PF suspeita que desembargador recebeu dinheiro para soltar PM

A Polícia Federal suspeita que o desembargador João Ferreira Filho teria recebido vantagem indevida para soltar um policial militar que havia sido preso em Sorriso, em 2021.

Se qualificam como suficientes para demonstrar o envolvimento de João Ferreira Filho na empreitada criminosa

 

A informação consta na decisão do ministro Cristiano Zanin, do Supremo Tribunal de Justiça, no âmbito da Operação Sisamnes, deflagrada pela PF nesta terça-feira (26) para investigar uma suspeita de venda de sentenças no Judiciário.

 

Para Zanin, esse e outros fatos apontados pela PF “se qualificam como suficientes para demonstrar o envolvimento de João Ferreira Filho na empreitada criminosa”. 

  

Durante as investigações, a PF interceptou uma conversa entre o lobista Andreson de Oliveira Gonçalves e o advogado Roberto Zampieri, na qual eles tratam do pagamento de R$ 100 mil após a soltura do policial Victor Ramos de Castro.

 

Andreson foi preso na operação. Já João Ferreira Filho e Victor Ramos foram alvos de um mandado de busca e apreensão. O magistrado terá que usar tornozeleira eletrônica. Zampieri foi assassinado em dezembro de 2023 em Cuiabá. 

 

Consta no documento que no dia 26 de junho de 2021, Andreson encaminhou para Zampieri o auto de prisão em flagrante contra o sargento, em Sorriso, informando-lhe que seria um “assunto para você ver” e que o “juiz ainda não se manifestou”.

 

Victor Ramos foi preso por suposto crimes de associação criminosa armada e porte ilegal de arma de fogo de uso permitido 

 

Segundo a PF, o interesse de Andreson era resolver a soltura do militar através de um habeas corpus no TJ por “intercessão” do desembargador João Ferreira Filho.

 

Leia a conversa:

 

Roberto Zampieri: “Mas se não soltar, entre com o HC, e eu corro nele. Fico no seu aguardo. Já falei com ele”.

 

Andreson: “Ok”.

 

Roberto Zampieri: “Me avise se não der lá em Sorriso. Aqui eu consigo”.

 

Andreson: “Se não soltar aí já vai deixar pronto o HC. E vamos para cima”.

 

Roberto Zampieri: “Que bom. Eu acho que solta hoje o seu amigo e o piloto”.

 

Andreson: ”Ok”.

 

Conforme o documento, dois dias depois, no dia 28 de junho, Andreson e Zampieri estabeleceram uma conversa sobre o fato de João Ferreira estar designado para o plantão judicial do TJMT entre os dias 25 de junho e 2 de julho.

 

Na oportunidade, de acordo com os autos, Zampieri confirmou a designação e afirmou: “Ele vai despachar ainda hoje, só não disse o horário”

 

“A representação demonstrou, de fato, por meio de prints e registros processuais, que o Desembargador concedeu a ordem de soltura no Habeas Corpus n. 1011292-50.2021.8.11.0000 na precisa data comentada por Zampieri”, consta no documento.

 

No dia 2 de julho, conforme a PF,  Zampieri cobrou Andreson sobre o valor do HC “evidenciando, verdadeiramente, que havia um acordo para soltura do beneficiado do habeas corpus mediante contrapartida financeira”.

 

Leia a mensagem: 

 

Roberto Zampieri: “Anderson, por favor aperte senhor do HC, esse cidadão está muito folgado. Quando precisa agente [sic] se desdobra e atende o pedido, e agora não cumpre o combinado? Aperta esse cidadão”.

 

Conforme a PF, no dia 12 de julho, após Zampieri enviar seus dados bancários, Andreson lhe transferiu R$ 100 mil por meio de sua empresa Florais Transportes Eireli.

 

 



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