MidiaNews | Manifestação literária mato-grossense
O historiador e poeta Rubens de Mendonça, em seu livro “Poetas mato-grossenses” informa que, o “primeiro escrito em língua portuguesa em nossas terras foi a Ata de fundação de Cuiabá, escrita em 8 de abril de 1719.
Percorrendo o caminho da historiografia, segundo estudiosos, pesquisadores e historiadores, o primeiro livro escrito foi as “Crônicas de Cuiabá”, escrita por José Barbosa de Sá e Joaquim da Costa Siqueira, seu continuador (1741/1821), com o seu livro “Compêndio Histórico Cronológico das Notícias de Cuiabá, Repartição de Mato Grosso”.
Com muita paciência e com a necessidade de aprender e beber dos ensinamentos, percorri esses livros com muito vagar e muita atenção. Eu precisava ler. Eu precisava aprender sobre a história e a historiografia mato-grossense. Na minha opinião, esses registos escritos são as primeiras manifestações literárias do nosso meio, de Cuiabá e de Mato Grosso.
Seguindo as leituras, no curso de graduação em Letras, pela Universidade Federal de Mato Grosso – UFMT, vim acompanhando essa evolução literária por meio das aulas proferidas pelos professores de literatura Getúlio Rodrigues Arrais, depois Ivo Lusa, entre outros.
No aprendizado da literatura portuguesa, a magnífica professora Elza Gonçalves, recém falecida e, em literatura latina, o monumental, professor e poeta Antonio Rodrigues Pimentel, o Padre Pimentel e, depois Vitorino Dessunte, além de maravilhas existentes, escritas por historiadores, poetas, jornalistas, escritores no período colonial, parnasianistas, simbolistas, entre outros.
No mestrado em História, pela UFMT trilhei os caminhos de Ricardo Franco de Almeida Serra (1748/1809), Coronel do Real Corpo de Engenharia e escritor de vários estudos e monografias, tais como; “Extrato da descrição da Capitania de Mato Grosso”; “Navegação do Tapajós para o Pará; “Diligência do Rio Paraguai”; etc. Luiz D’Alincourt (1776), sargento mor engenheiro, também oficial do Corpo de Engenharia, com as suas “Memória sobre a viagem do Porto de Santos à cidade de Cuiabá”; “Estatísticas da Província de Mato Grosso”; vindo em seguida o poeta e teatrólogo José Zeferino Monteiro de Mendonça, ainda no período colonial. Percebi aí um crescimento e evolução da literatura mato-grossense, no meu entendimento, pela compreensão das obras por meio das aulas explicativas, pelas pesquisas dos textos fornecidos ao longo do aprendizado.
No caminho da pesquisa sobre o Padre Ernesto Camillo Barreto percebi um aprofundamento literário durante o período do segundo Império com mais intensidade, onde se destacam os escritores como Augusto João Manuel Augusto Leverger, almirante, conhecido por Barão de Melgaço, o Bretão de Cuiabá (1802/1880), seus trabalhos historiográficos: “Apontamentos Cronológicos da Província de Mato Grosso”; “Dicionário Geográfico da Província de Mato Grosso”, no jornalismo, o Padre Ernesto Camillo Barreto (1828/1896), baiano, também com obras publicadas, no ano de 1864 mandou imprimir, às suas próprias custas, o Compêndio Elementar de Teologia Dogmática, obra pedagógica dedicada ao Papa Pio IX, de Teologias Exegeticas e lugares e Teológias de filosofia racional e moral.
Em 1865 elaborou e fez editar um Compêndio de Gramática e Língua Latina, em parceria com o Pe. Henriques de Carvalho Ferro; Antônio Augusto Ramiro de Carvalho (1833/1891), Joaquim José Rodrigues Calháo, Vital de Araújo, falecido em 1915 e Emílio do Espirito Santos Rodrigues Calháo, descendente de Carolina Umbelina Barreto Rodrigues e Joaquim Rodrigues Calháo, o J.J. Calháo.
