Dólar e Bolsa sobem com dados dos EUA e PIB do Brasil em foco
O dólar subiu 0,51% nesta sexta-feira (7) e encerrou a semana cotado a R$ 5,788, com a agenda macroeconômica no foco do mercado.
Na ponta internacional, o destaque foi o relatório de emprego “payroll” (folha de pagamento, em inglês) dos Estados Unidos; na doméstica, os números do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro de 2024.
A moeda norte-americana passou a sessão no positivo e chegou a bater a máxima de R$ 5,800 no meio da tarde, até perder parte do ímpeto. Já a Bolsa disparou 1,35%, a 125.034 pontos, também embalada pela força de commodities no exterior.
Os EUA abriram 151 mil postos de emprego em janeiro, de acordo com o Departamento do Trabalho. O número veio ligeiramente abaixo das 160 mil vagas esperadas em pesquisa da Reuters, mas representa um aumento em relação às 125 mil abertas em janeiro, em dado revisado para baixo.
A taxa de desemprego, por outro lado, subiu para 4,1%, ante expectativa de manutenção dos 4% do mês anterior.
Esse é o primeiro relatório de emprego da gestão Donald Trump. A política comercial do republicano, até agora marcada por constantes idas e vindas, tem criado incertezas sobre a trajetória da economia e do mercado de trabalho dos Estados Unidos.
Segundo economistas, o vai-e-vém do “tarifaço” está dificultando o planejamento futuro dos empregadores. Sinal disso é a deterioração da confiança das empresas e dos consumidores desde janeiro, que apagou todos os ganhos obtidos após a vitória eleitoral de Trump em novembro.
Principal divulgação do dia, o payroll é analisado de perto por ser um dos termômetros para a política monetária do Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA).
A autoridade norte-americana pausou os cortes na taxa de juros no início do ano sob o argumento de resiliência do mercado de trabalho e persistência da inflação acima da meta.
Para André Valério, economista sênior do Inter, o relatório indicou “solidez do mercado de trabalho americano, sem nenhuma indicação de que uma recessão é iminente, como o mercado passou a precificar nas últimas semanas em meio às incertezas das tarifas”.
“A tendência ainda é de acomodação gradual, com setores cíclicos perdendo força na margem. O dado de hoje reforça a visão de que o Fed manterá a taxa de juros no atual patamar na próxima reunião do dia 19.”
Para a reunião de maio, porém, operadores precificam chances de 45% de uma redução de 0,25 ponto percentual, que levaria os juros à banda de 4% e 4,25%. As estimativas são da ferramenta CME Fed Watch.
Leonel Mattos, analista de Inteligência de Mercado da StoneX, pontua que o relatório, apesar de “não indicar um enfraquecimento abrupto da economia”, não ajuda a diminuir as preocupações com sinais de desaceleração que podem ter escapado do período de coleta da pesquisa.
“O período do relatório se encerrou na semana anterior aos desligamentos em massa do governo federal, então o número de março corre riscos de ter uma leitura bem mais fraca em relação à de fevereiro. Além disso, indicadores recentes têm apontado para um princípio de enfraquecimento do consumo doméstico e para um cenário de negócios também bastante incerto, em função das mudanças das políticas comerciais americanas.”
Em discurso nesta tarde, o presidente do Fed, Jerome Powell, afirmou que os principais indicadores econômicos permanecem “sólidos”, com “progresso contínuo”, e que banco central dos Estados Unidos não terá pressa em reduzir a taxa de juros enquanto aguarda mais clareza sobre como as políticas de Trump afetam a economia.
“O novo governo está em processo de implementação de mudanças significativas em quatro áreas distintas: comércio, imigração, política fiscal e regulamentação. A incerteza sobre as mudanças e seus prováveis efeitos continua alta”, disse.
“Estamos concentrados em separar o sinal do ruído à medida que as perspectivas evoluem. Não precisamos ter pressa e estamos bem posicionados para esperar por mais clareza.”
Os planos tarifários de Trump têm sido a tônica dos últimos meses. Na quinta, depois de adiar a implementação de tarifas de importação a montadoras do Canadá e México em um mês, Trump fez mais um grande recuo na política comercial.
Agora, produtos mexicanos e canadenses em conformidade com as regras do Acordo EUA-México-Canadá (USMCA), de 2020, estarão isentos de tarifas por mais um mês, até 2 de abril. É a mesma exceção aberta na véspera aos veículos importados, requerida pelos CEOs das montadoras General Motors, Ford e Stellantis em ligação com o republicano.
A legislação USMCA impõe regras de conteúdo de toda a América do Norte para acesso livre de tarifas ao mercado dos EUA.
Os recuos de Trump fortalecem a tese de que as tarifas têm sido usadas como ferramenta de barganha, mas ainda inspiram cautela.
“O mercado não tem medo de notícias ruins; o mercado tem medo do escuro. Os anúncios das tarifas lembram o conto do ‘Menino que Gritava Lobo’, onde o menino mentia sobre um lobo que comia as ovelhas e, quando ele de fato comeu, ninguém acreditava mais no menino”, diz Davi Lelis, especialista e sócio da Valor Investimentos.
“Trump anuncia tarifas, depois suspende. Anuncia e suspende. Depois de várias vezes nessa dança, essa estratégia começa a perder a elasticidade e a não ter o mesmo impacto no mercado. Perde a eficácia. Há muita volatilidade, especialmente no câmbio, mas os anúncios de tarifas não têm atingido o mercado com tanta contundência quanto nas primeiras vezes.”
O dólar disparou no final do ano passado sob a sombra das ameaças tarifárias. Isso porque o aumento de tarifas, além de estimular uma guerra comercial ampla, tem o potencial de encarecer o custo de vida dos norte-americanos, o que pode comprometer a briga do Fed contra a inflação e forçar a manutenção da taxa de juros em patamares elevados.
Quanto maiores os juros por lá, mais atrativos ficam os rendimentos dos títulos do Tesouro dos EUA, os chamados treasuries, o que fortalece o dólar globalmente.
Com os recuos, os investidores estão reavaliando as posições compradas em dólar no ano passado, e a divisa tem registrado perdas firmes nesta semana.
Em menor relevância para os investidores, segundo analistas, o destaque da ponta doméstica fica com os números do PIB.
Ainda que a economia tenha desacelerado nos últimos meses do ano, 2024 fechou com alta de 3,4%. O crescimento veio após os 3,2% de 2023 e ficou em linha com a mediana das projeções do mercado financeiro, que era de 3,5%, conforme a agência Bloomberg. O intervalo das estimativas ia de 3,2% a 3,6%.
“O dado reforça a interpretação de que a economia perdeu ritmo de crescimento, o que piora as perspectivas para 2025. Por outro lado, um crescimento menor também pode representar menores pressões inflacionárias, o que talvez leve o BC (Banco Central) a não subir a taxa de juros tão rápida e bruscamente”, comenta Leonel Mattos, da StoneX.