Imbróglio do Portão do Inferno se arrastou pelo ano e obras começam

Desde a manhã do dia 17 de novembro de 2023, quando foi registrado o primeiro deslizamento de terra significativo no trecho do Portão do Inferno, na MT-251, que liga Cuiabá à Chapada dos Guimarães, a vida de quem depende ou passa pela rodovia mudou completamente.

Até os dias atuais, bloqueios totais ocorrem em momentos de chuvas fortes na região

 

Antes desse, outros pequenos e recorrentes deslizamentos já estavam ocorrendo na região, em especial durante o período de chuvas, acendendo o alerta para problemas estruturais no trecho.

 

No mesmo mês, a Sinfra (Secretaria do Estado de Infraestrutura e Logística) já havia enviado ao Instituto Chico Mendes – que administra o Parque de Chapada – um pedido para que fosse autorizada a reestruturação da rodovia, por risco de acidentes geotécnicos.

 

Entretanto, ao longo de 2024, o imbróglio continuou com uma série de empecilhos, como demora dos órgãos ambientais em liberar o retadulamento, atraso das obras e possível choque com as datas do Festival de Inverno, protesto dos comerciantes da cidade e falta de harmonia entre a administração municipal e a Sinfra.

 

Deslizamentos

 

Desde o início do ano, a Sinfra realizou diversos serviços emergenciais de contenção dos deslizamentos de terra na região. Para isso, a pista ficava ou totalmente interditada em algumas horas do dia ou parcialmente interditada, em sistema de pare e siga.

 

Angélica Callejas/MidiaNews

Portão do Inferno - paredão

Situação da pista após início dos deslizamentos

 

Até os dias atuais, bloqueios totais ocorrem em momentos de chuvas fortes na região, seguindo protocolo estabelecido pela equipe técnica contratada pela Secretaria de Infraestrutura, para evitar o risco de acidentes. Depois, a rodovia é reaberta após vistoria e avaliação sobre a quantidade de água que caiu no local.

 

Durante o carnaval, a pista seguiu o esquema de pare e siga. Uma rota alternativa, passando pela BR-364, até chegou a ser sugerida, mas aumenta a viagem em 140 quilômetros.

 

Outro caminho, pela MT-246, com cerca de 160 quilômetros, chegou também a ser utilizado. Entretanto, o trajeto passa por um trecho de 33 km sem asfalto e de solo arenoso, que não tem condições de receber veículos pesados, principalmente no período de chuvas.

 

Felizmente, nenhum grande deslizamento foi registrado e ninguém se feriu até o momento no local. Atualmente, as obras de retadulamento já se iniciaram.

 

Outro problema foi quando comerciantes da comunidade “Rio dos Peixes” começaram a reclamar das rotas alternativas. Os motoristas começaram a utilizar outros meios e, por consequência, vários comércios da região fecharam as portas ou enfrentaram dificuldades, demitindo funcionários.

 

Rusgas

 

Com as obras e as frequentes interdições, começaram a haver desentendimentos entre a administração municipal e a Sinfra. Além disso, comerciantes da cidade começaram a ficar insatisfeitos e realizaram até protestos.

 

Entre janeiro e março começaram as primeiras manifestações de insatisfação com a situação do local. Na época, que ainda não havia sido anunciado o retadulamento, os comerciantes fizeram um abaixo assinado para que os empreendedores recebessem ajuda do Estado.

 

Em agosto, um grupo de manifestantes “abraçaram” as rochas do Portão do Inferno em um ato simbólico contra as obras no local. Em outubro, moradores e comerciantes se reuniram na praça da cidade com diversas faixas para se manifestar.

 

Entre as reinvindicações, eles alegam que é possível fazer uma obra mais moderna e que o atual projeto irá destruir um sítio arqueológico de 5 mil anos e um monumento natural de 350 milhões de anos. Além disso, a obra impactaria a economia de Chapada com o fechamento da estrada.

 

As reinvindicações foram rebatidas pela Sinfra, que garantiu que todo o trabalho é acompanhado e autorizado pelo IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) e que o projeto vai resolver os riscos e evitar acidentes, preservando vidas e a economia local.

 

Outro ponto de tensão foi em julho, com a realização do tradicional Festival de Inverno na cidade, que movimenta a economia da cidade e é o principal evento no calendário anual do município.

 

Na época, o Governo do Estado esperava o ‘OK’ de pendências com os órgãos ambientais, que poderia ocorrer a qualquer momento, para iniciar imediatamente as obras. Por isso, o prefeito de Chapada, Osmar Froner (União), pediu à Sinfra para que aguardasse o fim do festival, no início de agosto, para dar início às obras.

 

O Secretário Marcelo de Oliveira chegou a sinalizar que começaria a obra assim que recebesse a autorização, não esperando o fim do festival. No fim, o desgaste foi atoa, já que o Ibama e ICMBio só autorizaram o início dias após o término do festival.

 

Divulgação

retadulamento obra portao do inferno

Projeto de como será a obra de retadulamento no local

 

Retadulamento

 

O contrato para realizar a obra que promete colocar fim aos deslizamentos de terra no Portão do Inferno foi assinado pelo governador Mauro Mendes (União) em 28 de março. O projeto, da Lotufo Engenharia e Construções Ltda., prevê a retirada total do maciço do Portão do Inferno, por meio de uma obra de “retaludamento” da encosta.

 

O retaludamento é um processo de terraplanagem através do qual se alteram, por cortes ou aterros, os taludes originalmente existentes no local, para se conseguir uma estabilização do mesmo. Pelo projeto, o traçado atual da pista sofrerá pouca alteração – e a curva existente será suavizada.

 

O projeto de retaludamento foi escolhido após uma série de estudos, realizados pela Sinfra, e consiste na retirada do maciço rochoso na curva do Portão do Inferno e a criação de taludes, uma série de cortes, que funcionam como degraus para impedir os deslizamentos de terra. Com isso, a estrada será recuada em dez metros. 

 

A opção pelo retaludamento foi escolhida levando em conta uma série de fatores: garante mais segurança quanto ao risco de quedas de blocos e também em relação ao possível colapso do viaduto; tem custo financeiro menor; prazo de execução mais rápido; menos complexidade; e menos impacto socioeconômico ao município de Chapada dos Guimarães.

 

Além disso, o atual viaduto existente no local deixará de existir. O contrato tem valor de R$ 29,5 milhões e a empresa terá 120 dias para concluir as obras.

 

Na última semana de agosto as obras no local começaram com ações de cercamento do local, afugentamento da fauna e resgate da flora. Essas ações atendiam às condicionantes ambientais exigidas para a obra.

 

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