Imprudência de motociclistas intriga delegado: “Masoquismo”
O número de acidentes de trânsito em Cuiabá vem crescendo exponencialmente nos últimos anos. Segundo informações do delegado da Delegacia de Delitos de Trânsito (Deletran), Christian Cabral, os motociclistas são responsáveis por uma média de 30% a 40% dos casos.
Nesses acidentes causados por condutores de motocicletas, a maior parte das vítimas foram os próprios causadores do acidente
De acordo com dados divulgados pela Secretaria de Segurança Pública (Sesp-MT), entre os meses de janeiro e novembro do ano passado, 149 pessoas morreram em Cuiabá e Várzea Grande em acidentes envolvendo carros, motocicletas ou veículos de carga.
Em 2023, o número de mortes chegou a 121, o que representa um aumento de 23% no período.
Os números, contudo, não contemplam o mês de dezembro de 2024.
Apesar de o número divulgado abranger carros e motocicletas, o delegado Christian Cabral declara que uma parte significativa das ocorrências foi provocada pela condução imprudente de motocicletas.
“Nesses acidentes com motocicletas, a maior parte das vítimas foram os próprios causadores do acidente. Entre 30% a 40% dos sinistros registrados em 2024 foram causados por motociclistas”, afirmou o delegado.
“O que nos causa preocupação, perplexidade e até um certo desalento, é o fato de sabermos que os motociclistas têm sido, em regra, os grandes responsáveis pela morte deles próprios. Então, é uma espécie de masoquismo”, lamentou.
O delegado não entende como, mesmo sendo uma parte frágil do ambiente nas ruas – já que não possuem a proteção da lataria de um carro -, os motociclistas se arriscam tanto.
“A gente observa muito condutores de motocicleta trafegando sobre calçadas, fazendo travessias sobre canteiros centrais, ultrapassagens no corredor entre as faixas de rolamento, trafegando sobre faixas de pedestre. Todas essas situações são de risco, que acabam sendo provocadas por detalhes que fogem ao controle do condutor, gerando acidentes de trânsito.”
Para o delegado, trata-se de um problema educacional que, muitas vezes, é minimizado pelo poder público durante blitzes ou abordagens.
Novo problema: Rolezinho e Grau
A popularização dos “rolezinhos” e dos “graus” trouxe uma nova preocupação no monitoramento de motociclistas em Cuiabá e Várzea Grande.
Saem várias motos, desrespeitando as regras de trânsito, e nós temos dificuldades para combater
No dia 25 de dezembro de 2024, vídeos circularam nas redes sociais mostrando uma abordagem policial na Avenida Miguel Sutil, em Cuiabá, na qual cerca de 250 motociclistas transitavam pelas ruas de maneira perigosa durante um “Rolê de Natal”.
A divulgação do rolê foi realizada por meio das redes sociais, em um grupo denominado “União Mil Grau”. Na ocasião, 15 motocicletas foram deixadas para trás e inúmeros motociclistas fugiram da abordagem, que localizou veículos adulterados.
De acordo com o delegado, tanto a prática do rolê quanto do grau se tornaram uma nova dor de cabeça, causando preocupação e sendo de difícil monitoramento, devido à natureza do veículo e à facilidade para fuga.
“Tem crescido muito. As redes sociais estão repletas de vídeos todos os dias. A gente tenta reprimir isso, mas tem também aqueles rolezinhos em que saem várias motos, desrespeitando as regras de trânsito, e nós temos dificuldade para combater, porque, quando a segurança chega para fazer a abordagem, as motocicletas saem para todos os lados”, explicou o delegado.
Outra prática que tem ganhado cada vez mais adeptos, por meio das redes sociais, é o grau, que consiste na realização de manobras acrobáticas em motocicleta em movimento.
Como uma tentativa de minimizar os acidentes de trânsito gerados pela má condução de motocicletas durante os graus, cidades mato-grossenses têm estudado a possibilidade de criação de espaços destinados à atividade.
Uma delas é o município de Vera (486 km de Cuiabá), que inaugurou em maio de 2024 um espaço para a realização das manobras. A prática, no entanto, é repudiada pelo delegado.
“Isso é extremamente reprovável porque isso não é esporte, isso não é saudável, não traz nenhum benefício para ninguém”
“Quando todos os comuns desenvolvem ou têm a oportunidade de praticar manobras de risco em veículos, estão flertando com o aumento da violência no trânsito e com a letalidade”, declarou.
No último dia 31 de dezembro, um jovem de 22 anos morreu após colidir a motocicleta em um carro durante a prática de manobras na modalidade grau, pelas avenidas de Várzea Grande.
“Ele acabou literalmente atropelando o veículo à sua frente, causando um dano material de proporções elevadíssimas. A princípio, poderia até se pensar que um veículo de grande porte havia colidido, tamanha a proporção do dano causado pela excessiva velocidade da motocicleta”, afirmou o delegado.
Estratégias de conscientização
De acordo com Cabral, desde o início da década de 2020, a Deletran tem estudado estratégias para diminuir a letalidade no trânsito na região metropolitana de Cuiabá.
Os meses de julho, dezembro e março, que são meses com feriados ou de férias, para a gente entender o que aconteceu e buscar soluções
Um dos efeitos positivos já notados pelos agentes de segurança é a diminuição no número de acidentes envolvendo álcool ou substâncias alucinógenas.
“Em relação à letalidade, nós temos observado uma redução significativa do número de sinistros de trânsito com vítimas fatais envolvendo condutores sob o efeito de álcool ou droga. Isso aí pode estar ligado ao crescimento das ações da Secretaria de Segurança.”
Contudo, a Polícia ainda estuda estratégias para diminuir a violência envolvendo motociclistas.
“Agora, é buscar estudar esses números, identificar os meses mais violentos, que foram os meses de julho, dezembro e março, que são meses com feriados ou de férias, para a gente entender o que aconteceu e buscar soluções, porque ainda não conseguimos oferecer à sociedade o resultado que é esperado e desejado: o resultado de segurança diária, com uma redução significativa da letalidade no trânsito”, concluiu o delegado.