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16 de março de 2025

Saúde mental: prevenção, não apenas reação

A saúde mental tem ganhado cada vez mais destaque no contexto atual, embora ainda seja frequentemente encarada sob uma perspectiva limitada, já que muitas pessoas associam o cuidado com a saúde mental exclusivamente a momentos de crise ou a estados de adoecimento psicológico, como depressão, ansiedade ou transtornos graves.

 

Essa visão simplista ignora uma dimensão essencial: a saúde mental não se restringe à ausência de sintomas, mas é um processo contínuo de equilíbrio e bem-estar que requer atenção ao longo de toda a vida, ou seja, os cuidados com bem-estar não devem se resumir aos momentos mais desafiadores, precisam se tornar uma constante na vida das pessoas.

 

É aqui que a psicoterapia desempenha um papel central, não apenas como um tratamento, mas como uma ferramenta de auto descoberta e crescimento pessoal, já que ao falar sobre as próprias questões, ao refletir e se perceber em suas decisões e ações, o indivíduo pode desenvolver uma percepção mais clara de si mesmo. 

 

A abordagem centrada na pessoa, desenvolvida por Carl Rogers, nos oferece uma lente poderosa para compreender a importância de cuidar da saúde mental de forma contínua. Segundo essa perspectiva, cada indivíduo possui dentro de si os recursos necessários para crescer, enfrentar desafios e se tornar a melhor versão de si mesmo.

 

A saúde mental tem ganhado cada vez mais destaque no contexto atual, embora ainda seja frequentemente encarada sob uma perspectiva limitada

No entanto, para que esse potencial seja plenamente desenvolvido, é fundamental que a pessoa encontre um ambiente de aceitação incondicional, empatia e autenticidade – condições que muitas vezes estão ausentes em nossa rotina diária. A psicoterapia, nesse contexto, não é um espaço onde alguém nos “conserta”, mas um lugar onde somos acolhidos e encorajados a nos compreender profundamente, em nossa totalidade.

 

Esse processo de acolhimento e reflexão é essencial não apenas em momentos de dificuldade, mas como parte de uma prática contínua de cuidado com a saúde mental. Assim como a saúde física exige atenção regular – seja por meio de exercícios, alimentação ou check-ups – a saúde mental também precisa ser nutrida.

 

A psicoterapia proporciona um espaço seguro para que possamos explorar nossas emoções, questionar nossos padrões de pensamento e reconhecer nossas forças e vulnerabilidades. Esse trabalho constante nos permite lidar com os desafios da vida de maneira mais equilibrada, sem esperar que problemas cotidianos se transformem em crises profundas.

 

Ao mergulharmos nesse processo, estamos nos conectando com nossa autenticidade e aprendendo a nos aceitar como somos de tal maneira que esse autoconhecimento, construído em um ambiente de empatia e compreensão, nos ajuda a enfrentar as adversidades com resiliência e criatividade.

 

Mais do que isso, ele nos permite desenvolver relações mais genuínas e significativas com os outros, já que aprendemos a nos reconhecer e, consequentemente, a compreender melhor aqueles ao nosso redor.

 

Infelizmente, ainda vivemos em uma sociedade que frequentemente trata a saúde mental como algo secundário ou como um tema cercado de estigmas. Essa visão restrita faz com que muitos só busquem ajuda quando enfrentam sofrimento intenso, deixando de aproveitar os benefícios de um cuidado preventivo. No entanto, assim como não esperamos ficar gravemente doentes para adotar hábitos saudáveis, também não deveríamos esperar o colapso emocional para cuidar de nossa mente.

 

O investimento em um processo psicoterapêutico contínuo é uma forma de prevenção que reduz o impacto de situações estressantes e nos fortalece para lidar com os desafios inevitáveis da vida.

 

Mais do que uma necessidade emergencial, a psicoterapia é um convite para o crescimento. Ela nos permite olhar para dentro com coragem e gentileza, reconhecer nossas contradições e transformar nossos medos em aprendizado. Esse trabalho não é uma tarefa simples ou rápida, mas é um compromisso profundo com o próprio bem-estar. Quando nos permitirmos essa jornada de autodescoberta, estamos nos aproximando cada vez mais de nossa essência, aprendendo a viver de forma mais plena e autêntica.

 

Portanto, o cuidado com a saúde mental não deve ser visto como um privilégio ou uma solução para momentos de crise, mas como uma prática essencial para todos. Ao nos comprometermos com um processo terapêutico contínuo, estamos escolhendo não apenas cuidar de nossas emoções, mas também cultivar uma vida mais alinhada com nossos valores e aspirações.

 

É nesse movimento de autocompreensão que reside a verdadeira força da saúde mental: a capacidade de crescer, de se transformar e de viver com propósito. Afinal, como nos ensinou Carl Rogers, o caminho para o bem-estar está na aceitação de nós mesmos, exatamente como somos, enquanto nos abrimos para tudo aquilo que podemos vir a ser.

 

Ariadne Castro Camargo é professora, psicóloga clínica humanista.



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