Segurança preocupa usuários; delegado aponta “grandes riscos”

Os passageiros que utilizam os aplicativos como Uber e 99 para viagens de motos justificam a escolha com dois motivos: preço mais acessível e menor tempo de deslocamento. No entanto, a falta de segurança que acompanha o trajeto assusta e até afasta os clientes. 

 

Em 2024, mais de 70% dos acidentes de trânsito com vítimas fatais na região metropolitana de Cuiabá tiveram envolvimento de motocicletas, de acordo com o delegado Christian Cabral, da Delegacia de Delitos de Trânsito (Deletran). 

 

No mesmo ano ocorreram 11.824 acidentes de trânsito com motociclistas no Estado, de acordo com dados da Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp-MT). 

 

Mariana Sampaio, de 21 anos, é uma dessas pessoas que pararam de utilizar o serviço. Depois de se envolver em um acidente com o motociclista que a transportava, ela nunca mais utilizou a opção das empresas. 

 

“Eu nunca mais peguei depois que eu sofri o acidente. Eu tenho muito medo. Eu acho que eu não andaria de novo, não”, diz a jovem. 

 

O acidente ocorreu quando ela ia para o trabalho. Em certo momento um carro saiu em disparada de um estacionamento na calçada, sem aviso prévio. O motociclista não teve tempo de frear, nem conseguiu ir para o lado, já que poderiam ser atropelados por outros carros, e bateu no veículo. 

Eu nunca mais peguei um uber moto depois que eu sofri o acidente. Eu tenho muito medo. Eu acho que eu não andaria de novo, não

 

Com o impacto da batida, Mariana caiu da moto, e acabou se machucando. Apesar de os ferimentos não terem sido graves, ela sentiu falta de uma ferramenta de auxílio no aplicativo, caso situações como essa ocorram. 

 

“O aplicativo da Uber em si não tem nenhum tipo de segurança para isso. Eu acho que deveria ter algum respaldo, algum guia de informações do que pode ser feito em casos de acidentes, não só para quem está como carona, mas para o piloto também”, afirma. 

 

De acordo com Christian Cabral, a viagem com motocicletas de aplicativos podem ser muito perigosas. 

 

“O uso desse veículo como meio de transporte regular representa um grande risco à segurança de seus usuários e gera sérios impactos negativos na saúde pública e na seguridade social”, destaca. 

 

Ana Vitória, de 27 anos, é usuária do serviço e também já levou um susto durante uma corrida. Em seu caso, o motorista passava por uma descida que terminava com um quebra-mola, dando início a uma subida íngreme. 

 

Ao desacelerar, a motocicleta perdeu a força, por a jovem ser alta e pesada, e o piloto perdeu o controle, levando-os para a um tapume metálico em uma construção na calçada. 

 

“Na hora disso tudo eu consegui sair da moto, porque ele estava bem devagar. Então eu saí enquanto a moto andava. Ele se ‘ajeitou’ e pediu para eu subir de novo. Eu estava tão atordoada com tudo que tinha acontecido que eu só subi na moto e continuei a corrida”, explica. 

 

A jovem ainda anda com o seu próprio capacete, pois já passou por várias situações em que os capacetes ofertados eram muito pequenos e velhos. 

 

Altas velocidades 

 

Outra questão abordada pelos passageiros entrevistados pelo MidiaNews é a velocidade com que alguns motociclistas fazem o trajeto. Apesar de escolherem a opção para chegarem mais rápido ao destino, eles reclamam que as normas de trânsito são desrespeitadas em vários momentos. 

 

De acordo com o delegado, os municípios podem estabelecer regras e restrições para o funcionamento de transporte remunerado privado de passageiros em motocicletas. 

 

“Primeiro, a Lei Federal número 13.640/18, que regula essa atividade, prevê tal poder aos municípios. Segundo, e não menos importante, quem acaba pagando os altos custos e suportando os impactos gerados na saúde pública decorrentes dos sinistros envolvendo esses veículos são justamente os próprios municípios”, explica. 

Teve uma vez que o motociclista chegou a 120 km por hora em locais inadequados. Eu disse para ele ir mais devagar e ele ignorou

 

O jovem Carlos Lessing, de 22 anos, utiliza o serviço por ser um meio mais econômico de se locomover, mas reclama de ultrapassagens perigosas, velocidades altas e capacetes inadequados. 

 

“Teve uma vez que o motociclista chegou a 120 km por hora em locais inadequados. Eu disse para ele ir mais devagar e ele ignorou. Acabei discutindo com ele e fiz uma denúncia ao Uber”, diz o jovem.

 

Ana Vitória diz que o limite de velocidade em avenidas como a Miguel Sutil, por exemplo, quase nunca é respeitado pelos pilotos. 

 

“Eu não sei porque muitos motociclistas andam tão rápido”, afirma André Luiz. “Acho que às vezes é muita pressa, quer deixar o passageiro pra pegar outra corrida… E isso faz com que o motoqueiro vá mais rápido, né?”. 

 

O que o passageiro pode fazer para ter uma viagem mais segura?

 

Sempre se apoiar bem na motocicleta. Usar as laterais e/ou o ombro do piloto como apoio para se manter mais firme, e se apoiar com as pernas é uma forma de garantir maior estabilidade do passageiro. 

 

Andar com o capacete com a viseira abaixada. Se algo bater no rosto do passageiro durante a corrida, como um galho, poeira ou inseto, não vai machucar os olhos.

 

Evitar mexer no celular durante a corrida. Um momento de desatenção pode causar um acidente, caso o motociclista precise fazer uma curva acentuada ou passar por um quebra-mola. A falta de atenção prejudica o apoio e, consequentemente, o equilíbrio da moto. 

 

Não autorizar o motociclista a pilotar em velocidades altas ou fazer ultrapassagens perigosas. Se houver uma situação como essa, o motociclista deve ser alertado. Caso ele não respeite, o passageiro deve encerrar a viagem e denunciar ao aplicativo. 

 

 



Mídia News