MidiaNews | Encantar a política
“Encantar a política” é um caderno de conscientização política, fruto do trabalho de uma rede de organizações, pastorais sociais, organismos da Igreja católica, comissão fé e política, apoiado pela comissão episcopal pastoral para ação socio transformadora da CNBB. Este caderno está funcionando como uma espécie de cartilha política, destinado aos agentes pastorais e animadores de comunidades.
O caderno foi amplamente divulgado e espalhado nas comunidades cristãs e organismos sociais da Igreja. A Igreja Católica, não é mais a “Igreja oficial”, mas é uma Igreja nacional. Por sua capilaridade, alcança, com suas publicações, as comunidades e suas lideranças nas bases. O caderno é inspirado na doutrina social da Igreja e nas últimas publicações do Papa Francisco, sobretudo a “Laudato Si e“Fratelli tutti”. O Papa Pio Xl (1922-39), papa da ação católica, afirmou: “a política é a mais perfeita forma da caridade.” É a perfeita e sublime forma da caridade porque visa o bem comum da coletividade e o amor social. Esta visão da política foi exaltada pelo estudioso francês, Pe. Lembret, o qual deu a melhor definição de política em sentido amplo: “a política é ciência, a arte e a virtude do
bem comum”.
Por isso, os cristãos, não só podem, mas devem buscar sempre um envolvimento e engajamento político para a transformação da sociedade e do mundo. Assim, qualquer iniciativa social que favoreça o bem comum, se transforma em ação política em sentido amplo. A bíblia, fundamento principal da doutrina social da Igreja, tem, também, uma lucidez social e política, conforme disse o Divino Mestre: “Eu vim para que tenham vida e tenham em abundância (Jo 10, 10).
É por isso, que a Igreja, continuadora da missão de Jesus, deve continuar trazendo sua contribuição para o ordenamento político, jurídico e paz social, em vista do bem de todos. Disse São Paulo VI: “a Igreja Católica é perita em humanidade,” devido ao seu vasto conhecimento da história humana, com mais de dois mil anos, e longa convivência universal com várias civilizações políticas, aprendendo e ensinando. Neste sentido a Igreja se apresenta com muita credibilidade, para ser uma instância conscientizadora e orientadora na construção de uma sociedade mais humana, limpa, justa, fraterna e solidária.
Com esta publicação “Encantar a política” a Igreja quer contribuir com sua reflexão para o fortalecimento do processo democrático. A política é mais que eleição. Mas a eleição é a grande festa da democracia, fortalecendo-a sempre mais, num Estado democrático de direito. A democracia é um marco civilizatório nas sociedades humanas. É um bem para a coletividade. A pior democracia é ainda muito melhor que uma ditadura. Assim entendemos que: “os males da democracia, devem ser combatidas com mais democracia e participação popular”.
Em relação à política partidária, a Igreja não se identifica com nem nenhum partido e nenhum projeto político partidário. Porém, incentiva a participação e envolvimento dos seus leigos e leigas. Eles e elas, são membros da Igreja no coração do mundo e nas malhas da sociedade. Os leigos e leigas devem levar os valores cristãos e éticos para dentro dos partidos e não trazerem os partidos para dentro da Igreja, gerando divisão no seio da comunidade. O candidato ou candidata que surge nas comunidades cristãs, seja de que partido for, devem estar impregnados dos princípios e valores cristãos, os quais iluminarão sua jornada política e o exercício do mandato, caso seja eleito ou eleita. Não queremos políticos representando a Igreja.
Queremos políticos limpos, honestos e competentes, em todas as esferas de governo, representando a sociedade como um todo. Assim este caderno “encantar a política” visa a formação do eleitor consciente e crítico. Orientamos os cristãos para que não anulem o voto e nem votem em branco. Isto contribui para manter as coisas como estão. É necessário escolher alguém comprometido com o bem comum, a justiça social e as políticas públicas. Não devemos abrir mão do direito de votar a fim de mudar para melhor ou evitar males maiores.
Lembrem-se: votar é um ato de cidadania e de amor à Pátria. Sonhamos com uma pátria sem excluídos e sem excludentes! Um Brasil de todos e para todos!
Finalmente, a fé cristã, autenticamente vivida, pode debelar os costumeiros “tons de guerra” que emolduram as eleições. Não é atitude cristã promover ataques que simplesmente buscam destruir aqueles de quem se discorda. O segundo mandamento da lei de Deus diz: “amar o próximo como a si mesmo”.
Este mandamento nos ensina que a pessoa que não compartilha da mesma visão de mundo, de sociedade e de fé, não são inimigos, mas irmãos! Acima de nossas diferenças pessoais, culturais, ideológicas, filosóficas e teológicas, deve estar o sentimento de brasilidade e a fraternidade humana. Pois, todo ser humano é imagem de Deus!
Deusdédit de Almeida é sacerdote diocesano da Catedral Basílica do Senhor Bom Jesus de Cuiabá.