existe um anseio grande da sociedade, a maioria dos municípios estão solicitando a transformação de escolas regulares em militares. Não é isso que vai resolver o problema da Educação, mas vamos criando unidades com bons resultados e isso vai melhorando o índice da educação mato-grossense”, analisou.

Em entrevista ao MidiaNews, o secretário comentou sobre os projetos educacionais do Governo de Mato Grosso e revelou os valores empreendidos neles. Um dos planos de Porto é fazer com que, em dez anos, a Educação mato-grossense entre na lista das melhores do Brasil.

Confira os principais trechos da entrevista:

MidiaNews – Na última entrevista que deu ao MidiaNews, o senhor disse que pretendia tornar a Educação mato-grossense entre as melhores do Brasil nos próximos anos. Quais metas foram alcançadas desde então?

Alan Porto – A política pública Educação Dez Anos é formada por mais 30 políticas que trabalham em três eixos: modernização da infraestrutura, tecnologias educacionais e a parte pedagógica.

Dentro dessas políticas, temos 130 projetos que são iniciativas. O objetivo é colocar a educação do Estado, no período de dez anos, entre as cinco melhores do país. Dentro dessa dinâmica, tenho alguns indicadores que acompanho: aprendizagem, indicada através da prova do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) que vai medir a cada dois anos; erradicação do analfabetismo, temos a política do Mais MT – em 2019 tínhamos 6% da população analfabeta, que compreende 200 mil mato-grossenses e, conforme Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade), já diminuímos para 4,6%.

A política está a todo vapor. Acreditamos que nos próximos cinco anos vamos alcançar menos de 3%. Além disso, monitoramos a evasão escolar. Já chegamos a taxa de 11% no Ensino Médio e, hoje, estamos na taxa de 8%. Queremos fortalecer três pilares da parte pedagógica: currículo, avaliação e formação continuada do professor. Temos um grande sistema de avaliação, que chama Avalia MT. Fazemos uma avaliação diagnóstica e monitoramos o estudante. A cada dois meses, vemos o que ele aprendeu e o que não aprendeu, fazemos a recomposição da aprendizagem dele. No fim do ano, avaliamos o que ele melhorou pedagogicamente.

Esse é o caminho do sucesso, mas na Educação pública com 664 escolas, 340 mil estudantes, não vamos conseguir os resultados de um dia para o outro, mas já melhoramos. Em 2019, começamos com o Ensino Médio sendo 22º Estado no Brasil, hoje somos o 19º. No Ensino Fundamental, saímos de 16º para 15º, mesmo com problema de pandemia. Isso demonstra que a política de melhorar a Educação, adotada pelo Estado, começa a surtir efeitos e temos evidências do que está sendo executado.

MidiaNews – A evasão escolar é algo que preocupa a Seduc? Existe um diagnóstico do problema?

Alan Porto – Temos vários aspectos dessa questão da evasão escolar. Vemos problemas com as violências que acontecem – e isso não é um problema de Mato Grosso, é do Brasil e do Mundo -, crescimento grande de bullying, problemas de ansiedade, de abusos…

É um contexto social enorme que acontece em várias esferas na sociedade, dentro das famílias, que acabam recaindo na educação estadual. Dentro das escolas, temos acompanhamento psicossocial com psicólogos e assistentes sociais para entender aquele jovem que está com defasagem de aprendizado ou na iminência de abandonar os estudos. Isso tem dado muito certo.

Em 2024 vamos ampliar essa política. Para garantirmos que a escola será atrativa, investiremos na modernização com ferramentas que chamam a atenção. Criamos o grêmio estudantil, tivemos a Copa Educa, temos plataformas game, notebook nas salas de aula, salas climatizadas, acesso à internet, aulas dinâmicas com praticas pedagógicas diferentes na sala de aula. Um ambiente atrativo e motivador.

Esse ano vamos premiar os três melhores estudantes de cada turma com smartphone, fone de ouvido. Vamos ter uma etapa estadual. O estudante que tiver o melhor resultado tem a chance de ganhar R$ 5 mil na etapa regional. Terá uma competição sadia com os amigos da turma.

