Futura secretária: disk-silêncio é “ponto urgente” a ser melhorado
Após quase 18 anos na Polícia Civil, a delegada Juliana Palhares vai assumir um novo desafio. Ela será a secretária de Fiscalização e Ordem Pública de Cuiabá na gestão do prefeito eleito Abilio Brunini (PL), que assume o cargo no dia 1º de janeiro.
Uma das atribuições da Pasta de Juliana é o combate à poluição sonora e a fiscalização contra a ocupação irregular dos espaços públicos.
Em relação ao barulho, a delegada diz que pretende aprimorar o serviço de disk-silêncio, que sempre alvo de crítica de contribuintes pela dificuldade de atendimento.
A delegada reconhece que a poluição sonora é algo que incomoda moradores de todas as regiões da cidade e que deverá ter uma atenção da Pasta com o fortalecimento do disk-denúncia. “É um ponto urgente de ser analisado, revisitado e melhorado para a população”, diz a futura secretária.
Na entrevista, Juliana ainda falou sobre como foi o convite de Abilio, contou um pouco de sua trajetória na Polícia Civil e de sua admiração pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Leia abaixo os principais trechos da entrevista:
MidiaNews – A partir de janeiro a senhora assume a Secretaria de Fiscalização e Ordem Pública de Cuiabá. Qual a sua expectativa para esse novo desafio?
Juliana Palhares – Estou com uma expectativa bastante elevada. Realmente é uma surpresa, a minha estada nessa esfera de poder político, assumindo uma secretaria municipal, foi realmente uma surpresa. Não esperava esse chamado do Abilio, mas fiquei bastante feliz pela confiança.Talvez ele estudou meu perfil, estudou a minha trajetória dentro da Polícia Civil e entendeu que o meu nome fosse bom para comandar essa Pasta. Fico extremamente grata por essa confiança e já estou empolgada e animada para conhecer melhor a dinâmica da secretaria. E para ver se posso melhorar o que já está funcionando, aprimorar processos, valorizar os servidores que labutam ali, elevar o nome daquela Pasta. Acho que é isso que a sociedade cuiabana espera também de mim.
MidiaNews – A senhora esperava ocupar um cargo como esse? Como recebeu o convite do prefeito eleito Abilio?
Juliana Palhares – Não, não esperava. É até bastante interessante você perguntar, porque às vezes as pessoas acham que eu já participava desse planejamento maior político do grupo. Acredito que o prefeito Abilio me conheceu como delegada e enxergou em mim esse potencial para estar na equipe dele. Não havia nenhum laço ainda, nenhuma conversação sobre isso. E aí ele me fez o convite, me pegou de surpresa mesmo, porque eu estou num momento muito feliz dentro da Polícia Civil, dentro do DRCI (Delegacia de Repressão a Crimes Cibernéicos), na titularidade da unidade.
Completei um ano agora, dia 28 de novembro. Fizemos grandes avanços, temos grandes projetos lá, mas eu também me senti naquela responsabilidade, sabe, de colaborar com o chamado. E às vezes nós, como munícipes e usuários de serviços públicos, reclamamos quando o serviço é mal prestado, quando não chega até nós, ou chega de uma forma ineficiente. Talvez agora, quem sabe, na minha oportunidade de estar ali e como munícipe, usuária de serviços municipais, também poder colaborar na edificação e na construção de uma política pública. Sabemos que os desafios são enormes, não basta só “boa vontade”, mas acredito que com o trabalho o reconhecimento vem e as coisas vão fluindo. Penso que nesse espírito que o corpo executivo do prefeito Abílio está sendo formado. Vejo muito essa energia nas reuniões, quando tratamos de assuntos, quando todos os secretários indicados já estão ali. Consigo sentir essa energia de dar o melhor, de pensar no munícipe, pensar no destinatário do nosso serviço, como sempre fiz na Polícia Civil.
MidiaNews – Em linhas gerais, quais as atribuições dessa secretaria?
Juliana Palhares – Hoje essa secretaria contempla uma gama de atividades bastante pesada e complexa. É a fiscalização, a ordem pública, hoje temos a Defesa Civil, o apoio à Segurança Pública e o Procon municipal. A ideia inicial do prefeito Abilio foi segmentar essa secretaria em três pastas. A Defesa Civil, que já tem o secretário indicado, que é o coronel Alessandro [Borges Ferreira], dos Bombeiros, foi comandante-geral, uma experiência de gestão incrível, um ser humano também maravilhoso, que eu já o conheço da Segurança Pública. E segmentar também essa Pasta na Segurança Pública Municipal, que aí a nossa maravilhosa Coronel Francyanne [Siqueira Chaves Lacerda] também, que deixou agora o Comando-Geral, como a comandante-geral adjunta, uma mulher que tem uma história dentro da Segurança Pública de muito trabalho, muita humildade. E a fiscalização em Ordem Pública, que serão as fiscalizações, as concessões de usar o alvará de funcionamento, fiscalização disso, a ordem pública, que compreende uma gama de atividades também da Prefeitura Municipal de Cuiabá, entre as quais a gente pode falar sobre a poluição sonora, por exemplo, e também o Procon municipal.
Então, ficaria com essas passas. Elas estão sendo redesenhadas, realinhadas justamente para apresentar esse projeto para o prefeito Abilio para as alterações legislativas necessárias, o encaminhamento dessas proposições também ao Poder Legislativo municipal, a criação dessas secretarias, dos cargos, enfim, uma série de questões administrativas que precisam ser verificadas. É bastante extenso o trabalho. Nós temos os servidores públicos de carreira, da minha Pasta, que basicamente ficaram comigo. A Defesa Civil tem alguns servidores públicos, os fiscais, que estão alocados lá também. E a pasta da Coronel Francyanne, que é o apoio à Segurança Pública municipal, que vai até que se implemente a Guarda Municipal, que é também uma das propostas do prefeito Abílio.
Continuaremos com o apoio da Polícia Militar nas ações da Secretaria como um todo. Em que pese segmentadas as atribuições em três secretarias, nós seremos trigêmeas, seremos irmãos gêmeos. A gente tem essa consciência, temos projetos, já estamos desenhando alguns projetos, e eu tenho certeza que essa parceria, pelo menos dessa Pasta aqui, vai ser muito harmônica, porque eu já os conheço, eles já me conhecem, somos da Segurança Pública. Óbvio que temos muito a aprender com os servidores de carreira, com as pessoas que já lidam e já trabalham nessas atribuições e nessas pastas, mas acredito que a gente vai poder contribuir, porque também lá na Segurança Pública a gente também recebe algumas demandas que resvalam nessa fiscalização do poder público municipal.
MidiaNews – Quais as frentes que a senhora percebeu que deverão ser prioridades a partir de janeiro?
Juliana Palhares – Primeiro a gente precisa, eu penso, dar mais transparência no sentido de tecnologia. Não conheço ainda todos os processos dentro da Pasta. Vamos para a visita técnica para conhecer, mas acredito que a tecnologia é um facilitador da vida de todos, da vida do servidor, de todos que trabalham e do munícipe em acompanhar, em ter transparência do que está sendo feito e executado dentro das pastas. A minha experiência na Polícia Civil passou por isso. Nós tivemos um avanço tecnológico de ferramentas, de metodologias que permite uma eficiência muito mais perceptível e palpável para a sociedade.
Antigamente, quando entrei em 2007, o inquérito policial, que era físico, demorava um X tempo pra ser concluído. Hoje, com as inovações tecnológicas, em 2024, esse tempo foi reduzido extremamente. A média de conclusão de investigações, a média de eficiência, tudo isso melhorou muito. Por quê? Utilização de tecnologia e de ferramentas digitais, aliada a uma gestão com base em indicadores. Não há espaço para amadorismo hoje. Nós temos que ter indicadores.
O meu primeiro desejo é conhecer quais são os indicadores dessa pasta, quais são os processos, como que isso vem sendo feito… A gente pode aprimorar, melhorar essa entrega. Mapeando esses processos, conseguimos adequar soluções tecnológicas já existentes ou buscar novas soluções. E neste ponto, acho que mandou muitíssimo bem o nosso prefeito quando criou uma pasta, uma Secretaria de Tecnologia, de inovação tecnológica. Isso é muito importante. É muito importante, em todos os sentidos: na esfera privada, na esfera pública… Tem que ser igual. Quando a gente tem esses mecanismos tecnológicos, onde a população, ao alcance do seu dedo, por exemplo, acompanhar os processos, pode, com transparência, com publicidade, ver o que está sendo feito, ter acesso a esses indicadores também, é muito melhor para todos. A gente consegue ter diagnósticos mais precisos com apoio da sociedade, que aliás é a destinatária de tudo isso. Acredito que minha primeira meta dentro da Secretaria a partir de 2025 é ter isso muito bem claro, esses indicadores e o mapeamento desses processos, para a gente poder atacar esses pontos onde esses indicadores mostrarem que precisamos atacar primeiro. Não é uma decisão pessoal, é uma decisão técnica. Mais uma vez, não temos mais espaço pra isso. E óbvio, é conhecer os servidores, montar a minha equipe, ver as necessidades de cada setor dentro da Pasta, enfim, e traçarmos metas a curto, a médio e a longo prazo para todos nós da Secretaria. É um momento de conhecer a casa, talvez mudar alguns móveis de lugar, enfim, e dar uma ajeitada da forma que a gente entender que vai ser melhor.
MidiaNews – A poluição sonora que vem de festas e caixas de som ainda é um problema aqui em Cuiabá. O que pode ser feito pela sua futura Secretaria?
Juliana Palhares – Costumo dizer que 11 a cada 10 pessoas reclamam sobre isso. Onze a cada 10, né? Uma brincadeira, obviamente, mas desde quando o prefeito Abílio anunciou como indicada, recebo inúmeras mensagens de pessoas pedindo para olhar para essa questão da poluição sonora. Sei desse problema. Também já acionei muitas vezes o disk-silêncio, fui atendida em algumas, não fui em outras. Enfim, é uma série de questões que precisamos rever, né? É uma realidade hoje. Os trabalhadores e trabalhadoras do nosso município reclamam e reclamam com razão. O sono é reparador. O sono é indispensável à nossa saúde, à nossa dignidade de vida, o descanso.
Por um lado, temos a população que reclama. Por outro temos a população que está trabalhando, tem os estabelecimentos que vivem do entretenimento. Temos que olhar para os dois lados e fazer a ponderação de interesse. Mas é uma realidade, seja no centro de Cuiabá, seja nas periferias, seja em bairros de alto padrão, é um problema que atinge a todos nós. Tenho relatos de pessoas de bairros mais abastados, do Centro de Cuiabá, enfim, temos relatos de reclamações sobre essa realidade dos grandes centros. Não é uma exclusividade de Cuiabá. Mas nós poderemos, sim, rever como que isso tem se proliferado na nossa cidade, se está tudo regular, se está tudo dentro dos padrões, do Código de Posturas do município, enfim. E para isso, obviamente, também vou contar com o apoio dos membros de outras pastas, que também entendem desse assunto. E se precisar alguma promoção, de alguma alteração legislativa, vamos encaminhar através dos procedimentos formais, eventualmente sugestões, a Câmara dos Vereadores também, para juntos lidarmos com essa realidade hoje, que é um desafio das grandes capitais.
MidiaNews – Muitos cuiabanos acionam o disk-silêncio e reclamam da dificuldade de serem atendidos. A senhora tem algum plano de fortalecer esse setor da Prefeitura?
Juliana Palhares – Temos, temos sim. Eu, como munícipe, cidadã, já acionei o disk-silêncio muitas vezes. Em algumas fui atendida, em outras não. Então, nós precisamos rever esse procedimento, ver em que podemos melhorar. Uma forma um pouco mais simples, talvez de acionamento, talvez uma interligação com o Ciosp. O problema da poluição sonora impacta numa postura municipal da nossa secretaria, impacta em perturbação da tranquilidade também, que é um ilícito penal, com acionamento da Polícia Militar e acionamento da Polícia Civil. Como um desafio de cidade, ele depende de uma política pública exclusiva, e essa problemática de Cuiabá também vai depender da integração, da união de várias políticas públicas, da Prefeitura, da Polícia Militar, da Polícia Civil, enfim… E nós estamos sim hermanados nesse sentido de construirmos juntos um projeto que possa atender essa reclamação. Se essa pergunta está sendo feita por você, é porque é uma realidade que chega também para a imprensa. É um ponto urgente de ser analisado, revisitado e melhorado para a população.
MidiaNews – Qual a opinião da senhora sobre o comércio ambulante? Vai haver alguma fiscalização mais rigorosa contra a concorrência desleal daqueles que não pagam impostos?
