Empresária acusa médico de MT de negligência após necrose no abdome

 

A empresária S.L., moradora de Nova Mutum, afirmou que foi vítima de negligência em uma cirurgia realizada em 2020, pelo médico Rodrigo Bernardino, que atua em Cuiabá. Após uma abdominoplastia, ela afirmou que sofreu uma grave necrose na região da barriga.

Tinha muito pus, e o cheiro era horrível. Eu sabia que aquilo não estava normal. Mas ele só me mandava passar rifocina e uma pomada

Após a morte da estudante Thayane Oliveira Sousa Leal, de 35 anos, no dia 23 de outubro passado, durante uma lipoaspiração realizada por Bernardino, dois casos de supostos erros médicos, cometidos por ele, vieram a público.

As pacientes moveram ações na Justiça contra ele, pedindo reparação e indenização (leia AQUI).

Os casos estimularam S.L. a falar sobre o que aconteceu com ela. “Fui vítima de negligência. Tive uma necrose horrível, ele não me atendeu como deveria, fiquei uma semana sem uma enfermeira, e nessa primeira semana era muito importante o cuidado, poderia ter evitado a necrose”, disse. Veja fotos abaixo (atenção: imagens fortes).

S.L. disse que se submeteu a três cirurgias plásticas (liposcultura, abdominoplastia e colocação de próteses de silicone) no mesmo dia, e ficou mais de oito horas na mesa de cirurgia. 

Ela contou que por morar em Nova Mutum, optou por uma consulta inicial online. “Conversei com ele por telefone, e ele me passou bastante segurança. Disse que tudo estava sob controle, que era possível fazer todos os procedimentos juntos”, recordou.

“Ele me explicou que seria tudo feito no mesmo dia, que não tinha problema. Para ele, isso era normal”, disse.

A paciente realizou os exames pré-operatórios recomendados. No entanto, acredita que o médico pode ter sido negligente ao não avaliar de forma mais detalhada sua predisposição à trombofilia, condição diagnosticada posteriormente, por outro médico, que aumenta os riscos de complicações devido à formação de coágulos sanguíneos.

“A trombofilia poderia agravar ainda mais a situação, pois a condição causa coagulação no sangue, comprometendo a circulação e a recuperação. Ele não foi cuidadoso em investigar isso antes da cirurgia”, desabafou.

O médico Rodrigo Bernardino se posicionou sobre o caso (confira ao final da matéria).

Mesa de cirurgia

A cirurgia, realizada no Hospital Santa Helena, durou mais de oito horas. “Foi exaustivo, mas ele disse que era o tempo necessário para fazer tudo que eu queria. Confiei nele”, contou. Após o procedimento, ela recebeu alta no dia seguinte.

Para garantir uma recuperação adequada, S.L. alugou uma casa em Cuiabá e contratou uma enfermeira particular para os primeiros quinze dias de pós-operatório.

“O médico orientou a enfermeira a não mexer nos pontos, apenas aplicar um remédio. Ele foi bem claro: ‘Não precisa mexer, só passar a medicação que estou recomendando’”, explicou. Essa orientação, segundo ela, impediu uma avaliação mais aprofundada da situação real dos pontos cirúrgicos e do processo de cicatrização.

“Necrosezinha”

A paciente disse que ficou uma semana sem receber visitas de uma enfermeira da equipe do cirurgião para monitorar sua recuperação.

“Ele foi negligente com o atendimento. Fiquei uma semana sem ver a enfermeira e, com isso, minha pele não respirava e o processo de cicatrização não aconteceu. A necrose foi uma consequência do estiramento excessivo da pele, mas ele não fez nada para evitar”, relatou.

Na primeira consulta, cerca de uma semana depois das cirurgias, ela disse que o médico notou algo errado.

“Ele abriu o curativo e falou: ‘S., deu uma necrosezinha na região da barriga’. Na hora, fiquei em choque, porque não esperava ouvir isso”, relembra.

“Mas ele disse que era algo controlável, que era só cuidar que ia melhorar”, disse. A necrose, condição em que a pele e o tecido abaixo dela morrem por falta de circulação sanguínea, é uma complicação séria, mas o médico tranquilizou a paciente.

“Ele falou que isso acontecia às vezes e que não era nada demais”, descreve.

Confiando nas orientações, S.L. seguiu o tratamento em casa, mas logo percebeu o agravamento do problema. “Eu via que estava ficando cada vez mais feio, com uma aparência estranha, abrindo cada vez mais”, conta. A área necrosada se expandiu, acompanhada de dor.

Espero que meu caso sirva de alerta para outras mulheres, para que elas se certifiquem de qual médico estão escolhendo. Olha o meu, o que virou

“Tinha muito pus, e o cheiro era horrível. Eu sabia que aquilo não estava normal. Mas ele só me mandava passar rifocina e uma pomada, sem nenhum outro tratamento específico”, relatou.

Ela contou que a necrose tomou tal proporção que decidiu procurar uma enfermeira especializada em tratamento de feridas. “Ela olhou e disse que enquanto a necrose estivesse ali, a ferida não iria cicatrizar”, contou.

