Ano ainda não acabou e já ultrapassou 2022 em número de mulheres mortas em MT

O ano ainda não acabou e o número homicídios contra mulheres, incluindo feminicídios, já é maior que o registrado no ano passado, 2022, e em 2021. Em números, foram 94 mulheres mortas até novembro deste ano. Deste número, 52 casos ainda são classificados como homicídio de mulheres e 42 são tipificados como feminicídio. Entenda a diferença abaixo.

Os dados foram obtidos em 1ª mão pela reportagem do Estadão Mato Grosso, que entrevistou a delegada Jannira Laranjeira, coordenadora do plantão de atendimento 24 horas às vítimas de violência doméstica e sexual em Cuiabá, na tarde desta quarta-feira (06).

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Igor Guilherme | Estadão Mato Grosso

Jannira

 

“Homicídio é quando a investigação não apontou que a mulher morreu em decorrência do gênero, morreu por ação de seu companheiro, dentro de uma relação de afeto, e o feminicídio é o inverso, que é justamente a morte de mulheres em razão do gênero, por ser mulher”, explicou a delegada.

Os dados obtidos pela reportagem compreendem o período de janeiro a novembro deste ano e os municípios que lideram a lista de feminicídios são Cuiabá e Sorriso, com cinco feminicídios cada; Cáceres, com quatro; e os municípios de Mirassol D’Oeste e Sinop, com três feminicídios, cada.

A respeito dos homicídios de mulheres, que ainda não foram tipificados como feminicídio, os líderes são Cuiabá, Cáceres, Sorriso e Peixoto de Azevedo, os quatro com três ocorrências cada um.

Em 2022, o estado contabilizou 51 homicídios de mulheres e 41 feminicídios. Já em 2021, foram 41 do primeiro e 40 do segundo.

Questionada, a delegada destaca que são vários fatores que impulsionaram o aumento dos números, mas os principais ainda são o machismo e a estrutura social arcaica, que é combustível para a violência contra a mulher, que leva aos casos extremos de homicídio de mulheres e o feminicídio.

“A falta de educação, de consciência, a cultura machista, a cultura patriarcal da nossa sociedade que tem feito cada vez mais vítimas mulheres, meninas e mulheres. Se a gente visualizar os crimes sexuais, também teve aumento. Então assim, é perigoso para a mulher hoje a sociedade. Nós, desde sempre né, nós temos que nos cuidar com o que vestir, com quem sair, onde sair e não sair sozinha porque sempre, nossos corpos e nossa dignidade sexual não é respeitada”, pontuou a delegada.

Episódios bárbaros

Se destacando na cruel estatística da violência contra a mulher, estão três episódios brutais de feminicídio, dois registrados em Cuiabá e um terceiro em Sorriso.

O primeiro é de Carlos Alberto Gomes Bezerra, o Carlinhos Bezerra, filho do ex-deputado e ex-governador, Carlos Bezerra (MDB), que assassinou Thays Machado e William César Moreno, na tarde do dia 18 de janeiro deste ano. A motivação do crime, segundo apontado pela investigação, seria a não aceitação do término do relacionamento.

Carlinhos, inclusive, estava perseguindo o casal desde muito antes, chegando a persegui-los do aeroporto de Cuiabá até a Delegacia Especializada de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) alguns dias antes do crime.

Ao ser preso, Carlinhos confessou a autoria do crime, mas se recusou a dar detalhes. Ele afirmou que sofria de neuropatia diabética e, por isso, passava por uma ‘descompensa emocional’.

Atualmente, Carlinhos está em prisão domiciliar após um Habeas Corpus concedido em uma decisão unânime, a Segunda Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso.

O segundo caso em destaque foi do ex-policial Almir Monteiro dos Reis de 49 anos. Ele é o responsável pelo estupro e feminicídio da advogada Cristiane Castrillon da Fonseca Tirloni, na madrugada do dia 13 de agosto deste ano.

À época da prisão, o juiz Geraldo Fidélis, da 2ª Vara Criminal de Cuiabá, chegou a determinar a transferência imediata do ex-policial para a Cadeia Pública de Chapada dos Guimarães, com objetivo de resguardar sua integridade física. Cinco dias depois, no entanto, Almir voltou à PCE, onde segue desde então.

Conforme noticiado pela reportagem do Estadão Mato Grosso, à época do crime, Almir teria assassinado Cristiane após ela se recusar a fazer sexo anal. A informação foi divulgada pelo delegado Marcel Gomes de Oliveira, da Delegacia Especializada de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), em entrevista coletiva realizada poucos dias após o crime.

O último da lista é o “Maníaco de Sorriso”, Gilberto Rodrigues dos Santos, que chocou o estado por confessar a autoria de uma chacina contra uma família em Sorriso. Gilberto confessou que matou e abusou de três das quatro vítimas que estavam na residência. O crime bárbaro foi registrado no fim do mês de novembro.

Assim como Almir, Gilberto também está preso na Penitenciária Central do Estado (PCE), em uma cela isolada por segurança.

Estadão Mato Grosso