No período seguinte, o da República encontramos grandes historiadores participantes dessa evolução literária mato-grossense, tais como, Estevão de Mendonça (1869/1949), “Datas Mato-grossenses”, José Barbosa de Farias (1868/1941), Marechal Candido Mariano da Silva Rondon (1865/1958), Antonio Fernandes de Souza (1879), com “A invasão Paraguaia”, Virgilio Correa Filho (1887), “Notas à Margem”, “Mato Grosso”; “Pedro Celestino”, Monografias Cuiabanas”, e outros; José de Mesquita (1892), João Poupino Caldas, João Batista de Souza com “Mato Grosso, Terra da Promissão”, General Souza Junior, “Fronteiras Flutuantes”, Rubens de Mendonça com “História do Jornalismo em Mato Grosso”; “Dicionário Biográfico Matogrossense” e “Roteiro Histórico e Sentimental da Vila Real do Bom Jesus de Cuiabá”, conforme anotações da jornalista Rosany Marques Pacheco, em jornal da cidade de Cuiabá.
Segundo Marques Pacheco, na poesia, podemos destacar José Zeferino Monteiro de Mendonça (1741), Antonio Claudio Soído (1822/1889), Antonio Gonçalves de Carvalho, o célebre “poeta da flor de neve” (1844), José Tomas de Almeida Serra (1866/1889), e entre os últimos românticos, Antonio Tolentino de Almeida com “Ilusões Doloridas” e “Romeiros do Ideal (1876/1937).
Entre os poetas parnasianos podemos citar Ulisses Cuiabano (1891/1951); D. Francisco de Aquino Correa, “Odes”, “Terra Natal”; José de Mesquita, “Poesias”; “Terra do Berço”; “Da Epopeia Matogrossense”; “Escada de Jacó”; “Roteiro da Felicidade”; Otávio Cunha, Alírio de Figueiredo “Poesias” e “Poemas e Poeiras”, Rosário Congro, “Sombras do Ocaso”, João Vilasboas; Luiz Feitosa Rodrigues, Maria Arruda Muller, João Ponce de Arruda. Rubens de Mendonça “Garimpos do meu sonho”; “Cascalhos da Ilusão”; “No Escafandro da Vida”; “Dom por de Sol”; e depois João Antonio Neto, com “Vozes do Coração” e vários outros trabalhos inéditos.
Entre os simbolistas estão Franklin Cassiano da Silva, Pedro Medeiros, Leônidas de Matos, Desembargador Oscarino Ramos. No modernismo constam Lobivar Matos (1941/1937) com “Areotarori” e “Soroba”, Manoel de Barros, “Face Imóvel”; Wladimir Dias Pino, o maior de todos os poetas modernistas; Benedito Santana da Silva Freire, Agenor Ferreira Leão, Francisco Leal de Queiróz, Newton Alfredo e Amália Verlangieri, no modernismo mato-grossense.
Na evolução literária mato-grossense não faltou os escritores jornalistas como Jaime Ferreira de Vasconcelos, Isac Póvoas, Agrícola Paes de Barros, Amarílio Novis, Castro Brasil, Eurides Mota, Gervásio Leite, Amaro Falcão, José de Mesquita, Raimundo Maranhão, Palmiro Pimenta, Benjamin Duarte Monteiro, Benedito de Melo, Rubens de Carvalho, Augusto Mario Vieira, Ranulfo Paes de Barros, Ernesto Pereira Borges, Rubens de Mendonça, Fenelon Muller, Gastão Muller, Francisco Mendes, Hilton Martiniano de Araújo e Pedro Rocha Jucá, entre outros.
Atualmente, tanto no Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso – IHGMT, como na Academia Mato-grossense de Letras – AML, essa evolução literária mato-grossense, constam de muitos nomes que engrandecem e engrandeceram a cultura, a literatura, a pesquisa, a geografia e a história de Mato Grosso e do Brasil.
Neila Barreto é jornalista, historiadora e presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso.