Retrospectiva. Invasão a residência em MT neste ano termina com 2 mortos e choca o país
Um caso que chocou Mato Grosso e virou pauta nacional em 2024 foi o da família que invadiu uma confraternização e matou duas pessoas a tiros, em 21 de abril, no Município de Peixoto de Azevedo.
Ela já foi atirando, não teve diálogo. Todo mundo correu e só se salvou quem deu conta de correr
Mãe e filho, Inês Gemilaki e Bruno Gemilaki Dal Poz, de 48 e 28 anos, e o confeiteiro Eder Gonçalves Rodrigues, de 40 anos, cunhado de Inês, foram indiciados por homicídio qualificado e tentativa de homicídio.
O promotor de Justiça Alvaro Padilha de Oliveira pediu uma indenização de R$ 2 milhões para familiares das vítimas e os sobreviventes do ataque.
As vítimas fatais foram identificadas pela Polícia como Pilson Pereira da Silva e Rui Luiz Bogo. O padre José Roberto Domingos ficou ferido.
Em julho, a Justiça de Mato Grosso manteve a prisão preventiva do trio. A decisão foi assinada pelo juiz João Zibordi Lara, da 2ª Vara do Município.
O magistrado decidiu reavaliar as prisões preventivas dos acusados, mesmo sem pedido de revogação das defesas, diante da chegada do prazo de 90 dias em que estavam detidos. O objetivo foi evitar “qualquer alegação de nulidade”.
O crime
A família invadiu a residência, localizada no Bairro Alvorada, enquanto acontecia uma confraternização. Eles tinham como alvo o proprietário da casa, Enerci Afonso Lavall, que não foi atingido pelos disparos.
Segundo a Polícia Civil, o crime foi motivado por uma disputa judicial envolvendo dívidas relativas a um imóvel que havia sido alugado. O imóvel em questão foi a casa em que o crime aconteceu.
Duas pessoas que nada tinham a ver com a disputa morreram, segundo a Polícia Civil. O alvo principal ficou somente ferido por estilhaços de vidro.
A ação foi filmada por câmeras de segurança, que mostram Inês estilhaçando as portas de vidro e atirando nas vítimas com um revólver. O filho dela, enquanto isso, estava com uma espingarda do lado de fora da casa.
Após os assassinatos, a família fugiu em uma Ford Ranger branca. No caminho, eles foram flagrados, também por uma câmera de monitoramento, em uma conveniência no Município de Matupá, onde compraram bebidas alcoólicas, refrigerante e água.
Motivação
Conforme a delegada Anna Paula Marien, Inês alugava uma residência do alvo, e, ao sair do imóvel, teria deixado dívidas. Diante disso, o proprietário da casa entrou com processo na Justiça contra ela.
Poucas horas antes do crime, ainda segundo a delegada, Inês registrou um boletim de ocorrência contra o dono do imóvel denunciando-o por supostas ameaças.
No dia anterior, segundo o B.O., três homens teriam entrado na casa de Inês procurando por ela. Na residência, no entanto, estaria apenas Márcio. “Os indivíduos informaram a ele que a vítima estava em dívida com eles”. As supostas ameaças se estendiam a Bruno, filho de Inês.
Riu após mortes
Em um dos registros das câmeras de segurança, já do lado de fora da residência, Inês aparece sorrindo e, em seguida, apontando a arma para a câmera.
A pose altiva e confiante demonstrada por Inês em nada se parece aos registros do momento da prisão, que aconteceu em 23 de abril.
Segundo a Polícia Civil, mãe e filho estavam em uma fazenda de propriedade da família, localizada na BR-060, a 180 quilômetros de Peixoto de Azevedo.
Inês aparece sentada em uma cadeira, cabisbaixa. Já na delegacia, ela chegou a cobrir o rosto com uma blusa de frio para não ser filmada pela imprensa que a aguardava.
As prisões ocorreram após a advogada da família procurar a Polícia Civil para comunicar a intenção dos seus clientes de se entregar e solicitar o acompanhamento até a fazenda, onde estavam escondidos.
Os irmãos Márcio Ferreira Gonçalves e Eder Gonçalves Rodrigues foram presos também no dia 23 de abril, em uma residência na região central de Alta Floresta.
Sobrevivente
A esposa de Enerci e filha de Pilson Pereira, que morreu no atentado, Raquel Soares da Silva, de 30 anos, contou que Inês havia locado esse mesmo imóvel da família há dois anos e saído de lá devendo mais de R$ 60 mil, entre aluguel e danos causados à residência.
Segundo ela, a pecuarista insistiu por cerca de quatro meses antes de conseguir alugar a casa. Ela morou lá, com toda a mobília inclusa, por pouco mais de um ano e saiu, em maio de 2023.
A residência precisou passar por reforma após o atentado e, para Raquel, que acompanhou a obra, pisar na casa e ver as marcas deixadas pelos assassinos foi como reviver aquela tarde tão traumática em que perdeu o pai.
Ela disse não saber ao certo quantos disparos foram efetuados pela família. “Só sei que foram muitos disparos, parecia uma explosão. Era vidro caindo, balas, tanto ela atirando dentro da casa, quanto o filho que atirava fora, no quintal”, disse.
Era por volta das 15h30 quando Raquel, que estava na cozinha com uma vizinha lavando a louça depois do almoço, ouviu os primeiros disparos. “Ela já foi atirando, não teve diálogo. Todo mundo correu e só se salvou quem deu conta de correr”.
Raquel se escondeu no quarto e com ela a cunhada, uma vizinha e o filho de 9 anos. A criança, filho único do casal, estava no quarto jogando videogame. “Graças a Deus ele estava entretido lá dentro no momento que isso aconteceu”.
Segundo a Polícia, foram os disparos de Inês que mataram as duas pessoas e feriram a outra.
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