“Está lindo”

Diante da gravidade do caso, Bernarnido decidiu fazer uma cirurgia de reparo, costurando a área necrosada com um fio de borracha. No entanto, os pontos começaram a abrir e a necrose não diminuiu. “Liguei para ele e falei: ‘Doutor, está abrindo vários pontos’”.

No dia seguinte, ela procurou um posto de Saúde de sua cidade e a médica que a atendeu confirmou que a abertura dos pontos era consequência da necrose. “Enquanto estiver necrosado, não adianta ele fazer nada”, disse a médica.

Durante o processo de recuperação, S.L. enviava fotos para o médico, que respondia: “Está lindo, está cicatrizando bem, está bonitinho”.

Ela disse que a recuperação durou mais de dois meses até que a necrose começasse a regredir. “Foi um processo muito doloroso e demorado”, relembrou.

“As pessoas quando viam a minha cicatriz ficavam apavoradas, e eu só não morri por Deus mesmo, porque não era a minha hora, tinha o risco muito grande de pegar uma infecção”.

Posteriormente, ela conta que o cirurgião enviou um aparelho de sucção de impurezas e bactérias para ajudar na recuperação da pele. Após um mês de uso, a pele, antes necrosada, começou a se recuperar, e o médico sugeriu um segundo reparo na cicatriz. “A área onde havia necrose era do tamanho da palma de uma mão”, relata.

O nariz dele ficou completamente deformado. A cartilagem caiu, e o rosto ficou completamente inchado, como se ele tivesse apanhado, seus olhos ficaram com um roxo que durou um ano

Apesar da melhora, o segundo reparo causou nova abertura na pele, desta vez logo abaixo do umbigo.

Mesmo com o tratamento contínuo da enfermeira, uma cicatriz grande permaneceu. “Ele disse que um próximo reparo seria feito aproximadamente em um ano, para remover o restante da cicatriz e refinar o resultado”.

Médicos recusaram o caso

Diante das complicações, S.L. buscou outros profissionais, mas nenhum aceitou o caso.

“Tive que fazer com ele, pois nenhum outro médico queria pegar o caso”, explicou. Em abril de 2023, passou pelo terceiro reparo, mas, embora tenha havido melhorias, a cicatriz permaneceu grande e desnivelada. “Mas, perto do que estava, fiquei até feliz”, disse.

A paciente afirmou que, diante dos desdobramentos traumáticos da cirurgia, não pensou em acionar o médico na Justiça.

“Eu não queria gerar mais problemas. Mas em nenhum momento ele admitiu seu erro, para ele é tudo ‘pequenininho’, um ‘probleminha’ simples, mas sempre percebi que estava sendo negligenciada durante todo o processo”, disse.

Marido queimado 

Seu marido, L.A.L., também passou por cirurgias com o médico Rodrigo Bernardino, incluindo lipoaspiração, otoplastia (orelhas) e rinoplastia (nariz), com resultados insatisfatórios.

“O nariz dele ficou completamente deformado. A cartilagem caiu, e o rosto ficou completamente inchado, como se ele tivesse apanhado. Seus olhos ficaram com um roxo que durou um ano. Ficou muito feio”, descreveu.

“O nariz dele não prestou, capengou, aí o doutor disse que ele tinha que fazer um enxerto, e quis cobrar hospital dele, cobrar tudo. Meu marido recusou e disse que o erro foi dele, que foi mal feito. Depois disso o médico parou de atender o telefone”, disse.

Além disso, ela relatou que o marido sofreu queimaduras graves na região do cóccix causadas pela placa do bisturi elétrico, assim como Monnyk Glascielly Castro Franca também sofreu e está processando Rodrigo.

“O doutor disse que não sabia o que tinha acontecido. Não sei te dizer, mas vamos cuidar”, relatou.

“Depois disso meu marido pegou trauma de cirurgia plática e falou: ‘Que arrependimento”, disse. Ela acrescentou que, em nenhum momento, o médico falou em ressarcir parte dos custos com as cirurgias.

Os custos dos procedimentos da empresária e do marido ficaram em torno de R$ 60 mil na época.

Cicatrizes físicas e emocionais

Hoje, S.L. ainda carrega as cicatrizes físicas e emocionais dessa experiência. “Eu só queria me sentir bem comigo mesma. Nunca pensei que passaria por tudo isso”, desabafou.

Com seu relato, ela espera alertar outras pessoas sobre os cuidados necessários antes de realizar cirurgias plásticas.

“Fico pensando em como fui negligente também por não me aprofundar mais, em conhecer o cirurgião, pesquisar mais. É preciso buscar mais de uma opinião, questionar se realmente é seguro fazer tantos procedimentos ao mesmo tempo. A gente confia no médico, mas não imagina que algo assim possa acontecer”, disse.

“Espero que meu caso sirva de alerta para outras mulheres, para que elas se certifiquem de qual médico estão escolhendo. Olha o meu, o que virou. Me arrependo de não ter tido mais cuidado, de ter agido com certa inocência”, disse.

Outro lado

Por meio de sua assessoria, o médico Rodrigo Bernardino se posicionou. “A única posição dele é que a necrose não teve relação nenhuma em relação à tecnica cirúrgica utilizada no caso. E todo suporte e refinamento que precisou foram realizados com sucesso”, diz a nota.

Veja fotos abaixo (atenção: imagens fortes).

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