Juliana Palhares – É um assunto também bastante delicado que envolve mais uma vez ponderação de interesses. O interesse de uma regulação disso, de um local específico, que inviabiliza muitos outros direitos e garantias de circulação. Há uma reclamação. E também são trabalhadores, são pais de família, são mães de família que estão tentando levar o sustento às suas famílias. Nós precisamos reunir e sentar e construir soluções que atendam a todos os interesses. Não é uma caça às bruxas, mas nós temos que nos pautarmos pela legalidade das ações. São ações regulares, e também atender o interesse das pessoas que estão trabalhando. Vamos construir juntos soluções para o problema. Como digo, não se trata de sim ou não, nós temos dentro da Prefeitura, dentro da legislação existente, de atender esses interesses conflitantes. Mas vai ser construído com calma, com equilíbrio, sem caças às bruxas, sem demonizações, mas sempre teremos que pautar pela legalidade e o regular exercício dessa atividade.
MidiaNews – Em relação à ocupação de calçadas e canteiros por particulares, a senhora não acha que esse é um problema que deve ser combatido na cidade?
Juliana Palhares – Sim, acredito. Muitas vezes nós não conseguimos circular pelas calçadas. A ocupação dessas calçadas, por vezes as publicidades alocadas em canteiros dificultam a visibilidade, repercutem na trafegabilidade. Nós que somos condutores, muitas vezes não enxergamos. Penso que é indispensável, além da poluição visual que isso gera também. Temos que focar sim: se é numa calçada, para uma pessoa que tem alguma limitação, seja visual, seja de locomoção, por buracos, são irregulares, não atendem à acessibilidade, imagina ocupado então por mesas, cadeiras, publicidades… Temos que focar e pensar sempre no coletivo. E existem posturas, existem regramentos para isso e vamos sim ser, nesse ponto, bastante rigorosos no sentido de que as pessoas possam circular livremente pelos locais, pelos espaços públicos. E que, infelizmente, não se trata tão somente de uma questão óbvia de fiscalização. Temos que fiscalizar, mas é uma questão cultural. Nós vemos as pessoas estacionando o carro em vagas destinadas a gestantes, idosos, deficientes. Muitas vezes as pequenas corrupções – nós temos que falar disso também, não devolver um troco dado errado, furar uma fila… infelizmente isso é muito cultural, da sociedade como um todo. “Ah, só vou parar aqui um pouquinho na calçada, não vou atrapalhar ninguém”. Atrapalha, né? Essa mudança cultural não chega rápido. São gerações e gerações para gente mudar uma postura, uma forma de agir, de pensar… E, paralelamente a isso, o poder público tem que agir, sim.
MidiaNews – A sua secretaria dará apoio operacional e de inteligência à Secretaria de Segurança Municipal?
Juliana Palhares – Acredito que nós trabalharemos bem unidas, porque as fiscalizações com os servidores da secretaria têm que acontecer junto com a equipe de segurança, com a jornada extraordinária, que é um convênio feito com a Polícia Militar, em que os policiais acompanham os fiscais, muitas vezes em operações que às vezes são noturnas, como de poluição sonora. Como eu disse: nós estaremos separadas, mas seremos integradas, não tem como. Não tem como eu pensar em alguns projetos para a minha secretaria se eu não contar com o apoio da coronel Francyanne junto à pasta da Segurança Pública Municipal.
Invariavelmente trocaremos figurinhas, trocaremos informações, indicadores, projetos e planos juntos sim, em que pese seremos separadas. Até ontem conversei com a coronel Francyanne, dizendo que gostaria que a gente ficasse no mesmo ambiente físico, inclusive, dentro ali da secretaria, onde é hoje. Falo que é muito importante a gente estar todos os dias nós duas conversando e traçando as estratégias, porque somos ali umbilicalmente linkadas. E mesmo depois com a posterior criação da Guarda Municipal, também continuaremos linkadas, não tem como uma pasta caminhar sem a outra, sem esse apoio. Aliás, isso deveria ser como um todo, todas as secretarias integradas nos projetos e planos de cada pasta separadamente também. Mas a Segurança Pública Municipal, a Fiscalização e a Ordem Pública e a Defesa Civil também vão caminhar juntas sempre.
MidiaNews – A senhora já ocupou as mais diversas funções na Polícia Civil. O que pode falar pra gente dessa experiência? Qual que é o sentimento de deixar essa trajetória e iniciar uma nova fase?
Juliana Palhares – Dá uma dor no coração, ainda mais como eu te disse, que estou num momento bem feliz dentro da delegacia, com vários projetos em andamento, com uma equipe maravilhosa. Mas o chamado vem e a gente gosta do desafio. Vou com o coração partido, mas também com o coração repleto de esperança de encontrar também um ambiente harmônico, um ambiente de pessoas que também estão na mesma energia que eu, de querer servir, de querer transformar, de querer fazer o melhor para a sociedade, dentro daquilo que nos compete. É um misto de dor no coração, mas ao mesmo tempo de empolgação, de estar indo para esse novo desafio, essa nova missão. Tenho certeza que eu vou aprender muito com os servidores, com os colegas, e espero também poder partilhar um pouco do meu conhecimento, da minha trajetória dentro da Polícia Civil com os colegas, para que a gente possa unir essas experiências e entregar um serviço de qualidade para a sociedade.
MidiaNews – Fale um pouco de sua trajetória na Polícia Civil.
Juliana Palhares – Parece que foi ontem, né, cheguei em Cuiabá sem experiência alguma de vida e eu fui crescendo como ser humano, crescendo como profissional, com a ajuda de várias pessoas. Ninguém se faz sozinho, a equipe é muito importante. E nessa trajetória são 18 anos que eu vou completar ano que vem. Minha maioridade! Eu tenho pessoas maravilhosas que entraram na minha vida, os profissionais com os quais eu trabalhei, aprendi, errei, acertei, me diverti, chorei, me frustrei também. A vida não é feita só de êxitos. Aliás, as derrotas nos ensinam bastante, as frustrações também. Isso é muito importante, no amadurecimento nosso como profissional e como ser humano. Tenho muito orgulho da minha trajetória. Vim sozinha. Tenho um baita orgulho da minha trajetória, me orgulho do que fiz, não tenho nada a me envergonhar. E acredito que um pouco disso o prefeito Abílio viu. Tenho recebido muito carinho da sociedade, das pessoas que me conhecem, que sabem da minha história. E isso tem me deixado bastante tranquila, de saber que a missão é difícil, eu vou ter dificuldades, vou ter desafios, mas só manter a calma que a gente consegue. Com muito trabalho e equipe, a gente consegue desenvolver bons trabalhos, sem dúvida alguma.
MidiaNews – A senhora falou que vai completar 18 anos a Polícia. Que desafios enfrentou nesta trajetória?
Juliana Palhares – Prestei concurso em 2005 e fui aprovada em 2006. Mas só fui chamada em 2007. Dezoito anos no ano que vem, como delegada de Polícia. Quando tomei posse, eu estava com 28 para 29 ano. E era uma menina, que não tinha toda essa visão de vida que hoje tenho. Falo que conheci a maldade humana de frente, quando comecei a atuar na Polícia Civil. Até então a gente ouvia notícias de jornal, via na televisão, filmes, estudava muito a legislação, o processo penal… Mas a maldade tem cara, a maldade tem cheiro, tem som. E a gente vê muito isso. De um lado, nos deixa aterrorizados com o que o ser humano pode fazer. Mas de outro lado também me ensinou o lado bom do ser humano, de ajudar, de identificar, com seu esforço pessoal, conseguir dar uma resposta para aquela vítima, ou minimizar o sofrimento de uma mãe que perde um filho. Tudo isso também nos ensina. É muito duro, é muito difícil, mas é satisfatório, nos confere a verdadeira alegria de com o seu trabalho você conseguir atingir outras pessoas. Óbvio: eu falo que na delegacia ninguém vem com boas notícias para te dar, mas todo dia a gente tem oportunidade de ajudar. Todos os dias!
Desde quando eu assumi, ainda imatura, inexperiente, até hoje já um pouco mais experiente, madura, tenho oportunidade de ajudar com o meu trabalho. E ontem mesmo fiz um atendimento na hora do almoço de uma pessoa desesperada, desesperada! E é tão bom você ser calmaria para uma pessoa quando ela está desesperada. Em qualquer esfera, estou falando do meu trabalho, mas de um filho que está desesperado e você o escuta e o acalma, de um irmão, de um amigo, né, e o meu é no meu trabalho. A pessoa chega desesperada, que caiu num golpe ou que foi furtada, ou que está com um problema no relacionamento, uma violência doméstica… E você poder se calmaria na vida daquela pessoa: “Peraí, nós vamos, por partes, tentar minimizar as consequências disso que você sofreu”.