MidiaNews – Muitos jovens são influenciados por facções criminosas e, algumas vezes, são recrutados por elas. A Secretaria de Educação se preocupa com esse cenário?

Alan Porto – Com certeza! É uma preocupação do Brasil todo. Precisamos de ações integradas entre secretarias e órgãos de controle e é isso que a Seduc vem fazendo. Promovemos a cultura de paz dentro das escolas.

Realizamos o diagnóstico semestral para identificar quais são os tipos de violência que os jovens e professores passam. Identificamos bullying, cyberbullying, racismo, abusos, ansiedade, automutilação… Vários aspectos de violência.

Com base nesse diagnóstico, temos trabalhado como mediadores. Se o aluno fica três dias sem ir à escola, a coordenação entra em contato com a família. Caso não consiga, aciona o Conselho Tutelar para identificar porque a criança faltou.

Trabalhamos na parte preventiva, como na parte da saúde mental. Trabalhamos no aspecto socioemocional com três temas: ética, empatia e responsabilidade no ambiente escolar, envolvendo as famílias nas atividades extracurriculares.

Temos parceria com o Tribunal de Justiça para formar professores, promovemos os círculos de paz nas escolas; temos muitas iniciativas para criarmos um ambiente adequado nas escolas. Sabemos do contexto social que o país vive e temos que levar isso em consideração. Temos ações dentro da política preventiva e corretiva e, é claro, esse processo passa por um aperfeiçoamento a cada ano.

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Secretário afirma que o orçamento disponibilizado à Educação é suficiente

MidiaNews – O senhor acredita que os estudantes já recuperaram o tempo perdido na pandemia?

Alan Porto – A pandemia foi uma tragédia, uma sequela que aconteceu no Mundo. Ainda estamos em um processo de recomposição da aprendizagem. Especialistas já afirmaram com evidências comprovadas que passaremos cinco anos [recuperando os danos].

A pandemia foi em 2020, então até 2026 temos um processo de recomposição da aprendizagem nos três níveis, tanto para o Ensino Fundamental nos anos iniciais, quanto nos anos finais de recuperar a competência dos assuntos que alunos não conseguiram aprender em anos anteriores, e os estudantes do Ensino Médio, porque eles precisam de apoio para entrar em uma universidade.

Hoje o Estado tem estratégias para recompor. Criamos a quinta aula; todos tem acesso à quinta aula de língua portuguesa e matemática com material específico e personalizado.

MidiaNews – A pandemia ajudou a implantar a tecnologia nas escolas?

Alan Porto – Todo mundo acelerou a implementação de ferramentas tecnológicas. Na Educação não foi diferente, colocamos um computador para cada professor. Temos 33 mil profissionais da Educação e todos receberam. Receberam pacote de internet durante três anos, todo mês pagamos uma ajuda de internet para os profissionais da educação.

Estamos falando de um investimento de R$ 396 milhões. É algo que nunca aconteceu. Até nas escolas indígenas conseguimos colocar internet satelital. Você vai nas escolas indígenas e tem chromebook, computador, toda a tecnologia que há quatros anos não era possível.

Com essa pandemia, conseguimos acelerar os investimentos e facilitar a vida dos estudantes.

MidiaNews – Há alguns meses, o governador Mauro Mendes enviou um Projeto de Lei cuja intenção era aumentar o número de escolas militares. A Seduc tem um calendário previsto para a criação dessas unidades de ensino?

Alan Porto – O Projeto de Lei está na Assembleia Legislativa, já foi aprovado em primeira votação. Estamos aguardando a segunda. Assim que sancionar, o Estado de Mato Grosso ouvirá as escolas, os pais e os estudantes para saber quais tem interesse de fazer a transformação de escola regular em militar.

A vantagem desse projeto é que o diretor pode ser tanto civil quanto militar. O militar pode ser do Corpo de Bombeiros, da Polícia Militar, das Forças Armadas… Ele passará por um processo seletivo, tem que ter competências na área da Educação. Não é qualquer militar que entra.

O currículo da escola é o mesmo, o valor que vai para a escola é o mesmo. A gestão é que passará por mudança. Já temos evidências boas. As 26 escolas militares implantadas no Estado têm bons resultados na área da aprendizagem, bom convívio com as famílias…

Existe um anseio grande da sociedade. A maioria dos municípios está solicitando a transformação de escolas regulares em militares. Não é isso que vai resolver o problema da Educação, mas temos escolar militares com bons resultados.

