Médica picada por cobra em MT relembra história: “Caiu no meu colete”
As três picadas de uma cobra jararaca na cachoeira Serra Azul, no Mato Grosso, marcaram para sempre a vida da médica Dieynne Saugo, 35, de Cuiabá.
Em 2020, enquanto aproveitava a natureza acompanhada do namorado e um casal de amigos, ela foi surpreendida após o animal cair da cachoeira e picar duas vezes sua mão esquerda e seu queixo.
Após mais de três anos do episódio, a médica conta que, depois de ficar um mês internada, ela se recuperou por completo, continua fazendo passeios pela natureza e voltou na mesma cachoeira. Ela diz não ter traumas, mas ainda tem medo de cobra.
Ao UOL, Dieynne Saugo contou sua história.
“Estava na cachoeira Serra Azul, uma atração turística no município de Rosário, oeste de Mato Grosso, localizada aproximadamente a 90 km de Nobres. Já tinha visitado o lugar antes, mas dessa vez fui com meu namorado e um casal de amigos.
Eu vi a cobra caindo, senti a picada no queixo e comecei a gritar.
Ela entrou no meu colete, eu puxei com a mão esquerda e ela me picou mais duas vezes. Na hora do acidente, não sabíamos qual cobra era. Só sabia que era venenosa, porque comecei a passar muito mal no momento em que tomei as picadas.
Tive que descer de tirolesa, rodamos 90 km até o hotel para poder pegar nossas coisas e não tínhamos ideia do risco que eu estava correndo.
Na estrada, comecei a piorar e, no meio do caminho, o guia que estava com a gente tinha conseguido filmar a cobra e identificou que era uma jararaca. Saber qual espécie era seria muito importante para poder tomar o soro corretamente.
Assim que cheguei no pronto-socorro, tomei o soro antibotrópico.
Só que demorou um pouco o atendimento e nesse tempo eu já estava toda inchada, passando muito mal, com hemorragia digestiva e vomitando muito sangue. Como estava no auge da covid-19, foi muito difícil conseguir uma UTI nos hospitais particulares.
Foi desesperador, porque eu comecei a passar muito mal, a vomitar muito sangue
No quinto dia de internação na UTI, eu já tinha feito traqueostomia, mas estava com uma hemorragia persistente. Foi então que minha família optou por me transferir para São Paulo, no Hospital Albert Einstein.
Foi desesperador, porque eu comecei a passar muito mal, a vomitar muito sangue e a ambulância só foi me pegar quando eu já estava em Cuiabá. Nessa hora eu já tinha perdido a consciência. Lembro vagamente do momento que estava recebendo o soro e aguardando uma vaga na UTI.
Me sentia angustiada porque queria receber alta quanto antes, demorei para entender a gravidade do quadro. Mas permaneci com uma fé inabalável, confiante e forte, mesmo sabendo de todos os riscos que eu corria, tanto pelas consequências do veneno quanto da covid.
Fiquei quase um mês hospitalizada, tomei diversos medicamentos como antibióticos, anti-inflamatórios, analgésicos e anticoagulantes.
Tive que fazer uma traqueostomia e uma cirurgia de fasciotomia. Mas, depois que tive alta, fiquei sem sequelas.
Fiz fisioterapia por um tempo, retomei os treinos para fortalecer a musculatura e recuperar a massa magra. Assim que pude, voltei para minha rotina de trabalho rapidamente.
‘De cobra eu tenho pavor’
“O lugar é lindo e voltei lá um ano depois, na data do acidente. Não foi na mesma cachoeira, mas foi próximo. Soube que, inclusive, o turismo aumentou muito lá após meu acidente ser divulgado”.
Mas, mesmo sendo uma área do Sesc, o suporte foi precário. Não tive assistência deles.
Se fosse um pouco mais longe, eu não teria sobrevivido. Esse tempo faz toda a diferença porque o veneno vai percorrendo o corpo. A grande vantagem era que eu sempre fui saudável, porque se não, eu teria morrido na hora.
Amo fazer passeios pela natureza, mas de cobra eu tenho pavor, medo, é algo que me dá desespero só de imaginar.
Fiz um passeio pela Amazônia e tirei uma foto com uma cobra que não era venenosa. Tinha uma pessoa dando orientação de como pegar. Sabendo disso, já fiquei mais tranquila. Mas, se fosse venenosa, jamais chegaria perto.
Não sou traumatizada, até porque vou na água, em cachoeira e tudo isso poderia remeter ao acidente, mas me tornei uma pessoa mais assustada. Qualquer coisa que encosta em mim, já levo susto.
Depois do acidente, o que mudou mesmo foi o meu relacionamento com Deus. Após ter passado por esse difícil e doloroso processo, percebi o cuidado dele em cada detalhe. Renasci e experienciei um milagre.”