Salve, salve o Clube Dom Bosco

Pois é, lá se vão 100 anos de fundação e muita, mas muita saudade mesmo de sua gloriosa presença nos esportes e na vida social da cidade. Dizem os historiadores que tudo começou por obra do então Presidente do Estado de Mato Grosso, Manuel José Murtinho, em 1883, quando pediu à Diocese de Dom Bosco, dos Padres Salesianos, autorização para, com a ajuda deles, implantar uma escola em Cuiabá.

 

A edificação continua lá, no topo da colina do Bairro Bandeirantes, mas sob disputas legais, portanto, abandonada.

Esse foi um dos mais importantes eventos para a cuiabania, pois a instituição de ensino passou a dar guarida aos jovens tanto no aspecto religioso quanto educacional. Isso sem falar nas atividades atléticas e esportivas, nas quais os Padres do Colégio Salesiano São Gonçalo sempre foram pródigos. Tanto que seu legado persiste até os dias de hoje e incentivou um grupo de alunos, juntamente com eles, a se empenhar na fundação do Clube Esportivo Dom Bosco, que leva o nome em homenagem ao fundador e patrono da Congregação Salesiana.

 

Assim, no dia 4 de janeiro de 1925, foi fundado o Clube Esportivo Dom Bosco, tendo as cores azul e branco como estandarte e como mascote um leão. Daí ser chamado até hoje de Clube Esportivo Dom Bosco, o Leão da Colina, nos meios esportivos.

 

O clube tem sua maravilhosa história marcada por torcedores importantes, muitos deles tendo sido tanto jogadores quanto diretores e até presidentes da instituição desde sua fundação. Entre os sócios em questão, destacam-se José de Carvalho, Manoel Miraglia, Antônio Bastos, Caraciolo Azevedo de Oliveira, Manoel Vieira da Silva, Lino Miranda, Antônio Gonçalo Souto de Arruda, Joaquim Francisco de Assis, Claudio Barreto, João Bosco Delamônica, May do Couto, Paulo de Campos Borges, João Barbosa Caramuru, Francisco Vilanova Filho, Renato Miguéis Olavarría, Alceu Francisco de Oliveira, Álvaro Scolfaro e, por último, o advogado e Procurador Aposentado do Estado de Mato Grosso, Adbar da Costa Salles.

 

Fiz este pequeno histórico inicial para trazer ao conhecimento das pessoas que não tiveram a felicidade de fazer parte da época de ouro dombosquina, antes de falar de sua indiscutível importância como local frequentado pela sociedade cuiabana. Era para o Clube Esportivo Dom Bosco que íamos nos divertir em suas agradáveis instalações, como as piscinas, quadras de esporte, áreas de lazer e o inesquecível Salão de Festas. Era lá, no Salão de Festas, que tudo acontecia: shows, bailes das debutantes, almoços e jantares acompanhados de músicas ao vivo, que nós, os mais jovens, chamávamos de “Brincadeiras Dançantes”, tudo acontecendo de maneira sadia, elegante e charmosa.

 

 

No entanto, os momentos mais saudosos, pelo menos para mim, foram os carnavais. Suas comemorações começavam muito antes das datas oficiais, com os avanços carnavalescos se estendendo nos finais de semana, tanto para a criançada, geralmente nas tardes dos sábados e nas noites, tanto para jovens e pessoas de mais idade se divertirem. Esses festejos permanecem latentes em nossos corações.

 

Infelizmente, tudo isso foi aos poucos desaparecendo nos anos 80, quando as instalações começaram a ser fechadas devido a dificuldades administrativas, com as relações financeiras entre a parte social e a gestão do futebol. Ambas eram importantes, e as disputas por investimento levaram à paralisação de ambas as atividades. O nome do Clube ainda permanece, como que ressuscitado por pessoas abnegadas ligadas ao futebol, mas as atividades sociais foram definitivamente encerradas.

 

Os demais clubes daquela época também enfrentaram dificuldades de gestão, a ponto de se imaginar que nunca tiveram ou deixaram de ter atividades sociais. O interessante é que vários de seus torcedores e sócios frequentavam as instalações do Dom Bosco para se divertir, sem que isso incomodasse os dombosquinos; pelo contrário, sempre foram bem recebidos, já que muitos mixtenses, operarianos e torcedores de outros clubes também eram sócios do Dom Bosco, mesmo não torcendo pelo time de futebol da agremiação.

 

Falando sobre a sede, ela foi adquirida em 1957, junto ao Professor André Avelino Ribeiro, durante a gestão do Coronel Caraciolo Azevedo de Oliveira. A construção da sede foi um marco importante para a sociedade cuiabana da época.

 

A edificação continua lá, no topo da colina do Bairro Bandeirantes, mas sob disputas legais, portanto, abandonada. Em 2019, a Prefeitura Municipal de Cuiabá mostrou interesse em recuperá-la, mas não se sabe por que motivo não levou a cabo essa intenção, para a decepção não só dos dombosquinos, mas também de todos os cuiabanos.

 

Salvem, salvem o Clube Dom Bosco, salvem o Clube da Colina…

 

Marcelo Augusto Portocarrero é engenheiro civil.



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