Funcionárias denunciam assédio moral e sexual no Creci-MT
O Ministério Público do Trabalho (MPT) e a Polícia Federal estão investigando denúncias de casos de assédio moral e sexual dentro do Conselho Regional de Corretores de Imóveis do Estado de Mato Grosso (Creci-MT).
ele começou a mandar mensagens no seu celular particular; que inclusive mandou foto de suas genitálias
Entre os citados está o presidente Claudecir Roque Contreira, acusado de assédio moral em Cuiabá e de encobertar um caso de assédio sexual ocorrido na unidade de Sinop.
A suposta manobra para encobrir o caso teria acontecido por estar em meio à campanha eleitoral para reeleição do cargo de presidente. A ventilação do crime poderia “prejudicar a imagem do Creci”, diz uma das denúncias.
O assédio moral
A reportagem do MidiaNews teve acesso a depoimentos prestados em setembro por funcionárias e ex-funcionárias tanto na Polícia Federal quanto no Ministério Público do Trabalho.
Em um dos depoimentos, constam relatos de perseguição, humilhação e sobrecarga de trabalho, incluindo demandas fora do expediente e até em período de férias.
“O presidente faz os empregados trabalharem além do horário devido e independente das condições físicas do empregado, inclusive em finais de semana, férias e períodos de doença”, disse uma funcionária em depoimento dado em setembro do ano passado ao MPT.
No mesmo depoimento, ela relatou ter participado de uma reunião de mais de duas horas com o presidente e um superintendente no qual gritaram com ela por começar a chorar. O motivo seria uma advertência à funcionária.
Reprodução
Claudecir Contreira, presidente do Creci de Mato Grosso
“O presidente informou que a advertência foi devida em razão de parecer da psicóloga enviada pelo Ministério do Trabalho; que começou a chorar e o presidente mandou que parasse de chorar por não gostar de ver mulheres chorando”, diz outro trecho do depoimento ao MPT.
A funcionária teria tentado denunciar o caso de assédio sexual em Sinop e sido ameaçada. “O presidente ligou para a depoente gritando e falando que a depoente deveria parar com isso para não prejudicar sua reeleição […]. Ele a mandou calar a boca diversas vezes”, diz em outro trecho.
Assédio sexual
De acordo com um dos depoimentos, o autor do assédio sexual seria o então conselheiro Beto Correia, de Sinop. O caso teria sido comunicado, além do presidente, ao superintendente Marcelo Arruda, que também não teria tomado providências.
Correia teria assediado a vítima, ameaçando-a de demissão caso “não fizesse o que ele pedia”, diz trecho do depoimento à Polícia Federal em outubro de 2024.
De acordo com a denúncia, Correia queria sair com a vítima e chegou a mandar fotos de sua genitália a ela.
“Ele passou a ir todos os dias na delegacia e começou a fazer piadinhas; que ele dizia que ‘sabe a pessoa que trabalhava aqui, eu mandei embora porque ela não fez o que eu pedi’”, diz trecho da denúncia à PF. Delegacias são as unidades regionais do Creci-MT no interior do Estado.
“Ele começou com ameaças falando que se não fizesse o que ele queria ia perder o emprego; que ele queria sair com ela, tomar cerveja, que chamava para ir na imobiliária dele; que ele começou a mandar mensagens no seu celular particular; que inclusive mandou foto de suas genitálias”, diz outro trecho da denúncia à PF.
Ao comunicar o caso ao superintendente Marcelo Arruda, ele teria dito que “poderia afastar o autor de frequentar a delegacia todos os dias, para evitar situação; que ele disse que era a única coisa que ele poderia fazer; que estava em período de eleição e isso poderia prejudicar a imagem do Creci”, diz outro trecho.
Marcelo teria ainda solicitado que a vítima assinasse um documento se comprometendo a não denunciar o caso. A vítima não concordou e nem assinou o documento.
As denúncias foram realizadas em setembro e outubro de 2024, mas os casos estariam acontecendo há muito antes disso. No documento, a vítima disse não ter tido retorno do presidente do órgão sobre o caso.
Outro lado
O Creci-MT foi procurado pela reportagem e se manifestou por meio da nota. O documento faz um balanço da gestão, mas não se defendeu da acusação.