Ontem foi tão satisfatório! Eu estava na hora do meu almoço. Não almocei. Estava um dia pesado para mim, muitas responsabilidades, mas parei o que estava fazendo para atender essa pessoa. Não o conhecia, nunca tinha visto na vida. Atendi e ele se acalmou. Resolvemos momentaneamente a situação dele. Depois ele ainda me ligou e falou: “Não tenho palavras para agradecer o que você me proporcionou”. Resolvi o problema dele? Não, não resolvi. Mas você consegue ser calmaria num mar agitado da pessoa. Ou seja, ela consegue focar, você consegue. “Olha vamos fazer isso, depois isso, depois isso”. E as coisas vão se encaminhar. Isso não tem preço, é missão de vida. Desde quando assumi até ontem e espero que até hoje eu possa ajudar alguém com o meu trabalho. E é nesse espírito que saio da Polícia Civil momentaneamente. Vou para a Secretaria Municipal.
MidiaNews – A senhora é uma defensora do ex-presidente Jair Bolsonaro, inclusive de participar de atos a favor dele em Cuiabá. Como surgiu essa admiração?
Juliana Palhares – Eu tenho as minhas convicções pessoais, como cidadã que sou. Na minha esfera técnica como delegada de Polícia, as minhas convicções pessoais não podem aparecer. Eu sou técnica, seja quem for a pessoa do investigado, da vítima, quem tiver que bater em qualquer pessoa, bater que eu digo assim, na investigação, de conduzir uma investigação, não há espaço para favorecimentos. Se tiver, está errado. Nós temos aí o Ministério Público a fiscalizar, nós temos a defesa do investigado, da vítima, o Poder Judiciário, os órgãos de controle da Polícia Civil. Então, a minha atuação como técnica não pode trazer as minhas convicções pessoais. Mas eu tenho, assim como você tem, como todos nós temos, né? Então fui conhecendo a trajetória do Bolsonaro. Em alguns momentos discordei de alguns posicionamentos dele, é normal, ninguém precisa concordar com tudo, você não precisa concordar 100% comigo, e tá tudo bem, né? É a vida, é a democracia, é a liberdade. Então, acompanhando a trajetória dele, os posicionamentos, né? E a gente cria admiração por pessoas. Eu não vou dizer que eu sou uma defensora, mas eu posso dizer que eu sou uma admiradora da trajetória política dele, da condução que ele teve, das oportunidades que ele teve. Não concordo com tudo, está tudo bem e tenho as minhas convicções como uma pessoa tida de direita, cristã, conservadora. Então eu me alinho a esse pensamento, como pessoa, como ser humano que sou e como cidadã.
E eu não participei de atos de defesa. O que eu participei foi de uma visita que ele fez, inclusive convidado pelo prefeito Abilio. Aí eu pedi, eu já tinha um contato com o prefeito Abílio, eu pedi para conhecê-lo, né? E tive a oportunidade de ir lá também encontrar com outros atores políticos. O governador do Estado estava lá, a primeira-dama também, o vice-governador estava lá também. Tivemos outros deputados também presentes. Tive a oportunidade de conhecê-los. Enfim, foi uma experiência muito gratificante para mim, você conhecer uma pessoa que você admira, igual como você conhece um grande escritor que você gosta, ou um ator que você admira, um cantor que você gosta. Nós temos pessoas que a gente segue, que a gente gosta, que a gente admira.
MidiaNews – E ele foi receptivo com a senhora?
Juliana Palhares- Foi! Coitado, né? Um monte de gente querendo conhecê-lo também, acompanhar, enfim… Foi, foi receptivo, tirou foto comigo, assinou o boné que eu tenho dele… Então ficou um boné bem especial pra mim. Mas é isso, a gente tem algumas pessoas que a gente admira, a gente admira uma mãe, um pai, uma figura, enfim. Não diria que eu sou uma defensora, mas uma admiradora talvez da trajetória dele, das convicções, do que ele fala, do que ele prega. Acho que a vida é feita isso de ideais, de pessoas que a gente gosta. E são pessoas como eu, como você, que erram, que acertam, que às vezes falam demais ou falam de menos. Enfim, às vezes a gente idealiza muito as pessoas que elas não podem nem tropeçar. Às vezes as pessoas não têm o direito ao erro, como todos nós temos. Óbvio, errar é uma coisa, crime é outra, ilicitude é outra. Tudo tem uma consequência. Mas eu o admiro muito, a trajetória que ele construiu. E igualmente ao Abílio. E a Samantha [Íris, esposa de Abilio e vereadora eleita] também. Admiro demais. Aliás, tenho mais contato com a Samantha do que com o próprio prefeito Abilio. Espero que isso se altere bastante aí em 2025, que a gente possa tratar bastante sobre as pautas da Secretaria, do município. Estou nessa expectativa de sentar logo naquela cadeira lá e começar a trabalhar.
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