Delegado e investigador criam esquema de propina em delegacia no interior de MT

 

O ex-delegado Geordan Fontenelle e o investigador Marcos Paulo Angeli, foram presos em 17 de abril deste ano, na operação Diaphthora, da Polícia Civil, suspeitos de liderarem um esquema de propina na delegacia de Peixoto de Azevedo. 

As investigações iniciaram após denúncias recebidas no Núcleo de Inteligência da Corregedoria-Geral, que apontavam o envolvimento de Geordan, então delegado titular, policiais civis, um advogado e garimpeiros da região.

O caso envolveria situações como a solicitação de vantagens indevidas, advocacia administrativa e ainda o assessoramento de segurança privada pela autoridade policial, caracterizando a formação e uma associação criminosa.

De acordo com a Polícia, ficou demonstrado no inquérito que eles solicitavam o pagamento para liberação de bens apreendidos; exigiam “diárias” para hospedagem de presos no alojamento da delegacia e pagamentos mensais para decidir sobre procedimentos criminais em trâmite na unidade policial.

As escutas

A Corregedoria-Geral da Polícia Civil decidiu também utilizar escutas ambientais como método de investigação. As gravações, que foram transcritas e detalhadas no inquérito, mostram o ex-delegado e o investigador Marcos Paulo, em várias ocasiões, combinando negociações de propina.

Em uma das ocasiões, conforme a Polícia, Geordan cobrou R$ 10 mil para manter o empresário Antônio Jorge Silva Oliveira, detido na Operação Hermes II, em 2023, fora da cela, na sala de descanso dos policiais. 

Antônio foi um dos alvos da Polícia Federal, suspeito de envolvimento no comércio e uso ilegal de mercúrio em garimpos nas áreas que compõem a Amazônia. Ele foi detido durante cumprimento de mandado de busca e apreensão, ao ser flagrado com arma de fogo sem registro.

De acordo com o inquérito, o ex-delegado teria dito ao advogado Gefferson Cavalcanti Paixão, que mantinha seu cliente, Antônio, em um “alojamento exclusivo para policiais plantonistas”, e depois comunica ao investigador Marcos Paulo sobre a tratativa.

Em outra conversa, conforme a Polícia, eles negociaram R$ 15 mil para devolver uma caminhonete Ford Ranger a uma pessoa vítima de golpe do falso intermediário. O carro estaria no nome de outra pessoa e, por isso, ficou apreendido na delegacia.

A transcrição mostra que Marcos Paulo disse a Geordan que a vítima entrou em contato pedindo a liberação do veículo mediante o desembolso de um “dinheirinho”. Os dois chegam a dar gargalhadas e acertam o valor de R$ 15 mil.

Outro registro mostrou o ex-delegado falando sobre o pagamento de R$ 2 mil mensais que recebia da Coogavepe (Cooperativa dos Garimpeiros do Vale do Rio Peixoto).

Segundo a investigação, Geordan ainda teria ficado preocupado com a possibilidade de o valor parar de ser repassado depois da deflagração da Operação Hermes II, da Polícia Federal, que investigou o comércio e uso ilegal de mercúrio em garimpos nas áreas que compõem a Amazônia.

A situação foi discutida entre Geordan e Marcos Paulo. Na ocasião, o ex-delegado designou a tarefa de cobrar a quantia para o investigador. Segundo a conversa, quem faria o repasse seria o advogado Gefferson Cavalcanti Paixão.

A Polícia pediu a prisão de Gefferson, mas a juíza entendeu que seria uma medida extrema e negou. Entretanto, a magistrada determinou que o celular do advogado fosse apreendido e que ele cumprisse cautelares.

Soltura

Após quase um mês detido, no dia 15 de maio, a Justiça julgou pela soltura de Geordan. Já no dia 17 de maio, Marcos Paulo foi liberado. Ambos deviam cumprir medidas cautelares.

Foi determinado que eles fizessem o uso de tornozeleira eletrônica, afastamento provisório e imediato das funções e suspensão da posse e porte de arma de fogo e do passaporte. 

Eles também foram proibidos de comparecer à Delegacia de Peixoto de Azevedo, Matupá e de outras da região norte do Estado, assim como em manter contato com seus servidores policiais e outros que trabalham nas unidades.

Em 3 de junho, Geordan pediu desligamento do cargo. Atualmente, tanto ele quanto o investigador estão soltos e sendo monitorados por tornozeleira.

Denúncia

Em meados de maio, o ex-delegado Geordan e o investigador Marcos Paulo foram denunciados pelo Ministério Público Estadual por peculato, corrupção passiva por aceitar suborno e corrupção passiva por solicitar suborno. O processo foi colocado em sigilo.

Pouco depois, a Justiça acolheu a denúncia e os tornou réus. A audiência está marcada para o dia 21 de fevereiro de 2025.

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