Como o corpo reage ao reganho de peso pós-Ozempic? Entenda

O efeito sanfona, comum aos processos de emagrecimento, pode acontecer também no caso da interrupção do uso de medicações sintéticas de hormônios como GLP-1 (base de Ozempic/Wegovy, Mounjaro e Saxenda/Victoza).

 

De acordo com especialistas, a interrupção dessas medicações pode ser feita de modo imediato, sem desmame. O tratamento, porém, precisa ser continuado com reeducação alimentar, exercícios e até com outras medicações suplementares indicadas pelo médico responsável.

 

“Quando você tem um ganho de peso depois que a pessoa já emagreceu, ela acaba desregulando os hormônios que aumentam a fome e diminuem a saciedade e a queima calórica. Então, a cada vez que alguém, um indivíduo com obesidade engorda e emagrece, ele vai diminuir o gasto metabólico basal”, diz a endocrinologista Alessandra Rascovski, fundadora do Ambulatório Clínico de Obesidade Mórbida do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina Universidade de São Paulo (USP).

 

Segundo a médica, o ideal após um tratamento com esses remédios é não deixar que o paciente engorde novamente. “Se ele reganha, isso piora cada vez mais. Na prática, se eu tiro a medicação, para fazer uma cirurgia, por exemplo, que deixou o paciente parado de exercícios e ele ganhou em torno de três quilos, eu volto de modo intermitente com a medicação para controlar e conseguir alavancar para mudança de estilo de vida”, afirma Rascovski.

 

Quando o quadro é crônico ou tem uma resistência insulínica associada, contudo, pode ser necessário usar outras medicações de manutenção, como metformina. Pacientes com ganho de peso pontual, a exemplo de grávidas, ou ambiental (pessoas com depressão ou vidas muito estressantes), precisam de estratégias próprias.

“Isso é superindividualizado a cada paciente”, diz a médica.

 

Rascovski lembra que os estudos-teste para aprovação desses medicamentos “demonstram a importância da manutenção da medicação” e que esta deve estar sempre “atrelada à mudança de estilo de vida, à mudança comportamental, terapia cognitivo-comportamental” e a um “paciente avaliado como um todo.”

 

A gestora Nina (nome fictício), de 35 anos, não quis ser identificada, mas conta que usou Ozempic offlabel por um ano por recomendação do endocrinologista e perdeu dez quilos. Ela não tem diabetes ou obesidade, mas estava com sobrepeso e teve dificuldade para emagrecer com outras medicações.

 

O tratamento baixou o índice de massa corporal (IMC) dela de 28,4 (acima do peso) para 24,4 (considerada faixa saudável para ela). “Acompanhei com endócrino e nutricionista e uso foi gradativo, aumentando aos poucos a dosagem. Também parei aos poucos, reduzindo a dose por orientação da médica, mas ela pediu para voltar com a nutricionista e com as atividades físicas para não ter o reganho de peso”, conta a gestora.

 

Ela afirma que o remédio contribuiu para redução da apetite na fase de perda, mas que quando parou a medicação, a fome aumentou muito, exigindo dela bastante disciplina com a alimentação. “Eu mantive com yoga e a rotina da nutri, mas já programo começar a academia, pois tenho medo de voltar a ganhar peso”, diz a paciente.

 

Nas redes sociais, nos grupos sobre uso de Ozempic, os relatos de reganho de peso ou de receio de voltar a engordar são comuns.

 

“Usei Ozempic por 1 ano […] Estava com 91 e fiquei com 81. Hoje, depois de dez meses sem Ozempic, já estou com 84, se não me cuidar sei que volto ao peso anterior”, diz uma usuária. Outra internauta conta que perdeu 22 quilos em 5 meses e que se preocupa do endócrino remover a medicação e ela voltar a “engordar tudo de novo”, pois apesar de manter dieta e exercícios, tem medo da fome “voltar em dobro.”

 

Uma terceira diz que perdeu oito quilos e, ao parar, ganhou tudo de volta, pois não podia fazer exercícios.

 

O diretor da Sociedade Brasileira de Medicina de Obesidade, Harley Pandolfi, especialista em gastroenterologia e em endoscopia, diz que o reganho de peso é um grande desafio nos consultórios.

 

“Não basta apenas emagrecer o paciente, temos que fazer a manutenção da perda de peso e adotar estratégias. A mais eficaz que tenho observado na prática médica diária com os meus pacientes, é a adoção do emagrecimento anabólico, que é a troca de massa gorda por massa magra”, diz Pandolfi.

 

O médico afirma que o tratamento é de emagrecimento é contínuo e prolongado, mas que não há problema em parar o uso da semaglutida, base do Ozempic, de forma imediata após cumprida a perda de peso inicial.

 

“Sem necessidade de desmame gradativo da dose. A partir do momento que o paciente usou a semaglutida em determinada etapa da jornada de emagrecimento e já atingiu os objetivos pré-estabelecidos, pode ser feita a interrupção e seguir para a próxima etapa”, afirma.

 

A manutenção da perda de peso obtida deve, então, ser feita com exercícios físicos, alimentação saudável e suplementação. “Essa é a estratégia: interrompe-se a administração da semaglutida, mas adota-se imediatamente uma sequência de tratamento para evitar o famoso efeito sanfona”, diz Pandolfi.

 

Comprar Ozempic sem receita médica, porém, é algo que nenhum dos especialistas recomenda.

 

“Comprar diretamente sem uma avaliação médica, sem entender como que está o seu estado de saúde atual, seu metabolismo, o nível da sua obesidade e qual o seu comprometimento no momento para poder fazer uma estratégia de emagrecimento personalizada tem efeitos colaterais”, diz o médico.

 

“Quando falamos sobre o Ozempic (semaglutida), é importante esclarecer que esta medicação foi desenvolvida para o tratamento do diabetes. Precisamos evitar a ideia errônea de que se trata exclusivamente de um medicamento para emagrecer. O Wegovy, também é semaglutida, só que na dose de 2,4 mg e está aprovado para obesidade”, afirma Rascovski.

 



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