Vamos criando unidades com bons resultados e isso vai alavancando, melhorando a aprendizagem dos estudantes, o índice da educação mato-grossense.

MidiaNews – A possibilidade de implantar mais escolas militares gerou reação de setores contrários. 

Alan Porto – Não há nada de opressor e ideológico nas escolas militares. Conheço as 26 escolas, converso com os professores das unidades, todos gostam. A questão da ética, do respeito, da empatia, da responsabilidade é importante para o convívio social.

Todos nascemos em um ambiente de educação, respeito. Respeitar as regras começa dentro de casa. A sociedade vive assim. Esse ambiente é super importante em qualquer lugar. O que queremos é que nossas escolas, independentemente de serem militares, respeitem as regras, os professores.

O aluno hoje é protagonista, crítico, pensante. Temos um estudante diferente do século anterior. O estudante do século XXI quer participar. Se ele tem uma dúvida, entra no Google e fala: “Professor, acho que não é assim, vamos aprofundar no assunto”. Para gerar esse ambiente, tem que ter disciplina e regras. Por isso tem esse anseio da sociedade, porque percebe a mudança comportamental de seus filhos dentro de casa.

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ALAN

Alan Porto defendeu a implementação de escolas cívico-militares e disse que elas são solicitadas por diversas cidades de Mato Grosso

MidiaNews – A Seduc pretende pagar 14º e 15º salário aos professores. Quais são os critérios para que eles recebam esse benefício?

Alan Porto – Esse é um assunto muito importante. Nenhum Estado tem feito como Mato Grosso.

Um professor de 30 horas ganha R$ 5.050. Se ele bater as metas, tem a chance de ter um 14º, 15º salário. Em dezembro, há a chance de ganhar R$ 10 mil. Esse incentivo não é só para o professor, é para o técnico, apoio à merendeira, limpeza, ao vigia… para toda a rede estadual.

O resultado é por escola e existem quatro parâmetros: assiduidade, garantindo a presença do profissional da Educação durante o ano letivo; formação do professor, fazendo 184 de formação ao longo do ano; diminuir a evasão escolar; melhorar a aprendizagem.

Cada escola tem uma meta de crescimento de 15%. Se todas as escolas crescerem 15%, estaremos entre as cinco melhores escolas da Educação brasileira. Claro que esse processo acontecerá gradativamente, a médio e longo prazo, mas o governo tem incentivado nesses quatro parâmetros.

Fizemos a avaliação no final de novembro. Os resultados estão sendo analisados. Nós vamos divulgar os resultados e, os profissionais que conquistaram as metas vão receber gratificações.

MidiaNews – Quantos alunos receberão gratificações neste ano? Quais são os valores?

Alan Porto – Nós não incentivamos só o professor, também incentivamos a Educação como um todo. O aluno motivado consegue fazer coisas que não imagina, é muito bom.

Esse ano vamos premiar os três melhores estudantes de cada turma, temos 14 mil turmas. Eles terão chances de ganhar prêmios como smartphone, fones de ouvido, tablete… Isso na etapa municipal. Também terá a etapa regional com a chance de ganhar R$ 5 mil em dinheiro ao conquistar os resultados.

É inovador. Não existe nenhuma premiação no Brasil dessa magnitude. Estamos falando de investimentos na ordem de R$ 6 milhões para os estudantes de Mato Grosso.

Além disso tem a criação dos grêmios estudantis. Eles [estudantes] têm participado. Esse ano a gente realizou a Copa Educa, primeiro campeonato de games da nossa rede onde participaram muitos estudantes. Tivemos mais de três mil inscrições. São games educativos.

É criar um ambiente melhor dentro da escola, que incentiva a falar a mesma língua do estudante. É um estudante muito tecnológico. Se pegarmos a questão do game e alinhar à Educação, ao aprendizado, dá muito certo. Temos bons resultados.

MidiaNews – Um dia será possível Mato Grosso ter 100% das escolas funcionando no sistema de ensino integral?

