Falcãozinho: conheça a história da criança milagreira de Cuiabá

Devoção, inocência, milagre, fé e finitude são palavras que cercaram a vida e a morte do pequeno Francisco Augusto Falcão Filho, conhecido como Falcãozinho. Ilustre personalidade cuiabana que morreu aos 7 anos, ele acumula devotos e admiradores ao longo de décadas, em Cuiabá.

 

Nascido no dia 9 de setembro de 1964, Falcãozinho era uma criança de vida simples e comum. Filho de um dentista e uma dona de casa, ele dividia seus dias entre brincadeiras no quintal com a irmã Cilbene e visitas na fazenda da avó, que vivia em Poconé.

 

Toda semana tem gente aqui [no cemitério], uma base é uns 5, 6 pessoas que a gente vê

“Era uma criança muito inteligente, liderava não só a mim, mas os nossos primos também. Tínhamos o hábito de nos encontrarmos na fazenda dos nossos avôs maternos porque tínhamos, pelo menos uma vez por ano, em outubro, uma festa de Nossa Senhora da Confiança lá”, recorda sua irmã, a economista aposentada Cilbene Falcão.

 

Tudo era simples e comum na família, até o descobrimento de um câncer ósseo que com o passar dos meses atingiu o baço e a cabeça do menino. Falcão faleceu no dia 27 de maio de 1971. A morte precoce da criança alegre do Centro de Cuiabá gerou comoção na comunidade, que promulgou Falcãozinho como um milagreiro.

 

O menino Francisco não é santo, mas acumula devotos que semanalmente visitam o Cemitério da Piedade para fazer orações e pedidos para resoluções de problemas.

 

“Toda semana tem gente aqui [no cemitério]. Uma base é umas cinco, seis pessoas que a gente vê, porque nos procura. Mas muita gente vem e vai direto porque já sabe onde é o túmulo”, afirma Silvio Lourenço, administrador do Cemitério da Piedade há 13 anos.

 

O túmulo da criança fica localizado do lado esquerdo da capela no centro do cemitério. Para os admiradores, o espaço é um portal de mediação entre o mundo terreno e da espiritualidade. Entre o mármore branco e o terço, há no túmulo carrinhos de brinquedo. Segundo Silvio, esses são os presentes deixados a Falcãozinho por seus visitantes que vêm agradecê-lo pelas graças alcançadas.

 

“Tem desde passar em concurso e tem relatos de cura também. Teve um relato de um menino que não andava. Disseram que era ele igual e se parecia com ele [Falcãozinho]. E depois começou a andar” relata Silvio.

 

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Especial Falcaozinho

Falcãozinho está sepultado no Cemitério da Piedade

Devoção marginal

 

Os cemitérios sempre foram espaços para o mistério. Entre o sagrado e o profano, a finitude e a vida eterna. O local acumula crenças e devoções, entre elas o de pessoas milagreiras, composta por cidadãos comuns que em meio à morte trágica ou precoce, intercede pela vida dos vivos, quando solicitados.

 

A crença nos poderes sobrenaturais dessas pessoas corresponde à devoção marginal, termo que diz respeito a fé sem reconhecimento da Igreja Católica ou instituições religiosas. Este é o caso do menino Falcãozinho.

 

A morte precoce e dolorosa causada por um câncer somada à fé inabalável da criança o fez viver no imaginário da cuiabania. Hoje Falcãozinho leva nome de praça e creche filantrópica administrada pela Igreja Católica e que guarda, em seu interior, um pequeno acervo em homenagem ao menino.

 

Na unidade, que atende 90 crianças entre 8 meses a 4 anos, chaveiros e fotografias de Francisco são expostoss para recordar seus hábitos.

 

“A gente sabe que muitas pessoas têm uma relação de fé, mas ele não é considerado santo pela Igreja Católica. Ele é um menino santo porque tinha muita inocência, bondade e fé. Mas para ser considerado santo, ele precisa passar por um processo de beatificação e canonização, e isso não aconteceu”, explica a irmã Teresinha, umas das responsáveis pela Creche Falcãozinho.

 

A fé 

 

A crença de Falcãozinho como menino milagreiro nasceu logo após sua morte. A família Falcão era frequentemente vista em eventos e missas da Igreja Católica e conhecida na comunidade. Todos sabiam da fé inabalável de Dona Ceta, Dr. Licó e seus filhos Cilbene e Francisco.

 

“Nós não tivemos um momento de conversão, nós já nascemos em berço católico e fomos criados em berço católico. Morávamos ali na Rua do Meio, Ricardo Franco… Éramos paroquianos da catedral. Então, era comum a nossa participação nas missas, procissões do Senhor Bom Jesus de Cuiabá e, também, em festas de santo em Poconé, porque somos de origem poconeana”, declara Cilbene.

 

Segundo Cilbene, essa relação próxima com a igreja foi a faísca que fez acender na comunidade as histórias de Falcãozinho como menino santo.

 

“O ápice da história dele foi essa proximidade com a Eucaristia. Ele recebeu a Eucaristia e a Crisma aos sete anos. O nosso pároco da Catedral, Padre Firmo, acompanhou toda a história dele”.

 

Padre Firmo, que morreu em março de 2005, era amigo próximo a família e acompanhou de perto a piora no quadro de saúde da criança. Foi do pároco que partiu a ideia de construir uma creche para mães carentes de Cuiabá e batizar com o nome de Falcãozinho. O padre também escreveu uma obra chamada “O Livro da Vida de Francisco Augusto Falcão Filho ‘Falcãozinho’”, que conta a relação da criança com a Igreja Católica.

  

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Cilbene Falcão

Cilbene Falcão, irmã de Falcãozinho

A criação da obra foi motivada após Falcãozinho, já doente, pedir ao amigo da família que antecipasse sua eucaristia. Após Firmo pedir permissão a Dom Orlando Chaves, a cerimónia foi realizada para a criança.

 

“Alguém saía de si em busca do outro” diz trecho da obra Firmo, para descrever o momento em que Falcãozinho recebia o corpo de Cristo, no dia 13 de fevereiro de 1971.

 

Na obra, Firmo relata que no dia seguinte a cerimônia, Francisco iniciou uma nova fase de sua vida doando a crianças carentes brinquedos e roupas que não utilizava mais.

 

Fã do Dom Bosco, colecionador de chaveiros, e com uma fervorosa fé em Cristo Falcãozinho sempre foi muito querido pela comunidade.

 

“Sempre formos criando laços e na hora que um problema aconteceu conosco, o problema era de todos. Atingiu a toda a comunidade. Todos sofreram conosco, padeceram conosco. Foi uma coisa muito significativa para nossa família. Essa solidariedade, esse sentimento de amizade, de família mesmo”, declarou Cilbene.

  

A Instituição Falcãozinho, localizada no Porto de Cuiabá, atende comunidades carentes., funcionando por meio de fomento a educação, e instituição também recebe doações por meio do pix: [email protected]

 

 

 

 



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