Especialista: IA já é realidade e professores estão receosos

A inteligência artificial (IA) vem ganhando cada dia mais espaço na rotina de pessoas em todo o mundo, e isso não seria diferente com as crianças, cada vez mais ligadas às tecnologias digitais. A diretora de educação profissional do Senac-MT, Rosana Abutakka, afirma que a IA já é uma realidade no aprendizado e alerta para a importância de manter o equilíbrio.

 

Precisamos entender que o processo de aprendizado não se resume a transferir informações

“Os alunos já estão utilizando a IA de modo bem acentuado, para fazer consultas, auxiliar na resolução de tarefas em casa, para gerar imagens. Vejo isso como um desafio. Temos que ter um olhar criterioso sobre essa nova realidade que já está acontecendo”, disse.

 

Pedagoga, mestre e doutora em Educação pela UFMT e pesquisadora na área de tecnologia educacional, Rosana disse ter observado um cenário de medo entre os professores.

 

“Não podemos generalizar, mas os profissionais com quem tenho tido contato estão receosos, assim como foi com o celular, em que a grande maioria aprova a proibição do uso nas escolas, porque entendem que atrapalhava as aulas”, explica.

 

Segundo Rosana, os alunos estão se apropriando dessa tecnologia, por vezes até mais do que seus professores, o que provoca o medo da substituição.

 

“A IA vai conseguir, muitas vezes, sim, passar informações mais eficientes do que os professores. Mas precisamos entender que o processo de aprendizado não se resume a transferir informações. É muito mais complexo que isso, envolve interações, relações humanas, contato, comunicação. Nesse ponto, entendo que o professor é insubstituível”.

 

Para Rosana, a IA pode ser uma grande aliada na aprendizagem. “Ela entra para fazer um trabalho mais operacional, liberando tempo para que o professor desenvolva a sua criatividade, inove na sua metodologia em aula. Se caminharmos por essa vertente, conseguiremos utilizar a IA de modo muito positivo”, disse.

 

Dever coletivo

 

A tecnologia não é “boa” ou “ruim”, mas depende de como será utilizada, segundo Rosana. Para a especialista, a IA deve servir como apoio em um “projeto de estudo”.

 

“A IA consegue proporcionar muitas formas de aprendizado. Plataformas que alunos podem usar para auxiliar no seu processo de apreensão, sugerir melhorias de escrita, de coerência textual, transformar textos, fazer resumos, mapas mentais. Podem enriquecer trabalhos com geração de imagens e já estão gerando vídeos, podcasts, etc.”, disse.

 

A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) recomenda que crianças menores de 2 anos não sejam expostas a telas e, para Rosana, a IA não deveria sequer entrar como apoio na educação infantil.

 

“Não vejo a necessidade de utilizar esses recursos dentro de sala de aula na educação infantil. Quando as crianças começam a acessar o ensino fundamental, é o momento de fazer esse contato”.

 

“A proibição não é o caminho”, diz Rosana, e sim a educação. “Falamos em letramento digital e, hoje em dia, também falamos em letramento de IA”.

 

Faltou orientação

A inteligência artificial é que tem que me servir, e isso precisa ser ensinado desde cedo

 

Rosana explica que faltou educação digital para as crianças em relação ao uso do celular, e, por isso, chegou-se à medida extrema de proibi-lo nas escolas. “Deveríamos ter explicado como discernir informações no núcleo dessas tecnologias, como fazer um uso apropriado e crítico dela”, disse.

 

“Ficou algo meio sem controle, e foi mais fácil proibir o uso do celular do que ter feito antes um trabalho de educação digital. Quando olho para a inteligência artificial, vejo um cenário bem similar. Precisamos olhar isso com atenção, para que a gente não perca o controle”.

 

“Precisamos direcionar, educar as nossas crianças e jovens para um uso positivo da IA, porque ela tem um potencial incrível de auxiliar as crianças no processo de aprendizagem. Cabe a nós educar para o uso dessas tecnologias”, completou.

 

Para a especialista, esse é um papel compartilhado entre educadores, pais e gestores, garantindo um uso responsável e produtivo.

 

“Não fizemos nossa tarefa de casa e, hoje, estamos precisando proibir o uso de celulares. E não adianta só proibir e não fazer um trabalho de educação para o uso dessas tecnologias em paralelo, porque, fora da escola, ele vai ter esse contato. Todos nós utilizamos.”

 

Equilíbrio

 

A tecnologia, segundo a educadora, deve estar a nosso serviço, e não o contrário.

 

“A tecnologia tem que estar ao nosso serviço. A inteligência artificial é que tem que me servir, e isso precisa ser ensinado desde cedo para as nossas crianças”.

 

“Acho que a palavra-chave é equilíbrio. O equilíbrio de um uso consciente dessas tecnologias, sem deixar de lado a inteligência humana, as relações humanas, porque isso é insubstituível. O foco tem que estar nessa construção de uma educação inovadora, que integre a tecnologia com os valores humanos, promovendo o desenvolvimento integral dos nossos alunos”, explicou.

 

Para Rosana, a IA só irá atrapalhar o processo de aprendizagem das crianças e adolescentes se não os educarmos. “É um trabalho urgente”, disse.

 

Dominando ferramentas

 

O Senac oferece cursos de inteligência artificial em diversas áreas e, segundo Rosana, é um mercado que recebe cada vez mais demanda de pessoas querendo se qualificar.

 

“Ano passado, fizemos um trabalho importantíssimo com os professores, de capacitação de tecnologias educacionais”, disse.

 

 

 



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