A política deve se alimentar do entusiasmo

Você vive em uma cidade que nunca choveu. Nunca. Nem um pingo d´água. Você escuta falar sobre esse fenômeno e tenta entender como poderia ser a água caindo do céu, a velocidade dos pingos, o peso das gotas, o cheiro que sobe da relva e do chão molhado. É difícil imaginar que não conhece algo que acontece rotineiramente, mas, no nosso caso, mude a imaginação para neve e teremos centenas de milhares de pessoas que nunca presenciaram a neve caindo do céu.

 

Toda essa digressão é para dizer a vocês que participar da eleição como candidato, apesar de parecer uma chuva nunca vista, é na verdade uma nevasca. A experiência é intensa. Os sentimentos embarcam em montanhas russas, tristezas e alegrias se revezam intensamente. Uma notícia negativa dá lugar a um sorriso franco, a um café quentinho e seguimos confiantes de estarmos no caminho certo.

 

Lutei o bom combate em Chapada dos Guimarães. Uma cidade que amo desde sempre, mas que sinto que não foi o suficiente. As pessoas estão calejadas, já não reconhecem a política como solução para os seus problemas. O fato de não estar no dia a dia em Chapada foi o suficiente para vaticinar: mas você mora aqui? Bem, se não tivesse domicílio eleitoral na cidade não seria candidato, mas, e isso importa? O cidadão eleitor não escolhe seu candidato a vereador racionalmente, escolhe afetivamente.

 

Não importa que temos boas ideias. Não importa que pautamos muitas vezes as discussões quando falamos de transporte público, inexistente na cidade que vive, na minha opinião, um crime à economia popular quando o transporte público é abandonado nas mãos de particulares, sem regulação nenhuma. Não existe Uber em Chapada, existe transporte particular sem lei e taxi sem taxímetro. É verdade que nos termos do Art. 8º da Lei nº 12.468, de 26 de agosto de 2011, o instrumento só é obrigatório em cidades com mais de 50 mil habitantes, mas a meu ver há espaço para uma proteção maior do consumidor cidadão e, óbvio, espaço para um circular na nossa cidade querida.

 

Trouxemos a questão da moradia popular, da escola vocacionada, de ciclovias e parques, do fortalecimento do turismo e tantos outros aspectos que precisam de um olhar urgente do executivo e do legislativo municipal. Sonhamos com o centro de convenções de múltiplo uso nos moldes de Bonito-MS que aliás era um sonho do meu tio Dante que não foi realizado. Precisamos seguir em frente contribuindo com o debate, participando das sessões para exigir os nossos direitos.

 

Em uma conta rápida, com 52 sessões ao ano, se 100 pessoas tirassem um momento do seu dia para acompanhar presencialmente as votações em plenário, teríamos ao todo 5200 pessoas comprometidas com a democracia por ano, bastaria praticamente uma vez para cada cidadão chapadense acompanhar perplexo a produção legislativa da câmara por legislatura. Dado que temos mais ou menos 20 mil habitantes e na verdade, menos do que 52 sessões ao ano. Um projeto que poderia ser intitulado por mim: “Sorria, você está sendo vigiado”. Espero que os eleitos cuidem do nosso dinheiro, recolho meus impostos em Chapada.

 

A experiência é enriquecedora. Não sou mais o mesmo homem que era três meses atrás. Sou mais empático, entendo melhor as pessoas, me assustei com a traição e a falta de compromisso de alguns, mas isso apenas me deixou mais forte. Sei que posso fazer uma enorme diferença no cenário democrático no estado de Mato Grosso, que tenho muito a contribuir e vou fazer isso. Estudei a vida inteira e continuo, conheço a política pública e tenho um compromisso inalienável com a democracia.

 

Quando criança, os meninos da minha idade queriam ser jogadores de futebol, eu… bem, eu, queria ser presidente do Brasil. No caminho acabei me desviando e cuidando de mim mesmo, hoje percebo que já estou bem cuidado, e preciso, e quero mesmo, é cuidar dos meus concidadãos desse estado exuberante, rico e ainda extremamente concentrador de riquezas.

 

Precisamos ouvir mais as pessoas e cuidar para que a riqueza gerada por esse gigante chamado Mato Grosso chegue até os seus filhos, sejam aqueles nascidos aqui, sejam aqueles que escolheram viver nessa terra de Rondon e do sonho de Dom Bosco.

 

Sou grato à Chapada dos Guimarães por abrir ainda mais os meus olhos, mas, sobretudo sou grato a Deus, à minha esposa e à família maravilhosa que ganhei ao casar, e ainda, à minha mãe, juntos vocês foram incansáveis e sonharam comigo com uma sociedade mais justa. Agradeço também ao deputado Avallone que abriu as portas para mim e ao meu xará Claudio Santiago, um irmão experto a me conduzir por essa terra encantada. O sonho não esmoreceu, foi apenas adiado. A democracia é um exercício permanente e a eleição é apenas uma parte do processo.

 

Claudio de Oliveira é jornalista, analista legislativo da ALMT.



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