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Têm coisas que nós, os homens, só fazemos mesmo porque as mulheres mandam. Arrumar a cozinha, por exemplo, é coisa chata, mas tem que ser feito. E pensar que houve um tempo em que estes serviços eram feitos somente por elas. Seguiriam fazendo isso normalmente se não tivessem inventado o fogão a gás. Eu explico.

 

E pensar que houve um tempo em que estes serviços eram feitos somente por elas

Até no tempo de nossos avós, naquele ambiente quase rural, as mulheres tinham uma rotina de trabalho que as mantinha ocupadas o dia todo. Levantavam-se bem cedo e já começavam a briga com o fogão: pega a lenha, arruma pau sobre pau, apanha uns pedaços de jornal ou palha de milho para iniciar o fogo. A lenha tá meio verde e o fogo demora. Sopra com força, fica tonta, a fumaça entra nos olhos, lacrimeja, tosse.. Que agonia…. Por fim, o fogo acende.  Enquanto a água esquenta, lava o coador e prepara o pó de café.

 

Êta cafezinho ruim.. ..Reclama o marido – eterno machão mal-humorado.

 

Quando ele sai para o serviço ou para papear com os amigos, ela se empenha em lavar a louça, o bule, o coador e o fogão. Em seguida, começa a escolher o feijão para o almoço.

 

Agora vem o pior: limpar o fogão cheio de cinzas e gordura, arear as panelas, lavar o chão que mulher asseada não deixa nada pra depois, não senhora!..     

 

Sempre o mesmo, lava, limpa, torce, quara, areia, enxágua, enxuga, guarda… Enfim, termina o dia, não deu tempo de pensar em nada.

 

Estava ótimo assim – para os homens, claro. 

 

Foi aí que inventaram o fogão a gás. Cozinhando com ele, não tinha panelas para arear e podia dormir um pouco mais, porque o fogo não demorava para “pegar”.

 

Sobrou um pouquinho de tempo, aí a mulher se deu o direito dos primeiros pensamentos: “Ele não está administrando bem a loja. Aquela compra de mercadoria não foi boa…” pensa e diz ao marido.

 

 “Mulher não entende de negócio, cuida da casa que é tua obrigação e não se meta em assunto de homem.” responde irritado.

 

Depois, ou quase ao mesmo tempo, criaram a geladeira doméstica. Agora o feijão já podia ser cozinhado só uma vez por semana e dava pra guardar carne por vários dias… Sobrou mais um pouco de tempo.

 

Para ocupa-lo procurou alguma coisa pra ler. Comprou a única revista que tinha naquele cafundó. Era especializada em moda. Só tinha baboseiras.

 

Trocou por outra que esmiuçava a vida de artistas e de pessoas famosas. Viu que era pior ainda.

 

 Por fim, achou a coisa certa pra ler. Pra quê!?…..Começou a ver que o marido estava mesmo por fora de quase tudo, com toda aquela imponência de dono da verdade.

 

Aí foi perdendo o medo. “Por que não interferir mais nos negócios?” Pensou.    

 

Foi uma boa ideia. A empresa começou a ficar mais organizada, a prosperar e a mulher cada vez mais pegando gosto para gerenciar e tomar decisões e o marido perdendo espaço.   

 

Oh, ela me chamando pra arrumar a casa.

 

“Já vou.  Deixa eu terminar uma crônica que tô escrevendo…..”

 

“Que escrevendo o quê!!…. Deixe isso pra quem sabe”.

 

“Tá bom, bem. Tô indo……. “

 

Renato de Paiva Pereira é escritor e empresário. 

                                            

 



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