“Leilão foi mal organizado; foi decisão da Casa Civil e Fávaro”

O ex-secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Neri Geller (PSD), afirmou nesta quarta-feira (12) que houve falta de organização no leilão bilionário de arroz do Governo Lula. E também garantiu que a decisão de fazer o certame não foi dele, mas da Casa Civil e do ministro da Agricultura Carlos Fávaro.

 

Não consegui participar porque o ministro puxou esse assunto 100% para o gabinete

O leilão, cancelado após denúncias de irregularidades, arrematou 263,7 mil toneladas de arroz importado, sob o argumento de se evitar alta dos preços em razão das chuvas no Rio Grande do Sul.

 

“Nesse, infelizmente foi conduzido de forma equivocada. Não estou falando em nenhum momento que houve má-fé de ninguém, o que houve é que foi mal conduzido. Em momentos de egos aguçados”, disse.

  

 

Ex-deputado federal por Mato Grosso, Neri foi exonerado na terça-feira (11), depois da constatação de que a corretora de seu ex-assessor Robson de Almeida França era a representante de empresas que arremataram 44% dos lotes. Além disso, parte das empresas vencedoras não têm ligação com o setor.

 

Geller também foi o responsável pela indicação de Thiago dos Santos, diretor da Conab (Companhia Nacional de Abasteciment), órgão responsável pela realização do leilão.

 

“Primeiro que se politizou muito o assunto por causa da oposição em um momento difícil do Rio Grande do Sul. Faltou organização, faltou orientação… Se buscar nos anais das reuniões que fizemos, as posições técnicas não foram seguidas. Elas foram de forma muito açodada”, afirmou em entrevista à BandNews.

 

Neri apontou que alguns critérios técnicos não foram seguidos e diz que houve pressão para que fossem importados 300 mil toneladas de arroz sem a devida cautela.

 

“Lançaram um leilão de 100 mil toneladas, cancelaram. Foram conversar com a indústria e os exportadores, de forma também açodada, fizeram um leilão de 300 mil toneladas”, afirmou.

 

O ex-secretário foi perguntado sobre de quem teria partido a ideia de se realizar o leilão. “Foi uma decisão da Casa Civil, junto com o ministro Fávaro. Certeza. Agora, não sei como se deu lá, não consegui participar porque o ministro puxou esse assunto 100% para o gabinete. É normal que seja assim. Mas quem decidiu obviamente não fomos nós”, disse.

 

Segundo Neri, o Ministério agiu de forma “atropelada” ao não levar em consideração diversos pontos, como quanto de arroz foi perdido no Rio Grande do Sul; se a situação das estradas permitia o acesso ao produto estocado no Estado; quanto havia de estoque ainda nos grandes centros consumidores.

 

“A verdade é essa: foi feito um pouco açodado e deveria ter ouvido um pouco mais o setor”, acrescentou.

 

O caso

 

As suspeitas em relação ao leilão surgiram após a divulgação do resultado, em que ficou constatada que três das quatro empresas vencedoras não tinham experiência no setor ou capacidade de realizar a entrega. Uma das vencedoras vende queijos em Macapá (AP), outra fabrica sucos em São Paulo e uma terceira é locadora de veículos em Brasília. 

 

Já a Foco Corretora de Grãos, do ex-assessor de Neri, foi responsável por 11 lotes vencedores (ou 44% do total), representando quatro empresas, que receberiam R$ 580 milhões. A comissão poderia chegar a R$ 5,8 milhões. 

    

Outra suspeita se deu também porque o dono da Foco é sócio de Marcelo Geller, filho de Neri, em uma terceira empresa, a FG Business.

 

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