Estudioso explica possíveis causas e diz temer sismos maiores
O operador de áudio e vídeo de Cuiabá Aroldo Maciel, de 52 anos, que ganhou fama como “caçador de terremotos”, diz não ter se surpreendido com o abalo sísmico do último final de semana em Poconé. Ele ainda alertou para a possibilidade de novos episódios, ainda mais graves, na região.
Quase desconhecido no Brasil, Maciel é uma celebridade no Chile, onde ganhou fama por prever terremotos de alta intensidade.
A região treme sempre e, se teve esse de 4,5, pode ter um de 6, arrisco dizer até de 6,5
O tremor de Poconé, de magnitude 4,5 na Escala Richter, foi registrado pela Rede Sismográfica Brasileira (RSBR) na manhã de sábado (1º) como um dos “eventos significativos” de terremoto na América do Sul.
O epicentro foi a aproximadamente 14 quilômetros de Porto Jofre, uma área que faz parte do Pantanal Mato-grossense. Moradores relataram ter ouvido um estrondo, acompanhado de vento e tremores que derrubaram até louças dos armários.
“Esse evento foi moderado. A gente ouviu falar que teve onda, que deslocou grande quantidade de água. Possivelmente não foi 4,5 — o que já é absurdo para o Brasil — foi muito maior”, diz o especialista.
“A região treme sempre e, se teve esse de 4,5, pode ter um de 6. Arrisco dizer até de 6,5. Se ocorrer um evento de 6 ou 6,5, vai matar pessoas do coração aqui em Cuiabá, porque aqui vai ter um tremor de 5. E vão cair casas em Cuiabá”, alerta.
Segundo Maciel, o que ocorreu em Poconé “não é um fenômeno isolado” e merece estudo. “Pode ter sido um bolsão de ar ou uma acomodação de terra”, explica.
Maciel destaca a importância de mais pesquisas sobre o assunto e citou os tremores constantes em Barão do Melgaço e o tremor de 1955 em Porto dos Gaúchos, que atingiu 6,6 na Escala Richter — considerado por muito tempo o mais intenso no Brasil.
Terremotos em MT
Enquanto no Chile – país geologicamente instável -, os terremotos são causados pelo movimento entre as placas tectônicas de Nazca e Sul-Americana, em Mato Grosso essa teoria é descartada.
“Estamos sobre um platô. O que pode gerar terremotos aqui? Primeiramente, a grande quantidade de água – como, por exemplo, a construção de um parque aquático. O peso da água é suficiente para causar pequenos abalos. Em pântanos, onde havia muita água que secou – não de forma superficial – há potencial para ceder, sofrer sedimentação e gerar abalos”, explicou.
O metano é outra das teorias de Maciel. Ele afirma que o material orgânico, que pode formar bolhas e entrar em combustão, pode causar explosões.
“Podemos supor que não se trata de um abalo de origem sísmica, mas de um fenômeno diferente, como a queda de uma rocha. São várias possibilidades”, afirma.
“Já em Porto dos Gaúchos possivelmente existe uma falha. E se existe uma falha e já teve um abalo de 6,6, pode haver um de 7 ou 8”, alerta.
Maciel explica que, a partir de um terremoto de intensidade 4,5 na Escala Richter, mesas e lâmpadas começam a balançar; com um de 6, objetos caem das paredes e superfícies. E, a partir de de 7, “você já não fica em pé, tenta andar, cai, bate a cabeça”.
Segundo o profissional, Cuiabá já esteve no mesmo nível que o Morro de Santo Antônio e, durante milhões de anos, sofreu pequenos tremores devido ao afundamento gradual do solo.
Hoje, enquanto a maioria da região se estabilizou, áreas como as baías da Chocororé e Mariana, em Barão de Melgaço, e Poconé ainda mostram sinais de movimentação.
Método revolucionário e contestado
Maciel, que foi técnico de áudio e vídeo na Unic por 23 anos, “caiu de paraquedas” no universo da sismologia. Durante um churrasco com amigos, em 2011, enquanto discutiam sobre a incapacidade de prever eventos sísmicos, como o terremoto de 9,3 que assolou o Japão e matou mais de 30 mil pessoas, ele resolveu investigar o assunto.
Baixou cerca de 10 anos de registros de eventos sísmicos do EMSC (Centro Sismológico Euro-Mediterrânico) e, em cerca de dois meses de análise, identificou um padrão que relacionava eventos sísmicos, por exemplo, entre o Japão e o Alasca.
“Quando você fala em ondas sísmicas, está falando de física; ondas sonoras não são diferentes. Quando há reverberação, o padrão é semelhante ao de um tsunami. É como uma onda se expandindo numa sala”, diz.
Apesar de ter sido desacreditado, seu método se tornou referência e ele virou celebridade no Chile, onde previu terremotos e salvou milhares de pessoas ao longo dos últimos anos.
“Na época, se você perguntasse a um geólogo se um terremoto pode gerar outro, ele diria que não. Se um terremoto no Chile tem alguma coisa a ver com o Brasil, ele diria que não. Hoje, qualquer um sabe que se houver um tremor no Chile ou no Peru, gera tremores em Minas Gerais e São Paulo”, conclui.
“Dizer que é possível prever um terremoto vai contra 200 anos de estudo. Muita coisa que já está dita tem que ser desconstruída. Eu não sei até que ponto a ciência está disposta a perder sobre isso”.
Ele também afirma que, em tese, todo evento sísmico poderia ser previsto com pesquisas adequadas e o uso de Inteligência Artificial.
“Se estiver falando de tremores superiores a 6, esses são mais fáceis pois acontecem em menor quantidade. Mas quando falamos de terremotos de 5, de 4.5, são centenas por dia. Se você colocar uma IA, ela consegue, se você fornecer uma tábua de resultados e referências”.
Maciel vive hoje do seu canal no YouTube, que tem 139 mil inscritos. No Instagram ele já soma mais de 263 mil seguidores. Suas redes são todas gravadas em espanhol visando o seu principal público.
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