Alan Porto – Em 2019, o governador Mauro Mendes recebeu o Estado com 39 escolas integrais. Nesse ano, chegamos a 80 e, no ano que vem, serão 112. Considerando 664 escolas, temos avançado de forma significativa.

Para ter escolas integrais, temos que ouvir o nosso principal cliente: o estudante. Tem estudantes que também não querem ficar 100% do tempo na escola porque trabalham, precisam fazer outras atividades. Tem estudantes que preferem ficar.

Temos quer ter alternativas condizentes com a realidade de cada região e a realidade dos nossos estudantes. Se eu coloco tudo em tempo integral, posso aumentar a evasão escolar desses estudantes que precisam trabalhar no contraturno, ajudar a família. O Estado vem fazendo isso de forma responsável, ouvindo as comunidades, fazendo reunião com pais e profissionais.

Entendemos que mais tempo dentro da escola é mais benéfico para o estudante. Ele fica em um ambiente de aprendizagem, no contraturno faz atividades extracurriculares. Os resultados são melhores do que as escolas regulares, existem muitos benefícios.

MidiaNews – Qual é a avaliação que o senhor faz do programa Jovens Embaixadores? Tem atingido o objetivo?

Alan Porto – Sem sombra de dúvidas, o programa MT no Mundo é dos mais especiais. É um programa de intercâmbio. Neste ano, levamos 100 estudantes para a Inglaterra. Foram selecionados pela proficiência em língua inglesa, sendo 50 melhores no idioma e outros 50 melhores na formação básica.

Eles ficaram lá 21 dias em casas de família, foram matriculados nos melhores cursos de línguas inglesa. Tiveram a oportunidade de fazer uma imersão cultural em Londres e outras cidades, de conhecer Oxford, Cambridge, que são as melhores universidades do mundo.

Sempre foi muito caro e não teve custo nenhum para o aluno de tirar passaporte, de alimentação e de se matricular no curso de inglês. Foi tudo pago pelo Estado. Eles passaram por uma avaliação internacional que se chama TOEIC e foram selecionados 14 jovens embaixadores.

Para 2024, o governador Mauro Mendes garantiu mais 100 estudantes que vão para a Inglaterra.

MidiaNews – Uma preocupação frequente é o ataque às escolas que vitimam professores e estudantes. Como a Seduc enfrenta esse cenário?

Alan Porto – O Estado de Mato Grosso tem feito tudo para que nenhuma violência ocorra nas unidades escolares. Hoje temos o núcleo de mediação escolar onde fazemos o diagnóstico a cada semestre, identificando quais são os principais atos de violência.

Essa violência começa com a discussão de uma coisa que, para nós, é muito pequena. Isso vai sendo alimentado ao longo dos anos e acaba ocorrendo tragédias em escolas. A Secretaria tem políticas principalmente na parte de segurança. Fizemos parceria com a Segurança Pública colocando câmeras nos ambientes escolares para identificar agentes externos, tipos de furto ou qualquer outra violência.

Criamos o botão do pânico. Essas câmeras são interligadas à Central de Inteligência da Polícia Civil e Militar. Temos rondas militares que acontecem na unidade escolar. São ações corretivas para que não aconteça nada e aquele ambienta seja seguro.

Temos trabalhado muito na parte preventiva, na formação de professores e promovendo cultura de paz. Temos parcerias com o Tribunal de Justiça, com o Ministério Público, formando professores facilitadores para rodar o círculo de paz, entendendo porque a criança está com ansiedade, porque não vai bem na aprendizagem, se tem algum problema familiar ou se está passando por algum tipo de abuso.

O Estado tem investido muito em psicólogos, assistentes sociais, trabalhando com a rede de proteção, com Conselhos Tutelares e com a orientação pedagógica desses estudantes, visando os aspectos socioemocionais.

Em Mato Grosso não aconteceu nenhum tipo de tragédia como vimos nos outros estados, isso mostra que nossas políticas estão funcionando.

Já fizemos aquisição de mais 4.500 câmeras e queremos instalá-las em todas as escolas de Mato Grosso para que tenhamos condição de monitorar e executar nossas políticas para que nenhum mal aconteça.

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