Morte de filha de deputado estadual a mando de ex marcou ano

O feminicídio da produtora rural Raquel Maziero Cattani, de 26 anos, filha do deputado estadual Gilberto Cattani (PL), gerou comoção e revolta em Mato Grosso em 2024. A empresária foi covardemente assassinada a facadas pelo ex-cunhado, a mando do ex-marido. 

Meu coração está dilacerado com a sua partida minha doce e amada Quelzinha

 

Raquel foi morta na noite do dia 18 de julho, e o corpo dela foi encontrado pela família na manhã do dia 19, em sua propriedade rural no assentamento Pontal do Marapé, em Nova Mutum.

 

A Politec (Perícia Oficial e Identificação Técnica) confirmou que a vítima foi assassinada com 34 facadas e, além das perfurações, Raquel tinha marcas no antebraço, indicando que ela lutou para se defender do assassino.

 

No dia 23 de julho, a Polícia Civil disse ter solucionado o caso e prendido o mandante do crime, o ex-marido de Raquel, Romero Xavier, e o executor, seu irmão Rodrigo Xavier. 

 

Segundo o delegado regional João Romano, o autor forjou uma cena para levar os policiais a acreditarem que se tratava de latrocínio. Na casa, a Polícia encontrou uma televisão quebrada, além da motocicleta e celular dela terem sido levados. 

 

Os dois irmãos respondem por homicídio triplamente qualificado (feminicídio, promessa de recompensa, e emboscada com recurso que dificultou a defesa da vítima). Rodrigo ainda foi indiciado pelo crime de furto. 

 

Tentou montar álibi 

 

Romero, segundo a Polícia Civil, passou o dia do crime em encontros, eventos e festas para tentar enganar a Polícia com diferentes álibis.

 

Ele foi até o sítio PH, propriedade de Raquel, na manhã daquela quinta e deixou o irmão escondido nas proximidades. 

 

Depois, almoçou com o ex-sogro, o deputado estadual Gilberto Cattani (PL), e, inclusive, chorou na frente dos familiares da vítima pelo fim do casamento.

 

Raquel estava em processo de separação litigiosa com Romero, com quem tinha um casal de filhos. Ela foi casada por cerca de oito anos e estava separada, mas ele não aceitava o fim da relação. 

 

Romero levou os filhos do casal para Tapurah após o almoço, tanto para criar o álibi, quanto para afastar as crianças do crime prestes a ser executado.

 

Durante todo aquele dia a encenação aconteceu. Segundo a Polícia, Romero chamou algumas pessoas, com quem sequer tinha muita convivência, para beber e assar carne.

 

De noite, foi a três boates em Tapurah para reforçar o álibi de que estaria na cidade e longe do local em que o crime aconteceu.

 

Vídeos registrados por câmeras de segurança mostram o passo a passo que Romero seguiu para criar um álibi e se distanciar da suspeita do assassinato.

 

Veja:

 

Romero trafegando na manhã do dia 18 de julho pela rua onde mora seu irmão Rodrigo, em Lucas do Rio Verde:

 

 

Romero Xavier em boates na cidade de Tapurah:

 

 

Romero Xavier indo em direção ao assentamento Marapé na manhã em que Raquel foi encontrada morta: 

 

 

O crime

 

Enquanto isso, no sítio PH, Rodrigo invadiu a casa da vítima arrombando a janela do quarto dos filhos dela e ficou à espreita, esperando-a chegar. Raquel chegou por volta das 20h e foi atacada com uma faca. 

 

Depois de cometer o crime, Rodrigo levou alguns objetos da casa, quebrou a televisão na parte de fora e levou a moto da vítima sentido a Lucas do Rio Verde. Tudo para tentar simular um latrocínio. 

 

Rodrigo, segundo a Polícia, recebeu R$ 4 mil para matar a ex-cunhada. 

 

Empresária premida

 

Raquel era mutuense, mãe de duas crianças e empresária premiada do ramo de laticínios, proprietária da Queijaria Cattani.

 

Em abril de 2024, ela foi duplamente premiada no Mundial de Queijo, em São Paulo. Suas produções de destaque foram o queijo Maringá, qualificado como Super Ouro, e o Nozinho temperado, que recebeu a qualificação Ouro.

 

Família dilacerada

Na verdade, a gente sempre teve um pé atrás […]. O álibi que ele tinha era um álibi muito forte, tanto que ele não estava aqui. Não teve a capacidade sequer de fazer ele mesmo. Então, um covarde que foi

 

Para o deputado estadual Gilberto Cattani, os irmãos são dois “monstros” e a prisão deles, apesar de ter sido uma resposta justa, não conforta a dor da família. 

 

“Nós recebemos como uma resposta justa a essa atrocidade pegando esses monstros e colocando atrás das grades. Não vou dizer que conforta, porque nada conforta a gente nesse momento, mas ajuda a ter um pouco mais de esperança nas nossas forças de segurança que agiram de forma magnífica e que nos dão uma resposta”, disse na época.

 

Cattani afirmou que antes mesmo do ex-genro ser preso já suspeitava que ele era o responsável pela morte, mas adotou a estratégia de mantê-lo por perto durante a investigação da Polícia Civil.

 

“Na verdade, a gente sempre teve um pé atrás […]. O álibi que ele tinha era um álibi muito forte, tanto que ele não estava aqui. Não teve a capacidade sequer de fazer ele mesmo. Então, um covarde que foi”, disse.

 

“Nós tínhamos que mantê-lo por perto, senão hoje, talvez, não estaria com esse desfecho que está. Então, tudo que foi feito foi feito para que pudesse elucidar o caso”, completou.

 

Agressão e dissimulação 

 

Uma amiga próxima à família, que preferiu não se identificar, descreveu Romero como um homem frio e calculista, antipático com todos e possessivo com a ex. 

 

Segundo ela, Raquel era agredida e ameaçada de morte e, para tentar se proteger, teria passado a dormir com uma faca no quarto. Raquel tinha até mesmo encomendado uma câmera de segurança.

 

“Para mim, ele era um psicopata. Planejou, não teve coragem suficiente para fazer algo e mandou”, disse a amiga. 

 

Segundo a mulher, Romero tentou encenar o papel de viúvo sofrido após o brutal assassinato, mas o não “colou”.

 

“Perdi o juízo com ele, quando ele me olhou e sorriu. Um psicopata, aparentava uma tranquilidade que assustou a população daqui”, disse.

 

“Chorava um choro sem lágrimas. Não tinha lágrimas. Era uma encenação, ele podia ser contratado para ser um artista”, completou.

 

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