Empresária foi presa após fazer dezenas de vítimas em esquema
Após mais de um ano de investigação, a Delegacia Especializada de Defesa do Consumidor de Cuiabá, no dia 31 de outubro, deflagrou a operação Cleópatra, que resultou na prisão da empresária Taiza Tosatt Eleoterio da Silva, de 28 anos, no aeroporto de Sinop.
Segundo a Polícia, Taiza seria a líder de um suposto esquema de pirâmide financeira em sua empresa, a DT Investimentos, que foi suspensa judicialmente na operação.
Além da empresária, seu ex-marido, o ex-policial federal Ricardo Mancinelli Souto Ratola, de 45 anos, e o cirurgião-geral Diego Rodrigues Flores, de 32 anos, também foram alvos da operação.
O delegado da Decon, Rogério Ferreira, revelou que, oficialmente, a empresária teria lesado dezenas de vítimas, causando prejuízo de R$ 2,5 milhões. Entretanto, conforme apurado pela reportagem, o número de vítimas chega à casa da centena e ultrapassa os R$ 15 milhões, devido à subnotificação.
Conforme a Polícia, a empresária usava as redes sociais para atrair interessados, se mostrando uma pessoa jovem, bonita, bem-sucedida, articulada e especialista em investimentos financeiros.
Com argumentos envolventes e com promessas de lucros de 2% a 6% ao dia, dependendo do valor investido, a empresária convencia as vítimas a fazerem investimentos de altos valores, superiores a R$ 100 mil iniciais, em ações, entrando em um esquema de pirâmide financeira.
Nos primeiros meses, as vítimas recebiam o retorno financeiro, sendo incentivados a fazer novos investimentos, porém, após algum tempo, a empresa deixou de pagar os lucros. Ao solicitarem a devolução dos valores investidos, a empresária inventou desculpas até deixar de responder completamente
O ex-policial federal, que foi casado com a investigada, era o gestor de negócios da empresa e o médico atuava como diretor administrativo. “Formando um grupo criminoso, que destruiu o planejamento familiar de dezenas de vítimas, inclusive de amigos e familiares dos investigados”, disse a Polícia.
Durante cumprimento dos mandados de busca e apreensão, os investigadores flagraram diversas ampolas de anabolizantes na casa de Taiza. O marido dela foi preso em flagrante pelo crime, e ela também foi imputada na ocorrência.
Relatos de algumas vítimas
A primeira vítima que conversou com o MidiaNews, foi a corretora de imóveis M.P.L., de Cuiabá, que, no final de 2021, investiu R$ 50 mil em ações por meio da empresa DT Investimentos, e perdeu a maior parte deste dinheiro.
M.P.L. disse que após entregar o valor nas mãos da empresária, sob a promessa de retorno financeiro de 3% ao mês, recebeu somente dois pagamentos antes de a empresária sumir. O boletim de ocorrência foi registrado em janeiro de 2022.
Além do investimento, a vítima ainda indicou outra amiga para fazer a aplicação por intermédio da DT Investimentos. O valor, segundo a corretora de imóveis, também foi de aproximadamente R$ 50 mil. Após o golpe, ela descobriu ao menos 70 outras vítimas.
Na busca por realizar o sonho da casa própria, o autônomo V.I.F., de 30 anos, investiu em um ano R$ 100 mil com Taiza Tossat, que prometia retorno de 5% ao mês. O primeiro encontro deles ocorreu no escritório dela, no Helbor Business em Cuiabá, em março de 2021.
V.I.F. ainda relatou que Taiza sabia a finalidade do investimento dele e que prometia e o incentivava a continuar injetando mais valores. Ele também disse que o ex-esposo da empresária, o ex-policial federal Ricardo Ratola, assim como o cirurgião-geral Diego Flores também o encorajaram.
No momento em que parou de receber a correção mensal em seu aporte, V.I.F. relatou que se reuniu com Taiza e conheceu também o atual esposo dela, e recebeu somente um pagamento, no valor de R$ 5 mil, depois desapareceu.
Médico nega envolvimento
Outra vítima foi uma servidora pública, que preferiu não se identificar, que teria perdido R$ 200 mil com a DT Investimentos após ser atraída a fazer a aplicações pelo médico Diego Rodrigues Flores, que era um amigo próximo e, segundo ela, se apresentava como diretor administrativo da empresa.
Diego era diretor-técnico do Hospital Municipal São Benedito até janeiro deste ano, quando foi exonerado, e é proprietário de uma clínica médica no Estado. Segundo a vítima relatou, o médico era amigo de seu marido e eles tinham um negócio juntos.
Por um curto período, ela recebeu o rendimento, que era de 3% ao mês, e logo, Taiza, assim como relatado por outras vítimas, começou a dar desculpas para justificar os atrasos dos pagamentos, até deixar de respondê-la.
Conforme a servidora, um boletim de ocorrência foi registrado contra a DT Investimentos e Taiza da Silva em outubro de 2022, um ano e dois meses após o investimento. Em dezembro de 2022, a servidora ingressou com uma ação cível contra a empresa, Taiza, Diego Flores e Ricardo Ratola.
Até o momento, somente Diego recebeu a intimação judicial e compareceu em audiência, mas não houve conciliação. Já Taiza não foi encontrada para ser intimada, e Ricardo anda não foi citado.
O médico, que além de ser investigado da Decon, está sendo processado civilmente por vítimas da DT Investimentos, negou ter envolvimento com a empresa.
Atrás das grades
A empresária está presa na Cadeia Feminina de Colíder desde o dia 31 de outubro, na qual ela foi detida no âmbito da investigação da pirâmide financeira e por ser flagrado anabolizantes ilegais em sua casa.
No dia 14 de novembro, Taiza conseguiu um habeas corpus pelo flagrante com os anabolizantes, assinado pela juíza Débora Roberta Pain Caldas, da 2ª Vara Criminal de Sinop. Na mesma data, o marido dela, que também foi detido pelo mesmo caso, foi liberado.
Entretanto, apesar do despacho, Taiza continuou presa, após ser constatado o mandado de prisão contra ela envolvendo o esquema de pirâmide.
Em 11 de dezembro, a defesa da empresária teve outro habeas corpos negado, em decisão assinada pelo juiz Jean Garcia de Freitas Bezerra, da 7ª Vara Criminal de Cuiabá. O pedido da revogação da prisão alegava ausência de contemporaneidade e gravidade abstrata das imputações.
O magistrado levou em consideração o risco de reiteração delitiva, já que, segundo ele, a empresária demonstrou possuir “grande capacidade de manipulação”.
Na decisão, o magistrado rechaçou os argumentos da defesa. Isso porque, conforme o juiz, mesmo depois do esquema ganhar repercussão nacional e ela ser denunciada pelos fatos, em junho deste ano, continuou realizando as condutas criminosas por intermédio do atual mardio, Wander Aguilera Almeida.
O juiz ainda citou que os delitos são “extremamente graves” e causadores de “extensos prejuízos”, afirmando que há relatos de vítimas que perderam as economias de uma vida inteira em razão de promessas de lucros impraticáveis no mercado.
O inquérito da Decon ainda não foi finalizado e o caso segue sendo investigado.
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