Juiz critica narrativas e vê desejo de varrê-lo da Magistratura
O juiz Wladymir Perri, ex-titular da 12ª Vara Criminal de Cuiabá, divulgou uma carta aberta se defendendo das acusações em relação ao episódio em que deu voz de prisão à mãe de uma vítima de homicídio, durante audiência no Fórum da Capital, em setembro do ano passado. Leia a carta completa AQUI.
Na última semana, o corregedor-geral do Tribunal de Justiça de Mato Grosso, desembargador Juvenal Pereira, votou pela abertura de um Procedimento Administrativo Disciplinar (PAD) contra o magistrado. A conclusão do julgamento, entretanto, foi adiada devido ao pedido de vista do desembargador Rui Ramos.
Inicialmente, o magistrado foi alvo de uma sindicância. Perri já responde uma reclamação disciplinar no Conselho Nacional de Justiça (CNJ) pelos mesmos fatos.
Não adianta fazer qualquer resposta, é mera forma, já estou condenado, e isso ficou muito claro com o relatório do corregedor de Justiça, desembargador Juvenal Pereira da Silva
Na carta, o juiz afirmou já ter sido condenado pelas “narrativas” das redes sociais e da imprensa, pois a verdade, na visão dele, não importa.
“O mundo atual age e julga de acordo com a narrativa. A verdade não é mais foco de atenção da sociedade, pois os fatos já não importam, mas a narrativa sim, e isto não é um fato isolado em uma comunidade, uma sociedade, país ou nação, mas abrange o mundo. E infelizmente, o que jamais pensei acontecer e vivenciar comigo, está acontecendo”, disse.
“Não adianta fazer qualquer resposta, é mera forma, já estou condenado, e isso ficou muito claro com o relatório do corregedor de Justiça, desembargador Juvenal Pereira da Silva, o qual não quis se expor, seja por receio de ser vítima de uma narrativa de perseguição pela opinião pública, seja por qualquer outra razão, que tão só o corregedor poderá manifestar, pois, isto está guardado em seu subconsciente, ou então, aos seus auxiliares mais próximos”, acrescentou.
Sem citar nomes, ele ainda afirmou ter caído numa “armadilha” ao decretar a prisão da mãe da vítima.
“Fato é que, no fatídico dia qual aconteceu à prisão […], por instigação, de imediato ao perceber que havia caído em uma armadilha, desloquei naquela final de tarde/noite de sexta-feira ao gabinete do citado corregedor, que ouviu com paciência os fatos acontecidos e consignado em ata de audiência, diga-se, que até hoje não foi impugnado no processo”, disse.
O magistrado ainda comparou o julgamento midiático que sofre com o nazismo, cujo objetivo é varrê-lo da Magistratura.
“Portanto, meu julgamento, guardando evidentemente as devidas proporções, está acontecendo com a narrativa do arianismo, qual Hitler impôs uma guerra que matou 42 milhões de pessoas. Com uma narrativa de combate ao nazismo, Putin provocou uma guerra com a Ucrânia, que chacoalha o Mundo e faz todos temerem serem varridos da face da Terra, numa verdadeiro Armagedon, e é o que estão tentando fazer comigo, ou seja, ser varrido da magistratura, e é o único jeito de conseguirem, com narrativas e não com fatos verdadeiros”, disse.
“Construí minha vida na verdade e não em narrativas de psicopatas, pois se errei foi em busca da verdade […] cuja verdade é que contrariei com as minhas decisões as vaidades de alguns operadores do Direito, em que não estão preocupados em promover justiça, mas, sim, de se autopromoverem, para tanto basta verificar as tantas vezes que deram entrevistas na mídia”, encerrou.
Outras reclamações
Perri também responde uma segunda reclamação disciplinar no CNJ por supostas irregularidades na condução do inquérito policial que investiga o assassinato do advogado Roberto Zampieri, em dezembro do ano passado, em Cuiabá.
Ele ainda é alvo de uma terceira reclamação disciplinar no Conselho por suposta “conduta temerária” e recorrente na condução de processos sob sua responsabilidade.
Voz de prisão – relembre o caso
O episódio aconteceu no dia 29 de setembro e ganhou grande repercussão após o vídeo da audiência ser divulgado na internet.
A ordem de prisão ocorreu no momento em que S.B. depunha e se manifestou contra Jean Richard Garcia Lemes, réu pelo assassinato de seu filho, ocorrido em 10 de setembro de 2016.
Jean Richard responde em liberdade pelo crime.
Segundo o Ministério Público Estadual, ele assassinou o filho de S.B. usando uma arma de fogo, por meio de recurso que impossibilitou a defesa da vítima.
No início do depoimento, a promotora do caso, Marcelle Rodrigues da Costa e Faria, perguntou se S.B. estava constrangida de prestar o depoimento na frente do réu.
“Não, por mim ele pode ficar aí, para mim ele não é ninguém”, respondeu S.B. à promotora.
O advogado do réu então exigiu respeito com o seu cliente, momento em que S.B. reitera seu posicionamento.
“Para mim não é ninguém. O fato de eu falar que ele não é ninguém, não vai tirar o que eu vou falar aqui, nem o que eu penso dele e o que ele pensa a meu respeito. Eu não estou nem aí. Estou aqui para falar sobre o que aconteceu”, disse ela.
Após isso, ela foi interrompida pelo juiz, que também exigiu respeito e “inteligência emocional”.
Inicia-se uma pequena discussão e então o magistrado decide encerrar a audiência. Neste momento, revoltada, a mãe da vítima se levantou, apontou para o réu, bateu na mesa e disse alguma coisa.
Assim, antes de ela sair da sala, ela recebeu a voz de prisão de Perri.