Polícia fez “depoimentos sem rosto” para proteger testemunhas e vitimas de facção criminosa em MT
A Polícia Civil realizou os chamados “depoimentos sem rosto” para proteger testemunhas e vítimas da facção criminosa que criou um esquema de extorsão contra comerciantes em Várzea Grande.
Nossa principal preocupação nessa investigação foi resguardar as vítimas e testemunhas
A informação é do delegado Antenor Pimentel Marcondes, Delegacia de Combate ao Crime Organizado (GCCO/Draco), que deflagrou a Operação A César o Que é de César nesta manhã para investar as extorsões e ameaças.
Dois suspeitos, considerados os mais violentos, foram presos em Cuiabá.
“Nossa principal preocupação nessa investigação foi resguardar as vítimas e testemunhas. Ninguém quer colocar um alvo nas costas da vítima. A gente sabe como a facção trabalha”, disse o delegado.
Além de não mostrarem o rosto, as testemunhas ouvidas tiveram suas vozes alteradas para não serem identificadas.
“Nesse caso, foi feito o chamado depoimento sem rosto. Nossa legislação de proteção à vítima e testemunha, notadamente nos crimes organizados, permite o sigilo da qualificação da vítima ou testemunha por dois anos e, nesse caso, eu pedi audiência por áudio e com distorção de voz, para não haver questionamento sobre o contraditório para a defesa”, explicou.
Segundo o delegado, os dois homens presos durante a operação eram os líderes imediatos, aqueles que estavam em contato direto com os comerciantes, ligando e cobrando dinheiro.
Violência extrema
Antenor Marcondes conta que a pressão sofrida pelas vítimas era tamanha que algumas fecharam seus comércios e outras chegaram a pensar em tirar a própria vida.
“No atendimento direto às vítimas, vimos pessoas com depressão, que fecharam o comércio. Uma vítima disse que pensou em se matar, que comprou uma arma para se defender e cogitou tirar a própria vida. Essa é uma situação extrema”, afirmou.
De acordo com o delegado, são cerca de 20 vítimas, que receberão de volta os valores extorquidos se o dinheiro for recuperado.
O caso
A GCCO iniciou a apuração em novembro do ano passado, após receber denúncias de que comerciantes estavam sendo coagidos pelos criminosos.
As denúncias apontaram que a facção criminosa exigia dos comerciantes uma “taxa de funcionamento” de 5% sobre o faturamento das lojas.
Além das ameaças diretas aos estabelecimentos, o grupo também amedrontava vítimas e testemunhas ao colocar duas advogadas para “acompanhar” os depoimentos, como forma de vigiar o que seria dito à Polícia Civil, sem que houvesse solicitação dos depoentes para os serviços advocatícios. Dessa forma, a GCCO também apura no inquérito policial o crime de embaraço à investigação.
“Essa modalidade do comando eles chamam de Novo ‘Projeto’. Não ocorre apenas no camelódromo de Várzea Grande; temos conhecimento de que é algo bem mais amplo, como no exemplo de Paranatinga”, afirmou o delegado.
A Polícia pediu a prisão preventiva das advogadas, mas a Justiça indeferiu o pedido por não entender que havia risco para as investigações. No entanto, elas seguem investigadas e são alvo de mandado de busca e apreensão. Uma delas teve o celular apreendido.
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